28 out 2015
“A adolescência é um segundo parto. É um nascer da família para entrar na sociedade. É pertencer a um novo grupo social, a turma de iguais ou pares”. A frase do psiquiatra e educador Içami Tiba define bem esse momento de transição. Mas não é apenas a transformação social que impacta quem está iniciando essa nova fase. A adolescência envolve inúmeras mudanças físicas e psicológicas.
De acordo com a legislação brasileira, a constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade incompletos. Ambos são reconhecidos como sujeitos de direitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
São fases especiais, de plenas descobertas e de formação das referências e valores. Fazer a transição entre estes dois momentos da vida provoca um turbilhão de transformações, que fazem parte do processo de amadurecimento físico e emocional importante para a construção do adulto.
Lidar com uma nova imagem pessoal e com as mudanças significa entender e absorver o ganho de peso e altura, a redistribuição da massa corporal, alterações na voz, mudanças hormonais e o início das atividades sexuais. Segundo o educador Tiba: “o que caracteriza a adolescência humana é o desenvolvimento e amadurecimento das características sexuais secundárias, ou seja, a busca da vida sexual, mas não a reprodutiva.”
No lado psicológico, inicia-se um processo de desligamento da infância e da conquista da autonomia, o que inclui assumir suas próprias decisões e arcar com as consequências – algo novo para quem acabou de sair da infância.
A psicóloga Rosely Sayão, especialista em assuntos que envolvem crianças, adolescentes, pais e educadores, complementa: “Vamos reconhecer: passar pela adolescência, no mundo contemporâneo, não é fácil para os filhos. Eles sentem toda a pressão social em relação à aparência, para que sejam felizes, para que sejam apreciados por muitos de seus pares e para que estejam sempre conectados com o mundo virtual. São muitas as demandas que eles acreditam precisar atender para ter lugar no mundo, e buscam soluções por todos os lados para tanto.”
O livro Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, coordenado por Munir Cury, integrante da comissão redatora do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), afirma que apesar do consenso geral de que criança é criança e adolescente é adolescente, há ainda um caminho longo a ser percorrido no que se refere ao reconhecimento pleno das necessidades e limitações singulares da infância e da adolescência. Muitas vezes, as diferenças entre crianças e adultos é ignorada.
De acordo com Neil Postman, escritor e educador norte-americano, “é inconcebível nossa cultura esquecer-se de que necessita de crianças. Mas está a meio-caminho do esquecimento de que as crianças necessitam da infância”. A preservação da infância e adolescência, que muitas vezes dependem de um contexto social e cultural adequado para serem plenamente vividas, necessita da consciência de que infância e adolescência diferem-se substancialmente da vida adulta e, ao mesmo tempo, do reconhecimento de que cabe à sociedade em geral, e principalmente aos responsáveis, a responsabilidade pela proteção e desenvolvimento de crianças e adolescentes.
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