Você é o máximo, Cate Blanchett.
Ela já era uma de minhas atrizes favoritas. Mistura rara de talento, inteligência, charme, classe, elegância e beleza. Nenhum desses atributos é redundante. Cada um tem seu lugar. E combinar tudo é para poucas ou poucos.
“Você faz isso com os homens?”, perguntou assim a atriz australiana, de repente, abaixando-se e botando o dedo na cara de um cinegrafista do canal de entretenimento E! no SAG Awards no último fim de semana, na Califórnia (EUA).
Dirão muitos. Ah qual é? Que chilique. Não é estrela, atriz, celebridade? Não está desfilando no tapete vermelho? Como assim se chatear porque o cinegrafista está fazendo o seu papel? Filmando-a dos pés à cabeça, surfando a câmara pelas pernas, cintura, seios e rosto? Devagar, em detalhe...
Cate não fez nenhum barraco. Apenas, num evento tão convencional, surpreendeu com um sorriso irônico perguntando o que talvez tenha tido vontade de perguntar inúmeras vezes.
E aí, você faz isso com os homens? Você chega bem pertinho e filma "the guys" em close, dos sapatos lustrosos, subindo devagar pela panturrilha, coxas, nádegas, barriga, peitoral, pescoço, rosto e cabelos...?
É mesmo uma pobreza essa obsessão mundial em registrar os furos de celulite numa, a magreza da outra, os músculos e veias numa, as rugas na outra, a barriga numa pose desfavorável numa, os cabelos despenteados ou grisalhos da outra, os seios caídos numa, os seios empinados da outra, a calcinha de uma ou a falta de calcinha de outra, a tristeza de uma, a solidão de outra.
Uma perseguição muito mais implacável do que aos homens. Lembremos as diferenças de assédio ao Príncipe Charles e à Princesa Diana. Como foram tratadas pela imprensa as infidelidades e peripécias de um e de outro?
Uma vez, em 2002, a saudosa Anita Roddick - fundadora e executiva da Body Shop, morta prematuramente aos 64 anos, de um derrame - me disse, numa conversa em Littlehampton, na Inglaterra: "Quando vou dar uma palestra, já sei. Vão reparar primeiro nas minhas pernas, nos meus sapatos, nos meus cabelos, na minha roupa...e, depois, nas minhas palavras". Ela também reclamava da obsessao estética com a mulher e com a tal de celulite: "Mulheres retêm líquido, não tem jeito. Magras ou gordas, acabam com celulite em maior ou menor grau. A única coisa a fazer é massagear a pele com um pano áspero e sal para ativar a circulação. E a mídia alimenta, sim, essa obsessão, tirando fotos com uma luz tal que salienta a celulite. Nenhuma revista ressalta a pele envelhecida dos homens, só a das mulheres".
Nada grave...mas a patrulha com a mulher, famosa ou não, satura a paciência.
A frase de Cate pode ser usada em situações mais sérias. Por exemplo: Você paga menos aos homens pela mesma função? Do you do that to the guys?
Cate protestou recentemente, na TV britânica, contra a desigualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho. A atriz lembrou que, segundo pesquisas mundiais, elas ganham 30% menos que eles exercendo a mesma função.
Poucas vezes escrevo em minha coluna de EPOCA sobre filmes. Dois artigos meus falam dela como protagonista. Em Benjamin Button ("O tempo vence todas as nossas trapaças") e em Blue Jasmine ("A queda").
Continue fazendo isso com a gente, Cate. Brilhando dentro e fora da tela.
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