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domingo, 29 de novembro de 2015

Childhood Brasil divulga pesquisa com o perfil do caminhoneiro

O principal resultado deste estudo de 10 anos é a redução do relato sobre a experiência de sexo pago com menores de 18 anos

27/11/2015

A Childhood Brasil divulgou a terceira edição da pesquisa “O Perfil do Caminhoneiro no Brasil”, um estudo sequencial de 10 anos (2005 e 2010), que apresenta dados sociobiodemográficos, a profissão e a rotina, além de monitorar a mudança de percepção do caminhoneiro sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes (ESCA) nas estradas.

A pesquisa foi realizada com o propósito de aprofundar o entendimento sobre o problema e aprimorar as ações de sensibilização e enfrentamento, tendo como foco prioritário a participação dos profissionais que podem fazer a diferença, os caminhoneiros que rodam pelo país e que têm o importante papel de contribuir para acabar com a exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas.

O estudo, inédito no âmbito internacional, contou com a participação de 680 motoristas, todos homens, entrevistados nos estados de Sergipe, Rio Grande do Sul, Pará, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo.

O principal resultado após 10 anos é a redução do relato sobre a experiência de sexo pago com menores de 18 anos. A análise dos dados mostrou que o envolvimento dos trabalhadores do transporte rodoviário de cargas com a ESCA é situacional, moldado por variáveis pessoais (crenças), contextuais (influência do grupo social) e culturais (naturalização da situação ).

Em relação à exploração sexual de crianças e adolescentes, houve redução significativa no envolvimento dos caminhoneiros: 87,3% dos entrevistados afirmaram que nunca se envolveram em relação de comércio sexual com crianças ou adolescentes. Em 2010, esse número era de 82,1% e, em 2005, de 63,2%.

Saber que é errado/ser contra foi o principal motivo apontado pelos caminhoneiros (25,4%) para não sair com crianças ou adolescentes. O segundo foi respeitar as crianças (24,9%) e o terceiro, não ter desejo sexual (21,9%).

Desde 2010, a pesquisa também é realizada com caminhoneiros de empresas que participam do Programa Na Mão Certa e, nesse grupo, o percentual cada vez maior de argumentos de cunho moral/legal e pessoal prova a importância da informação, sensibilização e educação como formas mais eficazes do que a coerção.

Em 2015, 95% dos entrevistados concordaram que a prostituição é comum nos postos e estradas por onde andam e 79,1% afirmaram ser comum ver meninos e meninas menores de 18 anos sendo explorados Em 2010, esses valores eram 98,5% e 89,6%; e, em 2005, 99,2% e 93,7%, respectivamente. Trata-se do primeiro forte indicador de redução da percepção da exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas nos últimos anos.

“A pesquisa mostra que já houve grandes avanços na conscientização por parte dos caminhoneiros e empresas em relação ao tema”, explica Eva Dengler, gerente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil.

Questionados sobre a proteção às crianças e adolescentes, a pesquisa mostrou que em 2015, o conhecimento dos caminhoneiros sobre as leis e serviços de proteção teve diferentes variações em relação a 2010: nesse ano: 82,6% dos entrevistados conhecem o Conselho Tutelar; 66,2% conhecem o Disque100; 58% conhecem o Juizado; 55,8%, o Estatuto da Criança e do Adolescente; 21,9% os CREAS/CRAS e 21% a Delegacia da Criança e do Adolescente.

No entanto, ainda existem certas disparidades que tornam o grupo de caminhoneiros heterogêneo quanto ao envolvimento com o problema.

A primeira e mais alarmante é a regional. Os caminhoneiros dizem que a região onde há mais ESCA é o Nordeste (79,2%), seguido das regiões Norte (34,6%), Sudeste (10,2%), Sul (6,3%) e Centro-Oeste (5,8%). Em 2010 e 2005, as regiões foram citadas na mesma ordem.
A segunda variável é o vínculo com a profissão, delineando uma clara diferença entre profissionais autônomos e empregados/agregados. O autônomo está numa situação muito mais vulnerável, ficando suscetível às questões éticas, morais, sociais, econômicas e políticas.
O terceiro fator de diferenciação é a satisfação com as condições de trabalho – quanto piores as condições de parada, mais relatos de violação de direitos contra as crianças. Além disso, a categoria ainda vivencia problemas básicos, como falta de infraestrutura dos locais de parada e má qualidade das estradas.
Sobre a vida na estrada, a pesquisa mostra que quando estão parados, esperando por carga ou descansando na viagem, os caminhoneiros preferem dormir (73%), conversar com os amigos (70,1%), assistir televisão (44,6%), navegar na Internet (32,2%), fazer sexo (26,8%) e beber (20,7%). Em 2010, fazer sexo era a quarta atividade mais citada; em 2005, a sexta opção mais frequente.

Quando perguntados sobre o que deveria haver nos lugares de parada de parada e descanso, as demandas dos caminhoneiros continuam sendo por questões básicas. Em 2015, 83,9% dos caminhoneiros indicaram a necessidade de banheiros limpos; 56,8% de comida barata; 56,2% de comida boa; 45,1% de sala de TV; 42,8% de atendimento médico/dentário; 32,2% de bons quartos para dormir; 34,2% de sala de jogos; 31,9% de Internet; e 30,9% de local para atividade física.

“Constatamos, pela pesquisa, uma correlação entre os pontos de parada e  maneira como o caminhoneiro se comporta: quanto mais precário o ponto de parada, maior o comportamento de risco do caminhoneiro. Com estes resultados, seguimos com o desafio de trazer a reflexão geral sobre o papel dos embarcadores neste contexto relacionado aos pontos de carga e descarga e reforçar a necessidade de atuação do poder público em garantir o cumprimento da Lei 13.103/15 e a implementação prevista na Portaria 944 de 09/07/15”, explica Eva Dengler.

A Lei 13103/15 prevê que o profissional deve obedecer às horas descanso, daí a importância de um ponto de parada estruturado, com condições adequadas e seguras.

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