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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Afinal, o que é que a gente quer?

"Mais difícil do que identificar o que desejamos é agir de acordo com o que queremos" 
Por Renata Gervatauskas
Das mentiras que todos contam, “homens querem sexo, mulheres querem amor” é uma das maiores e a gente já sabe disso há algum tempo. Ninguém é apenas uma coisa e quase todo mundo precisa de quase tudo um pouco (ou muito).

Os desejos de ambos os sexos divergem entre si e entre os próprios gêneros porque nesse tempo cruel - porém importantíssimo - de transição de costumes, comportamentos e mentalidades pelo qual passa a nossa sociedade, fica muito difícil saber, de verdade, o que queremos e como queremos, ou de enquadrar os mais variados anseios em pequenos combos com rótulos. Somos, individualmente, muito diferentes uns dos outros. Somos diferentes até de nós mesmos.

Se fizéssemos uma retrospectiva nos surpreenderíamos com o que pensávamos da vida ao longo da nossa história. Mais difícil do que identificar o que desejamos é agir de acordo com o que queremos, sem nos atrapalhar com o medo, ou com as nossas contradições, sendo honestos com nós mesmos, livres das máscaras e dos escudos que usamos para nos defender do peso de nossas escolhas.

Por isso, muitas vezes nos perdemos entre os padrões estabelecidos e a nossa vontade de mudar. Foi por isso que me matriculei no curso “Afinal, o que querem as mulheres?”, na Casa do Saber, em São Paulo. Trata-se de um círculo de palestras com ilustres personalidades especializadas no assunto, entre elas Ana Paula Padrão, que comanda um dos maiores sites femininos do Brasil, Fernando Luna, da Revista TPM e Regina Navarro Lins, psicanalista e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual.

Um dado que me chamou a atenção, logo na primeira aula, foi o contraste entre o número de mulheres e homens inscritos no curso. Entre aproximadamente 20 pessoas, pasmem, apenas dois homens têm frequentado as aulas, o que me dá a impressão de que uma das coisas que os homens não querem é saber, afinal, o que querem as mulheres. Perdoável, se considerarmos que até Freud morreu sem saber. De qualquer forma, nada é regra e estão lá dois preciosos exemplos para nos provar que ainda há esperanças: existem sim, homens dispostos a tentar nos entender.

Voltando ao curso, Ana Paula Padrão apresentou estatísticas interessantes, que infelizmente mostram que ainda há muita desigualdade nas relações entre gêneros. A ala feminina ainda acumula a maior parte do trabalho doméstico, embora 42% da renda familiar já venha da mulher, pelo menos na classe média. Mas o que realmente me surpreendeu foi a resposta das mulheres à pergunta: “Você gostaria de deixar o seu trabalho para se dedicar apenas à família?”. 70% das mulheres de classes D e E, 60% das mulheres de classe C e 69% das mulheres entrevistadas na classe A/B responderam que não.

Ou seja: mesmo com o acúmulo de funções, a mulher brasileira não abre mão de manter a sua autonomia. Ao desenrolar das aulas vejo que, mesmo diante de tantas dificuldades, somos mulheres fortes, sim, mas não heroínas. O que desejamos? Incinerar o uniforme (in)justo de Mulher-Maravilha-boa-em-tudo que nunca nos serviu, não porque estejamos gordas, mas porque ele está ultrapassado, velho, puído e fora de moda. E quebrar os pratos todos em vez de tentar equilibrá-los sozinhas, numa espécie de grito que diz “amamos vocês, mas estamos aqui e queremos parceria”.

Observe que eu não usei a palavra ajuda. Eu disse parceria. Quando falamos “ajuda” pressupõe-se que a obrigação era nossa e que o outro está ali, com toda a sua boa vontade, nos fazendo um favorzinho, apenas. Regina Navarro, de quem sou fã, explicou que uma mentalidade pode levar até 150 anos para mudar. Ok, paciência (mas não muita).

Estou bem feliz com o curso e com o rumo que as coisas andam tomando com relação às desigualdades. Demora, mas rola. Tenho visto muitos exemplos de gente que rema pra sair do que está estabelecido, tanto mulheres quanto homens.

Os dois inscritos no curso são exemplos disso. Independente de sua motivação, considero os dois muito inteligentes, porque suspeito que ser compreendida seja um dos desejos mais latentes para as mulheres de todos os tempos e eles estão ali, comparecendo.

Ainda bem.
perfil Renata Gervatauskas - blog da Ruth (Foto: ÉPOCA)

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