- Thiago Luiz e Pâmela estão casados há dois anos e o salário dela cobre a maior parte das despesas
Thais Carvalho Diniz
Do UOL, em São PauloÉ cada vez mais comum encontrar famílias que têm na mulher seu principal provedor, seja por elas ganharem mais do que seus maridos ou por eles não terem nenhuma remuneração. Segundo especialistas entrevistados pelo UOL Comportamento, a tendência é que o sexo feminino assuma cada vez mais esse papel, o que pode assustar os homens, dependendo da forma como o casal enxerga essa transformação.
"A sociedade está caminhando para o equilíbrio dos papeis do casal. E o fato de a mulher ocupar um novo status deixa o lugar do homem no mundo abalado. Pode ser difícil para eles aceitarem, se adaptarem e se conformarem com essa nova situação, mas vamos caminhar para uma realidade cada vez mais igualitária", afirma Rogério Baptistini, sociólogo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
De acordo com a amostra "Síntese de Indicadores Sociais" do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em relação aos casais sem filhos, o índice de chefia feminina passou de 4,5% em 2001 para 18,3% em 2011; já entre os que têm filhos, subiu de 3,4% para 18,4%, no mesmo período. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) aponta que 37,4% das famílias têm como pessoa de referência a mulher. Os números foram divulgados em 2012 e mostram um crescimento de mais do que quatro vezes nos últimos dez anos.
Para Baptistini, esses números são reflexos dos processos industriais e culturais que acontecem no mundo há mais de 60 anos.
"Toda a dinâmica da humanidade e os fenômenos culturais foram dissolvendo a família tradicional e favoreceram a mulher a assumir a linha de frente da família. Em alguns casos, para mulheres de classes mais baixas, esse papel se deu quase 'à força', com a ciência de seus valores e de serem o verdadeiro arrimo de família, por não terem em quem se apoiar e, muitas vezes, estarem sozinhas", diz.
Entretanto, para muitos, o homem ainda deve ser o principal provedor do lar, e quando esse novo cenário se impõe, é preciso diálogo para evitar possíveis problemas e desconfortos no relacionamento.
"O problema passa a existir quando o casal não se adapta à situação que criaram e não entendem que aquilo pode ser momentâneo. A vida é dinâmica e, com o passar dos anos, as necessidades mudam e é preciso que o casal mude junto. Caso contrário, haverá uma inevitável distância entre eles", diz Patrícia Spada, psicóloga clínica e especialista em dinâmica familiar da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Há dois anos juntos, Pâmela Crepaldi, 30, e Thiago Luiz, 33, enfrentaram a diferença salarial pendendo para o lado feminino desde o início. O casal se conheceu no trabalho, onde ela, terapeuta ocupacional e coordenadora de uma equipe de saúde, tinha um cargo superior ao dele, educador físico. Por conta disso, a questão salarial era explícita, o que não é visto como um problema para ela.
"Sempre conversamos abertamente sobre isso e, para mim, essa situação é tranquila. Vejo no meu marido uma pessoa muito batalhadora e que está lutando para conseguir melhorar cada vez mais seu espaço no mercado de trabalho. Ficaria muito incomodada e não aceitaria essa condição caso percebesse que ele está acomodado", declara.
- Maria José Azeredo, 50, assumiu a família quando o marido Rogerio Azeredo, 51, entrou em depressão
A administradora Maria José Azeredo, 50, se viu à frente de sua família há mais de 15 anos,quando seu marido Rogerio Azeredo, 51, entrou em depressão devido ao fracasso da carreira musical.
"Aconteceu e fomos tocando. Em uma situação como essa, não para dá para sentar e decidir nada. É pegar ou largar. Eu optei por segurar minha família e nos adaptamos. Assumir a responsabilidade financeira de um lar não é fácil, mas não me sinto chefe de família, o chefe é ele. Continuo me sentindo uma mãe [o casal tem duas filhas, Raphaela, de 24 anos, e Cecília, de 23] - e mulher que teve de assumir as rédeas da situação", conta.
Em ambos os casos, a diferença salarial não trouxe problemas ao relacionamento. Para a psicóloga Patrícia Spada, é preciso haver disposição e disponibilidade do casal para que prevaleça a parceria e não a rivalidade.
"Alguns têm vergonha da situação e não querem falar sobre isso, mas também têm dificuldade de sair dela –não se submetem a 'qualquer emprego', não querem ganhar 'ninharias', não pedem ajuda aos amigos e quando têm não aproveitam, e, dessa forma, se mantém sustentados", explica ela.
Foi exatamente essa situação que envolveu o casamento de Maria Stela*, 50, e o ex-marido, que ficaram juntos por mais de duas décadas e estão separados há quase um ano. Quando ele ficou desempregado pela primeira vez, encararam com naturalidade, afinal, como ela mesmo definiu, muitas famílias passam por isso. Os problemas começaram por conta da situação financeira e pelas repetidas vezes que ele ficou sem trabalho, segundo Maria.
