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quarta-feira, 28 de novembro de 2012


Movimentos negros reprovam plano de cotas das universidades públicas de SP

Curso intermediário de 'nivelamento' serviria como mais uma barreira à universidade
São Paulo – A Frente Pró-Cotas Raciais em São Paulo realiza quinta-feira (27), no Sindicato dos Advogados de São Paulo, uma reunião para contrapor o plano de cotas raciais anunciado ontem pelo reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan, conforme publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo. O reitor afirmou que as três universidades públicas paulistas (USP, Unicamp e Unesp) já fecharam uma proposta de plano de cotas que seria enviada ainda nesta semana ao governador Geraldo Alckmin (PSDB). 
Conforme foi apurado pela RBA, as assessorias das universidades disseram ontem (26) não ter nenhuma informação oficial sobre o fechamento do plano, apenas reconheceram a existência da comissão criada no Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) para discutir a possibilidade de políticas de maior inclusão social. As assessorias das universidades disseram hoje (27) ainda não haver informações sobre o tema.
A Frente Pró-Cotas agrega movimentos sociais, estudantis e sindicais que lutam por cotas raciais na cidade. Para Douglas Belchior, conselheiro da UNEafro, que integra a Frente, a proposta publicada ontem tem um direcionamento que vai na contramão do acesso efetivo dos negros às universidades. “O debate começa atrasado e já de maneira torta. Há um posicionamento das reitorias contrário a ações afirmativas para negros. Observamos um esforço em formular algo que venha para substituir a lógica da cota racial.”
Como afirmado por Durigan, um dos pilares da proposta é um curso semipresencial de dois anos prévio à graduação em si, que serviria como um “reforço” para os alunos oriundos de escolas públicas, mas que também funcionaria como um curso superior, já preparando os jovens para o mercado de trabalho. Este curso seria administrado pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp).
O pressuposto de que os cotistas teriam de se “nivelar” aos outros alunos, segundo Belchior, é preconceituoso e equivocado. “Preconceituoso porque pressupõe a incapacidade dessa fatia do público que busca a faculdade, e equivocado porque a experiência revela que acontece exatamente o contrário. Os cotistas têm rendimento acadêmico igual ou superior ao do vestibulando que entrou pelo sistema regular.”
A reunião convocada pela Frente Pró-Cotas debaterá a proposta publicada no Estadão e vai rechaçar a ideia da formulação de uma política afirmativa para as universidades sem a discussão junto aos movimentos negros e à comunidade estudantil. “Não há legitimidade alguma na criação de uma política feita de cima pra baixo, sem diálogo com os movimentos e com aqueles diretamente interessados no assunto.”
A inserção no mercado de trabalho de que os estudantes poderiam usufruir logo que se formassem no curso proposto é criticada por Belchior. Ele considera que esta seria mais uma barreira ao acesso à universidade, que incentivaria os jovens a irem para o mercado de trabalho sem necessariamente se formar nos cursos superiores tradicionais. “Esse projeto proposto é absurdo porque cria um espaço formal para que se forme um estudante de segunda categoria, de segunda qualificação. É uma etapa anterior que vai negar ou protelar o acesso à universidade e vai servir para desmotivar a continuidade na universidade, justamente neste público.”

Má interpretação

Frei David Santos, da Educafro, entidade que por meio de cursos comunitários promove a entrada de estudantes negros e pobres nas universidades, afirma que houve má interpretação da mídia em relação ao plano proposto pelos reitores. “O jovem teria duas opções – entrar nas universidades (USP, Unesp, Unicamp) por cotas, ou, em vez de entrar em uma das três, ele pode entrar na Univesp, que é a quarta universidade. Após ele concluir esse curso de dois anos, ele pode optar por qualquer curso das outras universidades sem precisar prestar vestibular.”
Segundo ele, é necessário que a proposta seja de fato enviada ao governador para que seu conteúdo seja analisado. Porém, já ressalta a importância da entrada direta por cotas na universidade. “Nós entendemos que o povo negro há muito tempo é vitimizado e não tem mais tempo a perder. A proposta será lançada, mas o aluno terá de entrar diretamente na universidade. O que o estudante terá são novas opções. A Univesp é quarta opção.”
De acordo com o frei David, essas informações foram concedidas a ele pelas reitorias da Univesp e da Unesp. Ele ainda é otimista em relação à posição da reitoria e do governo na questão das cotas. “Vemos que o governador e os reitores estão querendo deixar para trás uma época marcada pela falta de diálogo para entender um período novo: para entender que a universidade existe para atender à sociedade. E sociedade não é só quem é rico, mas sim todo o povo.”
Ainda segundo ele, nos últimos 20 dias os reitores da USP, Unesp, Unicamp e Univesp fizeram cinco reuniões sobre o tema. “O anúncio do reitor da Unesp é o consenso que saiu disso, consenso entre os quatro reitores.”

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