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quarta-feira, 28 de novembro de 2012


As vitórias precisam, sim, de um nome

Bruno Astuto

A presidente Dilma ao lado de Joaquim Barbosa na cerimônia de posse

Entre os comentários sobre a posse do ministro Joaquim Barbosa como presidente do Supremo, notei vários que criticavam a imprensa por sublinhar o fato de ele ser o primeiro presidente negro da casa. Acusaram-na de racista, pois não haveria nada mais natural do que um negro alcançar o degrau mais alto do Judiciário por sua única e notável competência. Disseram que a cor da pele não deveria mais causar nenhum tipo de espanto – nem mesmo comemoração.
Numa mesa da qual participei recentemente, um intelectual disse que o Brasil “precisa parar com essa história de se dividir entre homens e mulheres, brancos e negros”. Que o fato de uma mulher ter chegado à presidência da República e um negro ter chegado à presidência do Supremo “não deveria ser mais levantado como bandeira ou motivo de júbilo”.
Num primeiro momento, esse discurso parece mesmo ter lá seu fundamento e angaria simpatizantes. Mas é só ter um mínimo de discernimento sobre nossa história e nossa sociedade para que ele caia por terra. Se essas duas situações fossem realmente tão naturais, por que elas até agora nunca aconteceram?
Porque, sim, embora a sociedade brasileira tenha evoluído muito, nos últimos sete anos, a participação feminina em cargos de alto escalão cresceu por aqui 4,2% contra 30%, por exemplo, na Noruega. Nesse mesmo período, a Central de Atendimento à Mulher recebeu 329,5 mil denúncias de violência enquadradas na Lei Maria da Penha, mais da metade relatando agressões físicas, das quais 70% partiram dos cônjuges e companheiros. A diferença salarial entre mulheres e homens também ainda é enorme, inclusive nas esferas mais altas: em médias, as CEOs das grandes empresas ganham 42% a menos do que seus colegas do sexo masculino, embora desempenhem a mesma função. Nos cargos mais baixos, essa discrepância chega a 63% em desfavor das mulheres.
Embora representem mais de 80% da nova classe média que emergiu nos últimos 10 anos e tenham aumentado sua participação na População Economicamente Ativa, os negros, por sua vez, recebem por hora, em média, 60,4% da remuneração paga aos não negros. Sua inserção no mercado de trabalho ainda ocorre principalmente nas ocupações menos especializadas e mal remuneradas.
Apenas por esses ínfimos dados e sem levantar a lebre do preconceito tanto contra negros quanto contra mulheres, será que dá mesmo para não comemorar o fato de Dilma e Joaquim Barbosa estarem à frente de cargos tão elevados na hierarquia nacional? Ou para fingir que o sexo da presidente da República e a cor do presidente do Supremo não existem, colocando o problema do preconceito para debaixo do tapete como algo menor?
O que está acontecendo no Brasil e em parte do mundo – remember Obama – é uma correção histórica. Correção contra 388 anos de escravidão negra e 432 anos em que a mulher foi alijada da participação política no país. Festejar esse esboço de correção significa dar-lhe a dimensão exata, positiva e magnífica que ele tem. Significa também celebrar o bom exemplo que deve se espalhar de cima para baixo e a luta de 500 anos de duas importantes parcelas da população até então marginalizadas e que enfrentam, dia após dia, as dificuldades que seu gênero e sua cor espantosamente ainda impõem.
Dilma não será melhor presidente por ser mulher, nem Joaquim Barbosa por ser negro. Mas terem chegado aonde chegaram, como mulher e negro, é um motivo de vitória para a sociedade brasileira. E toda vitória precisa, sim, de nome e sobrenome para que ela possa também ser saboreada futuramente pelos demais, os outros tantos demais, que ainda não gozam da igualdade de oportunidades.
E uma observação: tem como não se apaixonar por Dona Benedita, mãe de Joaquim Barbosa, que era todo sorrisos na posse do filho? Imagino o que passou na cabeça daquela mulher, sobretudo as renúncias que deve ter feito, quando, faxineira, lutava para dar uma boa educação ao seu pequeno Joca e seus irmãos. Ela foi, para mim, o personagem da semana.

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