Big Little Lies é muitas coisas. E algumas que parecia ser, na realidade, não é. Sem dúvida, é uma série sobre mulheres. Mulheres que lutam contra muitas coisas, preconceitos, expectativas, tentações, o passado, agressões..., apesar de pertencerem a uma camada social em que pareceria que têm tudo solucionado. Suas enormes casas com paredes de vidro à beira da praia ocultam mais do que se supõe.
Embora a minissérie, produzida pela HBO, parta da investigação de um crime do qual não são revelados os fatos, a vítima e o culpado até o final, o assassinato é apenas uma mera desculpa para contar outras coisas. Na verdade, assim que se chega ao final fica patente que a investigação era o de menos, e até destoam tantos interrogatórios e comentários de supostas testemunhas ao longo da história. Porque nos sete episódios, o importante são elas. As personagens e as atrizes. E, acima de todas, Nicole Kidman, ao dar forma à história mais potente e mais bem retratada de todas as narradas em Big Little Lies – a série concorre a 16 categorias (incluindo o de melhor atriz para Kidman) no Emmy, marcado para acontecer no dia 17 de setembro.
No início, a série da HBO parece contar a fabricação de um crime, mas no final o que realmente nos estava mostrando é o retrato desprendido de uma mulher vítima de violência machista. Sua história termina tendo tanta força que permeia toda a série e se converte no verdadeiro tema de Big Little Lies. Acima das demais subtramas paira a sua. Ela é a que toca o coração do espectador. Sem entrar em muitos detalhes, o final dá sentido a tudo isso. Mesmo sendo um final com cabos soltos.
Big Little Lies reivindica a posição das mulheres na sociedade, na vida e, de passagem, nas séries. Porque não só Nicole Kidman, interpretando a personagem Celeste, volta ao olimpo por obra e graça da HBO. Também Reese Whiterspoon, uma das protagonistas e produtora desta história, brilha em seu papel. E Shailene Woodley. E mesmo a má da história, Laura Dern.
A série baseada no romance de Liane Moriarty, adaptado por David E. Kelley e dirigida em sua totalidade por Jean-Marc Vallée, tem personalidade. Tem ritmo próprio, tranquilo, mas sem pausa. Tem uma trilha sonora bem cuidada, uma imagem tratada com muito zelo, uma narração absorvente. Pode ser difícil entrar em seu mundo, é lógico: essa sensação de voyeurismo, entrando nas casas alheias, atrai e repele ao mesmo tempo. Mas uma vez dentro e uma vez que se entende o que nos querem contar, pode-se contemplá-la como uma grande série. E com uma história, como a da Celeste de Kidman, tão potente e poderosa que apaga tudo o mais.
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