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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Rede de apoio a colombianas vítimas de violência ganha prêmio da ONU

Voluntárias ajudam mulheres a superar agressões e denunciar crimes.
Rede Borboletas atua em cidade com alta taxa de deslocamento interno.

Marina Franco
Do G1, em São Paulo
Dezenove mulheres coordenam o trabalho da Rede Borboletas, na Colômbia, que ganhou o prêmio Nansen nesta sexta-feira (11) (Foto: ACNUR / L. Zanetti)
Dezenove mulheres coordenam o trabalho da Rede Borboletas, na Colômbia,
que ganhou o prêmio Nansen nesta sexta-feira (11) (Foto: ACNUR / L. Zanetti)
Uma organização colombiana que ajuda mais de mil mulheres vítimas da violência do conflito armado na Colômbia ganhou nesta sexta-feira (12) o Prêmio Nansen de Refugiados, oferecido pelo Alto Comissariado da ONU para refugiados, o Acnur.

Formada em 2010 por mulheres que carregam um histórico de extrema pobreza e agressão doméstica, a Rede Borboletas com Novas Asas, Construindo um Futuro atua em Buenaventura, cidade portuária banhada pelo Oceano Pacífico, considerada a mais violenta da Colômbia, segundo relatório da Human Rights Watch, e com uma das maiores taxas de deslocamento interno no país.

A rede atende mulheres vítimas de agressões e do deslocamento forçado a se recuperar de agressões e denunciar os crimes que sofreram. As cerca de 100 voluntárias visitam as comunidades de Buenaventura a pé, de ônibus ou bicicleta para conversar com as vítimas e ajudá-las a procurar ajuda médica, oferecer apoio psicológico e aconselhar a denúncia dos crimes à justiça, apesar do medo da proximidade com os agressores.

A coordenadora da Rede Borboletas Mery Medina ajuda as mulheres de Buenaventura a dar queixa dos crimes e as guia no acesso à Justiça (Foto: ACNUR / J. Arredondo)
A coordenadora da Rede Borboletas Mery Medina
ajuda as mulheres de Buenaventura a dar queixa
dos crimes e as guia no acesso à Justiça
(Foto: ACNUR / J. Arredondo)
“O nosso trabalho do dia a dia é acompanhar essas mulheres. Quando uma mulher foi vítima de estupro nós a orientamos para que ela chegue onde tenha que chegar, seja ao Ministério Público ou ao hospital, mas isso com o consentimento dela”, disse Mery Medina, uma das coordenadoras da rede, em entrevista coletiva à imprensa brasileira realizada por telefone. “Também ensinamos que elas são autônomas de suas decisões e de sua vida”, conta.

Apenas na primeira metade deste ano, 11 mulheres foram assassinadas e brutalmente desmembradas na cidade, segundo dados oficias. Além disso, 153 casos de desaparecimentos forçados foram registrados entre 2010 e 2013. Tortura, estupro, escravidão sexual e humilhação pública também são recorrentes na cidade, diz a ONU.

Para conquistar a confiança das vítimas, a Rede Borboletas usa de um “processo ancestral”, segundo definem as coordenadoras, que é a de tornar-se comadres das mulheres agredidas. “Ganhamos a confiança das mulheres com isso. São como confissões”, diz Gloria Amparo. Para a rede, a relação de comadre permite que as vítimas recuperam sua autoestima e confiança. 

Maritza Cruz, da Rede Borboletas, lidera uma oficina semanal que instrui mulheres de Buenaventura sobre os seus direitos. (Foto: ACNUR / J. Arredondo)
Maritza Cruz, da Rede Borboletas, lidera uma oficina semanal que instrui mulheres de Buenaventurasobre os seus direitos (Foto: ACNUR / J. Arredondo)
A rede também oferece oficinas sobre práticas de geração de renda e leis que defendem direitos humanos, e organiza fundos comunitários entre mulheres de diferentes comunidades.

O nome da organização relaciona a transformação dessas mulheres ao se recuperar física e psicologicamente da violência sofrida ao processo de metamorfose das borboletas, explicam as coordenadoras. “Também porque somos muitas mulheres e somos diferentes. As borboletas também são diferentes e existem em diversos lugares do mundo”, diz Glória.

“Nesse processo tentamos deixar na metamorfose todas as coisas que não merecemos e não precisamos. Estamos renovando nossas asas porque o nosso projeto de vida é ser feliz”, diz Glória.

O comitê de seleção do prêmio Nansen tem representantes dos governos da Noruega e Suíça, do Conselho Europeu, do Conselho Internacional de agências de Voluntariado e do Acnur. O vencedor ganha US$ 100 mil.

Buenaventura

Um território em que a pobreza prevalece - estima-se que 80% dos moradores vivam em situação de pobreza e que 20% vivam em extrema pobreza, ganhando menos de US$ 2 por dia -, Buenaventura tem 370 mil habitantes e um cotidiano marcado por conflito armado, assassinatos, esquartejamentos e desaparecimentos.

Segundo relatório da Human Rights Watch, em 2013 mais de 13 mil moradores foram forçados a deixar suas casas na cidade, para fugir de ameaças de extorsão, morte e recrutamento às gangues armadas. O documento alerta para o fato de que "bairros inteiros da cidade se encontram sob o domínio de poderosas organizações que sucederam aos paramilitares".

Os dois principais grupos armados são herdeiros das desmobilizadas Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC, paramilitares) e travam um violento conflito pelo controle do território e do tráfico de armas e drogas.

Segundo dados do governo, a Colômbia é o 8º maior país de origem de refugiados do mundo – são mais de 108 mil - e tem a segunda maior população de deslocados internos, ficando atrás apenas da Síria. Entre seus deslocados internos, 80% são mulheres e pelos menos metade delas sofreram violência sexual.

Buenaventura é considerada a cidade mais violenta da Colômbia, segundo relatório da Human Rights Watch (Foto: ACNUR / L. Zanetti)
Buenaventura é considerada a cidade mais violenta da Colômbia, 
segundo relatório da Human Rights Watch (Foto: ACNUR / L. Zanetti)
G1

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