"Cobrei dele mais atitude, dizendo que seria necessário ele trabalhar porque não estava dando conta sozinha financeiramente. Daí para frente, começaram as discussões. Sempre que falava para ele conseguir um emprego, se ofendia. Dizia que não sairia de casa para ganhar pouco. Acho que acabou se acomodando com a situação. Qualquer relacionamento para dar certo os dois devem ter os mesmos objetivos. Eu me sentia remando sozinha", conta.
O psicólogo social Caio Colombo, da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), diz que é importante tratar com naturalidade, diante dos filhos, o fato de ser a mãe a principal fonte de renda da casa, e diz que outros fatores emocionais devem ser colocados como prioridade para a família.
"Quem traz o dinheiro para casa não é importante. Pode ser a mãe, o pai ou os dois. O que realmente tem relevância é se todos se querem bem, se sustentam e constroem uma atmosfera de respeito no lar. No casal e na família, a lógica deve ser de cooperação e não de competição", diz.
Em entrevista concedida ao UOL, a jornalista e escritora norte-americana Liza Mundy diz que, segundo suas pesquisas, o número de lares mantidos por mulheres nos Estados Unidos superará o de sustentadas por homens na próxima geração, afetando até a vida sexual dos casais.
"Em alguns casos, a vida sexual dos casais se torna mais problemática quando a mulher é mais bem-sucedida do que o homem, mas a longo prazo acho que a independência financeira tornará a mulher mais segura sexualmente. Os casais, às vezes, precisam encontrar formas de restaurar o equilíbrio. Eles precisam encontrar modos diferentes dos homens se sentirem masculinos e as mulheres se sentirem femininas. Mas não é assim tão difícil", afirma.
Liza estuda as questões de gênero há mais de 20 anos e é autora de "Michelle, A Biography" (biografia da primeira-dama dos Estados Unidos, livro que entrou para a lista dos mais vendidos do "The New York Times").
* O sobrenome foi omitido para preservar a personagem
http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2013/09/30/numero-de-familias-mantidas-por-mulheres-cresce-e-assusta-homens.htm
Em ambos os casos, a diferença salarial não trouxe problemas ao relacionamento. Para a psicóloga Patrícia Spada, é preciso haver disposição e disponibilidade do casal para que prevaleça a parceria e não a rivalidade.
"Alguns têm vergonha da situação e não querem falar sobre isso, mas também têm dificuldade de sair dela –não se submetem a 'qualquer emprego', não querem ganhar 'ninharias', não pedem ajuda aos amigos e quando têm não aproveitam, e, dessa forma, se mantém sustentados", explica ela.
Foi exatamente essa situação que envolveu o casamento de Maria Stela*, 50, e o ex-marido, que ficaram juntos por mais de duas décadas e estão separados há quase um ano. Quando ele ficou desempregado pela primeira vez, encararam com naturalidade, afinal, como ela mesmo definiu, muitas famílias passam por isso. Os problemas começaram por conta da situação financeira e pelas repetidas vezes que ele ficou sem trabalho, segundo Maria.
"Cobrei dele mais atitude, dizendo que seria necessário ele trabalhar porque não estava dando conta sozinha financeiramente. Daí para frente, começaram as discussões. Sempre que falava para ele conseguir um emprego, se ofendia. Dizia que não sairia de casa para ganhar pouco. Acho que acabou se acomodando com a situação. Qualquer relacionamento para dar certo os dois devem ter os mesmos objetivos. Eu me sentia remando sozinha", conta.
O psicólogo social Caio Colombo, da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), diz que é importante tratar com naturalidade, diante dos filhos, o fato de ser a mãe a principal fonte de renda da casa, e diz que outros fatores emocionais devem ser colocados como prioridade para a família.
"Quem traz o dinheiro para casa não é importante. Pode ser a mãe, o pai ou os dois. O que realmente tem relevância é se todos se querem bem, se sustentam e constroem uma atmosfera de respeito no lar. No casal e na família, a lógica deve ser de cooperação e não de competição", diz.
Em entrevista concedida ao UOL, a jornalista e escritora norte-americana Liza Mundy diz que, segundo suas pesquisas, o número de lares mantidos por mulheres nos Estados Unidos superará o de sustentadas por homens na próxima geração, afetando até a vida sexual dos casais.
"Em alguns casos, a vida sexual dos casais se torna mais problemática quando a mulher é mais bem-sucedida do que o homem, mas a longo prazo acho que a independência financeira tornará a mulher mais segura sexualmente. Os casais, às vezes, precisam encontrar formas de restaurar o equilíbrio. Eles precisam encontrar modos diferentes dos homens se sentirem masculinos e as mulheres se sentirem femininas. Mas não é assim tão difícil", afirma.
Liza estuda as questões de gênero há mais de 20 anos e é autora de "Michelle, A Biography" (biografia da primeira-dama dos Estados Unidos, livro que entrou para a lista dos mais vendidos do "The New York Times").
* O sobrenome foi omitido para preservar a personagem
http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2013/09/30/numero-de-familias-mantidas-por-mulheres-cresce-e-assusta-homens.htm
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