A contribuição da mulher advogada para a sociedade vem avançando a passos largos. Ela vem conquistando e alargando o seu espaço. A carreira jurídica é bastante simpática à condição feminina, mas, apesar do aumento crescente do número de mulheres no mercado, elas ainda são, entretanto, minoria em cargos de decisão. Escritórios de advocacia contam mais sócios homens em nível de senioridade do que mulheres, em desproporções significativas. No Judiciário, também reina a maioria engravatada.
O fato de o universo jurídico ser tradicionalmente liderado por homens não deve alimentar desinteresse ou falta de estímulo nas mulheres para alcançar cargos de direção. A mulher não é um ser acomodado, por natureza. Advogadas têm vencido batalhas, transposto barreiras, mostrado seu valor na luta diária. E essa atitude profissional destemida e responsável é que vem quebrando paradigmas, estreitando diferenças, desafiando convenções, combatendo preconceitos e discriminações.
O futuro reserva às mulheres, mais e mais, a assunção de postos liderança na área jurídica, consequência desse fenômeno de amadurecimento da sua convivência e de seu destaque no ambiente outrora tão masculino. O que pode mudar na profissão quando houver maioria feminina? O ideal seria o equilíbrio de poder entre homens e mulheres advogados, não somente sob o aspecto político, mas também do ponto de vista da autonomia econômica das mulheres. Sem querer abusar do clichê, ou do estereótipo de cada gênero, homens e mulheres, inclusive advogados, são absolutamente complementares. Embora aparentemente haja um predomínio das diferenças sobre as semelhanças, a percepção do ponto de equilíbrio pode ser extremamente saudável para a harmonização do exercício da profissão, cuja excelência extravasa o sexismo puro e simples.
No mundo corporativo, mulheres primam por relacionamentos mais aprofundados, priorizam os aspectos humanos, desenvolvem políticas de incentivo, estimulam e mobilizam equipes, são mais solidárias sob o ponto de vista emocional. Homens costumam ser mais objetivos, menos sentimentais, mais racionais diante de uma situação de conflito ou de pressão. São treinados para isso.
A principal diferença entre homens e mulheres reside no estilo de gestão e, nesse ponto, a combinação de estilos é a chave do sucesso. Mulheres por natureza dominam os processos conversacionais. Isso lhes outorga, por um lado, grande possibilidade de conhecer e melhor compreender as capacidades individuais de seu time, de facilitar a comunicação e, com isso, contribuir eficazmente na liderança de projetos, manter equipes coesas e integradas. Mulheres são normalmente dotadas de maior energia criativa, fazem mais networking, até pela sua facilidade de se comunicar. São mais cuidadoras, acolhedoras, reconhecem melhor o trabalho alheio, têm menos vergonha de perguntar ou de admitir aquilo que não sabem. Homens são criados para não errar, para não chorar, para seguir um modelo cultural segundo o qual a identidade masculina está associada à ausência de delicadezas ou de fragilidades.
Do outro lado da moeda, as mulheres controlam menos bem suas emoções e isso pode fazê-las tomar decisões precipitadas. Podem ser competitivas em demasia, especialmente com relação a outras mulheres e, mais especialmente ainda, no ambiente de trabalho. Mas o protagonismo feminino no segmento jurídico parece ter mais prós do que contras, num mundo que caminha para a composição de conflitos em substituição à disputa judicial, essa facilidade maior de contornar impasses, apresentar alternativas e conciliar pretensões discordantes pode fazer a diferença sob o aspecto relacional.
O que a liderança feminina pode trazer ao mundo jurídico, tanto nos negócios quanto nas disputas? O poder das mulheres reside em um conteúdo instintivo de primeira geração, intuição prática, numa misteriosa energia de ânimo, inteligência emocional aguçada, e um desejo irrenunciável de unir e de compor. Mulheres são seres multitarefas e conciliam com competência sua vida particular com a vida profissional. Mulheres assumem e tiram de letra a dupla jornada, ainda que não tenham uma auxiliar doméstica, pois o gerenciamento da casa está culturalmente sob sua responsabilidade e o padrão comportamental feminino, apesar da sobrecarga de trabalho, é o de manter o mesmo comprometimento para atender às necessidades de sua profissão e de sua família. Elas saem para caçar e voltam para alimentar a prole. São guerreiras, doces guerreiras.
A prevalência de advogadas ocupando postos de destaque pode vir a transformar o mundo jurídico, tanto sob o aspecto negocial quanto nas disputas, muito por conta de seu sexto sentido e de sua sensibilidade. Talvez até haja um entendimento pré-concebido de que a mulher, diante de uma adversidade, possa chorar, se desesperar e perder o foco, ainda mais se suas taxas hormonais não estiverem controladas, ou se o espelho refletir que ela ganhou alguns gramas.
É um pouco exagerado falar em marginalização, em o mundo enxergar as mulheres como cidadãs de segunda categoria. Não vejo assim. Considero simplesmente que no mundo corporativo os líderes costumam escolher outros líderes pela semelhança às suas próprias características. Por isso que homens tendem a escolher homens e mulheres tendem a escolher mulheres, de forma geral. Num habitat originalmente masculino como o jurídico, esse padrão se manteve durante anos.
O cenário tem mudado e os homens têm tido a oportunidade de perceber que essas diferenças engrandecem e enriquecem os repertórios dos escritórios de advocacia. Por fim, as mulheres vêm, mais e mais, conquistando o seu lugar em cargos de poder no mundo jurídico, propondo mudanças, construindo consciência da importância de suas aptidões, de sua capacidade organizacional e, acima de tudo, de sua competência profissional inconteste.
Márcia Setti Phebo é sócia sênior do escritório PLKC Advogados.
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