Por Olga
A expressão “mulheres reais” criou raízes fortes no tópico beleza. Hoje, ela representa quem aceita seu corpo da forma que ele é. Foi importante existir esse movimento estimulante de autoestima. Principalmente num cenário em que a segurança feminina é esmagada por mensagens de que sempre é necessário melhorar – seja com uma nova dieta, um novo cosmético, um novo corte de cabelo (já percebeu que é sempre *aquele* que não funciona de jeito nenhum com nosso tipo de fio?). Hoje, no entanto, surge a seguinte dúvida: quem apontou para aquelas silhuetas e disse que “tudo bem aceitá-las” não dá a entender que elas têm um problema, em primeiro lugar?
Vamos eliminar esse dilema ampliando o significado do que é uma mulher real. Afinal, a modelo que desfila seus 49 kg, 1,85 m, nenhuma barriga e pele de bebê também é uma mulher real, certo? Magra, gorda, alta, baixa… Nenhuma mulher é imaginária. Então não falemos de beleza real, falemos de vidas reais!
Vamos mudar o foco e observar o conceito no campo do comportamento. As mulheres atualmente buscam por inspirações mais verdadeiras, que oferecem diálogos mais francos, que se mostrem “gente como a gente”.
Até os anos 2000, a insegurança feminina era muito maior. Existia um sentimento de insuficiência constante, a ideia de elas não eram boas o suficiente pairava no ar. Não à toa, o mercado de auto-ajuda, com temas corriqueiros como conquistar um namorado ou ser poderosa no trabalho proliferou.
Nesse momento, existiam dois modelos máximos de inspirações femininas que podem ser representados aqui pela modelo Gisele Bündchen e a editora de moda da Vogue Anna Wintour. A primeira é bonita, rica, desfilava pelos tapetes vermelhos mais importantes do mundo ao lado de namorados igualmente bonitos, ricos e famosos. A segunda trata-se de uma mulher com características profissionais tidas como mais… Masculinas. É workaholic, exigente, temperamental, ambiciosa. Os dois tipos são aspiracionais. Ou seja, é como se as figuras fossem coladas no board das mulheres de alguém que gostaríamos de ser um dia.
A nova década trouxe novas conquistas: e uma ponta de segurança e auto-confiança desabrochou nas mulheres. Se gostando mais, elas anseiam por novos ícones. Projetos interessantes que surgiram na internet se propõem a dialogar com as mulheres de uma nova forma: não são conversas verticalizadas, e sim horizontais, em que a autora se coloca no mesmo lugar da leitora. Não há listas (10 maneiras de…) ou segredinhos (como conquistar…?).
Agora, elas procuram suas iguais na TV, nas revistas, nos cinemas. Celebridades de vida inatingível ou que mantêm uma persona pública roteirizada estão perdendo a força. A mulher do momento, a líder para com que o público feminino quer olhar e seguir, é nada mais do que um reflexo do espelho. O comum, o humor, a sinceridade, a humildade são buscados.
Visuais ditos imperfeitos – corpo fora do padrão e cabelos naturais – fazem parte de grande produções de TV, como no seriado Girls. No entanto, o mais interessante é que a silhueta da personagem Hannah, interpretada por Lena Dunham, não se torna o foco de discussão (pelo menos não dentro do roteiro). Eles estão lá, como figurantes e não personagem principal. Ele não é o tema central da personagem e nem um obstáculo a ser superado. Não há a transformação da gata borralheira em princesa, não há a redenção no fim para aquelas que passaram por um extreme makeover. As questões são outras: auto-conhecimento, maturidade, a entrada na vida adulta. Os sonhos não estão ligados apenas a beleza exterior ou a conquista de homens.
Outro exemplo que explica bem o zeitgeist é o filme teen Pitch Perfect, que conta a história da universitária Becca. Seu sonho é largar a faculdade para ser DJ e o filme mostra toda sua jornada na tentativa de encontrar a sua voz (na vida e em um coral da universidade). Não é um filme pautado por tendências de moda ou pela típica dualidade entre as garotas populares e as garotas nerds. Trata-se de um grupo de meninas, com histórias de vida diferentes, mas que querem a mesma coisa: vencer o campeonato de canto. Há plots românticos, mas secundários. E Rebel Wilson, uma das novas caras de Hollywood e que veste plus size, é uma das grandes forças do filme. Se apresenta como Fat Amy (Amy Gorda) – “pois eu sei que vocês, bitches, vão me chamar assim mesmo pelas minhas costas”. O Village Voice escreveu em uma crítica sobre o filme: “as meninas são genuinamente engraçadas, esquisitas, reais e, o mais legal, confiantes”. Felizmente, são com essas mulheres que as adolescentes de hoje vão crescer.
No dia-a-dia, também vemos algumas figuras públicas seguirem pelo caminho da “mulher real”. Jennifer Lawrence, a atriz que conquistou o mundo com suas sinceridades sobre Photoshop, seu humor ao lidar com o escorregão no Oscar e sua forma de lidar com Hollywood fora do castelo inalcançável das estrelas. Ela formula ideias espontâneas, não se prende a media training e respostas roteirizadas por assessores.
Esse vem sendo um movimento tão forte que afetou até o mundo da moda, o centro das “mulheres irreais”. A modelo da vez é Cara Delevingne. Brincalhona, não tem medo de fazer caretas, sair sem maquiagem em fotos ou assumir que come McDonald’s. Coisas simples que fazem parte da rotina de grande parte das mulheres, agora também são assumidamente feitas por quem cruza a passarela com lingerie Victoria’s Secrets.
Se você quer iniciar uma conexão com o público feminino, não se pergunte como as mulheres gostariam de ser. Simplesmente observe como elas são.
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