Sinopse
“Quando uma intelectual de 80 anos é confrontada com questões da velhice e da morte, ela se vê 30 anos antes enfrentando a morte de sua mãe. De forma poética, "Em Três Atos" contrapõe dança contemporânea, através de uma bailarina de 85 anos e uma jovem bailarina em seu auge , com diálogos inspirados nos escritos de Simone de Beauvoir sobre a velhice e a morte. O projeto pretende revelar a crueza de um corpo velho, e lida com a diferença entre a experiência de perder alguém para a morte e o medo de morrer. "Em Três Atos" é um filme sobre o ciclo da vida, que trabalha o “corpo” através do espetáculo de dança contemporânea e a “palavra” a partir de textos de Simone de Beauvoir, uma das intelectuais que mais refletiu sobre o tema do envelhecimento e da morte. Protagonizado por Angel Viana, um dos ícones da dança contemporânea nacional e que se apresenta no palco aos 85 anos, e Maria Alice Poppe, uma jovem bailarina no auge de seu vigor, o espetáculo de dança consegue contrapor sem clichês esses dois corpos.
No papel da intelectual aos 80 anos, que reflete sobre a velhice e a morte hoje está Nathalia Timberg e essa mesma intelectual, aos 45 anos, que vive a dor da morte da mãe, é interpretada por Andrea Beltrão.
Com uma proposta poética e lírica, “Em três atos” é um filme que trata de questões densas sob uma nova ótica.
Nota da diretora
Simone de Beauvoir diz em uma de suas entrevistas que um dos motivos que a levou a escrever o livro “A velhice” foi por ela mesma estar vivendo esse momento e que, por isso, sentiu necessidade de investigar a situação dos velhos na sociedade. Pelo mesmo motivo, decidi fazer o filme “Em três atos”. Pela minha formação como cineasta e também por ter sido bailarina na adolescência pensei em tentar exprimir essa sensação contrapondo o “corpo” e a “palavra”.
Simone de Beauvoir diz em uma de suas entrevistas que um dos motivos que a levou a escrever o livro “A velhice” foi por ela mesma estar vivendo esse momento e que, por isso, sentiu necessidade de investigar a situação dos velhos na sociedade. Pelo mesmo motivo, decidi fazer o filme “Em três atos”. Pela minha formação como cineasta e também por ter sido bailarina na adolescência pensei em tentar exprimir essa sensação contrapondo o “corpo” e a “palavra”.
A proposta do filme é muito mais levantar questões e apontar sensações do que dar respostas. Por isso, o que busco são as nuances e contradições observadas no corpo: a dor de ter perdido o vigor convivendo com a vida que está presente na velhice.
Sobre a palavra, a opção por trabalhar com textos de Simone de Beauvoir foi imediata. Não somente por ela ter escrito e pensado sobre o tema, mas também por ter sido uma das intelectuais mais importantes da minha geração.
Já conhecia o livro “A velhice”, onde a questão é tratada aprofundadamente mas, ao realizar a pesquisa, fiquei encantada com as muitas entrevistas que ela tinha dado sobre o tema. A vantagem de trabalhar com as entrevistas é que elas têm uma vivacidade maior para serem reproduzidas na tela do que um texto feito para ser lido.
Durante o trabalho de pesquisa, me foi sugerida a leitura de “Une mort très douce”, livro em que Simone de Beauvoir descreve a morte de sua mãe, já que a questão da morte está intrinsecamente ligada à questão da velhice. Desse trabalho surgiu a proposta do filme, em que o mesmo personagem aparece com 80 anos e com 50 anos, sendo que os textos dessa segunda parte se baseiam no livro “Une mort très douce”.
Do ponto de vista dramático, o personagem ganhou assim uma força considerável pois ele é visto nesses dois tempos: hoje, aos 80 anos, refletindo sobre a velhice e a sua morte, e aos 50 anos, experimentando a dor da morte da mãe. O contraste entre os dois momentos humaniza e traz mais complexidade ao personagem.
Mas persistindo na idéia de trabalhar também visualmente sobre a questão do corpo, decidi acrescentar duas bailarinas, Angel Vianna e Maria Alice Poppe que realizam uma performance contrastando seus corpos.
A força do espetáculo está não somente no vigor e capacidade técnica de Maria Alice, mas principalmente no despudor com que Angel se entrega no palco com seus 85 anos, sem intimidação.
Com isso, nós passamos a trabalhar com 4 personagens. A intelectual em dois momentos e as duas bailarinas. Entrecruzar esses personagens é o trabalho desse filme, que se define numa proposta presente no cinema contemporâneo, trabalhando com a liberdade que o tema exige.
Lucia Murat
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