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sábado, 22 de dezembro de 2012


O trabalho e a mulher

Ana Paula Padrão

Se alguma de vocês nunca se sentiu deslocada e até rejeitada por não perceber os códigos do mundo corporativo, parabéns

Neste fim de ano me lembrei muito de uma amiga que não vejo há tempos. Num momento difícil ela me mostrou um espelho. E me fez ver, no reflexo, quem eu era. Depois disso foram muitos anos de terapia. Terapia, digamos, ortodoxa. Mas a lição de autoajuda daquele dia ficou para sempre. Todos precisamos de amigos.

Foi um tempo sombrio. Eu me sentia inadequada no trabalho e fracassada como mulher. Um equívoco ambulante. Hoje sei que esse é um drama tipicamente feminino. Se alguma de vocês aí nunca pensou “sou uma fraude, um dia vão me desmascarar”, que levante a mão! Se alguma de vocês nunca se sentiu deslocada e até rejeitada por não perceber os códigos do mundo corporativo, parabéns. Eu nunca conheci uma mulher assim. Ou melhor, conheci sim. E ela se parecia com um homem!

Sejamos mocinhas. Não tolinhas. Foi o que minha amiga quis me dizer naquele dia. Não deixe sua auto-estima se derreter na frente do espelho. Repetindo minha amiga e correndo o risco de me transformar numa odiosa autora de artigos de autoajuda, elenco algumas regrinhas básicas para ser mulher e ser feliz no trabalho:

1 – Fazer o melhor que podemos em nossa função não é suficiente. O mundo não é justo. O mundo corporativo muito menos. Além de trabalhar bem é preciso entender politicamente o local em que se trabalha. Seja correta, não certinha.

2 – Trabalhar 24 horas por dia só te leva a virar uma chata. Já foi chique, mas esse tempo passou.  Fazer o seu trabalho e o do companheiro espertinho não te levará a ganhar pontos na empresa. E aumentará sua culpa em casa.

3 – Para ser uma mulher forte você não precisa ser uma mulher dura. Suavize-se. Você é uma mulher, afinal. No trabalho e em casa.

4 – Não peça permissão o tempo inteiro para fazer o que deve ser feito. Ser líder e ser mulher é se sentir confortável emitindo sua opinião, mesmo sendo a única mulher na sala. Do trabalho ou de casa.

5 – Não espere ser reconhecida pela sua imensa dedicação. Principalmente se seu chefe for um homem. Ele provavelmente morre de medo de avaliá-la. Provavelmente teme uma reação emocional a uma crítica ou uma acusação de assédio a um elogio. Dê uma chance a ele.

6 – Todas somos capazes de entender as regras não escritas do trabalho. Basta observar, coisa que mulheres fazem muito bem. O problema é que na maioria das vezes reagimos aos códigos por considerá-los inadequados a nós. Não espere que a empresa mude por sua causa. Aceite-a, torne-se uma líder e então mude-a.

7 – Seja generosa com as mais novas. Elas não precisam passar pelo que passamos. Se você já aprendeu, ensine. Objetivamente.

8 – E, finalmente, converse com suas amigas.  Conversar é como estar de frente para o espelho. Nas conversas, organizadas ou não, nos reconhecemos como geração. Nos consolamos com a perspectiva histórica e com nosso papel nesse momento. O papel de estimular a diversidade e abrir novas portas.

Se eu pudesse voltar àquele tempo, teria aproveitado melhor o espelho. Minha imagem seria mais suave. Não teria demorado tanto tempo para me parecer comigo mesma. Minha vida emocional teria sido mais rica. E o trabalho teria tido o tamanho que de fato tem. O de mais um elemento da vida de qualquer mulher.

Ana Paula Padrão é jornalista e apresentadora

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