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domingo, 28 de janeiro de 2018

"Escute, meu amor"

A delicadeza com as palavras é uma maneira de preservar relacionamentos que os homens deveriam aprender com as mulheres

IVAN MARTINS
24/01/2018

Acho que não cometo uma inconfidência se contar que a minha namorada me chama de meu amor. É um jeito comum de tratar pessoas de quem a gente gosta. O que me chama a atenção, no seu caso, é que ela usa essas palavras mesmo no auge das discussões, mesmo quando está furiosa comigo.

O que isso significa?


Para mim, sinaliza uma espécie de incondicionalidade, uma trégua no interior do próprio embate: sim, estou brava com você, mas quero que você saiba que, mesmo agora, neste instante de raiva, meus sentimentos não mudaram, e fornecem um limite às nossas desavenças.

Essa delicadeza das mulheres com as palavras é uma força subestimada nas relações humanas. Falo da cultura feminina, evidentemente, não de personalidades. Há mulheres que se expressam com brutalidade e há muitos homens que fazem o contrário. Mas, no geral, a fala feminina tende a ser mais cuidadosa, evitando que discordâncias se transformem em confronto, raiva e divórcio de pontos de vista.

No dia em que as mulheres tiverem influência maior na condução do mundo, a suavidade será mais presente na conversa humana, e isso terá – eu acredito – influência positiva sobre o destino da civilização e do planeta. O jeito dos homens de fazer as coisas não tem sido bem-sucedido e parece caminhar para o esgotamento.

No interior dos relacionamentos não é diferente.

Os homens precisam aprender com a cultura feminina a preservar o afeto no meio dos conflitos. Ou resolver conflitos invocando o afeto. É fácil dizer eu te amo na noite de sábado, quando a lua brilha na janela do quarto e ninguém sente falta das roupas que ficaram na sala. Mas, na hora do embate e da decepção, quem consegue evitar palavras duras ou silêncio agressivo? Eu mesmo tenho dificuldade, e isso explica o naufrágio de alguns relacionamentos.

Se eu tivesse sido capaz, no momento adequado, de dizer uma palavra amorosa ou de fazer um gesto de conciliação, talvez alguns romances tivessem durado mais do que duraram.

A mim parece que são sempre as mulheres que passam a mão nos cabelos dos homens para acalmá-los depois de um desentendimento. São elas que põem a raiva de lado e nos procuram, no meio da noite, com um abraço de reconciliação. Será que o machismo nos impede de agir da mesma forma? Ou o ressentimento que carregamos contra o mundo nos compele a destruir afetos, em vez de preservá-los? Não sei.

Mas eu fico feliz – e comovido – quando percebo, do outro lado do meu relacionamento, uma pessoa capaz de gestos de paz que eu tenho dificuldade de achar em mim. Graças a ela, e às palavras amorosas dela, a gente pode amanhecer em paz, começar de novo e viver uma relação que não está livre de conflito, mas que tampouco será consumida por ele. Um dia, juro que aprendo a fazer o mesmo, em benefício da minha namorada e, sobretudo, de mim mesmo.

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