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quinta-feira, 29 de novembro de 2012


Existe amizade entre homem e mulher?

Uma pesquisa diz que da parte delas, sim. Eles esperam algo mais


LUÍZA KARAM


Pesquisa sugere que os homens 
sempre têm segundas intenções 
na amizade com o sexo oposto
(Foto: Stock.xchng/andreyutzu)

Será que homens e mulheres podem ser apenas amigos? A pergunta soa incômoda, porque homens e mulheres trabalham, estudam e convivem diariamente em todo tipo de atividade. Insistir no questionamento põe à prova a legitimidade de parte dos laços sociais que cultivamos - e lança a possibilidade de que aquilo que chamamos de amizade entre homem e mulher não passe de impulso sexual sublimado.

Para entender melhor essa questão, oito pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Eau Claire, nos Estados Unidos, reuniram 88 pares de amigos para destrinchar suas intenções e concluir se uma possível atração entre afetos de sexos diferentes é benéfica ou não à amizade. Cada uma das pessoas analisadas deveria responder algumas perguntas sobre seus sentimentos românticos e sexuais (ou sobre a falta deles) em relação ao amigo. Foram estipuladas algumas regras para que se mantivesse a privacidade e a legitimidade das respostas: os formulários seriam anônimos e confidenciais e, além disso, foi exigido que os amigos concordassem em evitar conversas sobre o estudo.
Não é a primeira vez que isso acontece. Desde o fim dos anos 1980, pesquisadores se debruçam em análises comportamentais que tentam explicar o que liga homens e mulheres em relações não eróticas. A bibliografia é recente, assim como o fenômeno. “Foi somente a partir de 1970 que as mulheres passaram a criar vínculos afetivos com homens de fora do seu círculo familiar”, afirma a pesquisadora de gênero Rosana Schwartz. Nas décadas anteriores, acreditava-se que mulheres demandavam tutela — do irmão, do pai ou do marido. “A Igreja e a ciência faziam a sociedade acreditar na fragilidade da mulher. De acordo com os padrões antigos, se ela não fosse orientada, estaria propensa a desregramentos morais”, diz Rosana. Depois das conquistas feministas, as mulheres passaram a frequentar realidades diferentes, antes exclusivas ao público masculino, e aumentaram a gama de amizades. Mas as questões que cercam a relação de amizade entre os sexos não diminuíram. De lá pra cá, os cientistas chegaram a conclusões variadas para explicar essa aproximação. Às vezes, responsabilizando a mídia por disseminar um modelo estritamente romântico entre os sexos; em outras, culpando a própria psique humana, que, segundo eles, insiste em aproveitar toda e qualquer oportunidade em favor da reprodução. Os teóricos mais recentes preferem se concentrar na chamada “construção social” dos indivíduos para explicar suas motivações. Ou seja, preferem atribuir às regras estabelecidas pela sociedade ao longo dos anos os impulsos da atitude feminina ou masculina.
Os resultados da pesquisa da Universidade Wisconsin-Eau Claire detectou diferenças fundamentais na maneira como homens e mulheres vivem a amizade entre sexos. Os homens frequentemente são atraídos por suas amigas - e também estão mais propensos a acreditar que elas se sentem atraídas por eles. As mulheres, porém, revelam total falta de interesse sexual no amigo do sexo oposto. Também juram ter certeza de que eles não sentem nada por elas. As mulheres parecem ter uma reação realmente desinteressada com seus amigos, enquanto eles cultivam a esperança de obter sexo e romance nesse tipo de relação. Se houver uma chance de sexo, eles aproveitam. Um outro aspecto do estudo mostrou que, à medida que se tornam mais velhos, eles se mostram menos atraídos pelas amigas do que os jovens entre 18 e 23 anos.
Para comparar os resultados da pesquisa americana com o comportamento brasileiro, convidamos dois pares de amigos (e ex-amigos, agora casados) para dar suas opiniões e contar suas experiências:
Os amigos Thomas Ayres e Paula Pensak dizem que não fazem o tipo um do outro. Mas ele diz que namoraria uma amiga se ela desse brecha (Foto: Arquivo Pessoal)
Thomas Ayres e Paula Pensak
O advogado paulistano Thomas, de 25 anos, morou por dois anos na Inglaterra durante a adolescência. De volta ao Brasil, foi terminar os estudos no Rio de Janeiro. Em 2004, conheceu a assessora comercial Paula, de 26, no colégio; eram colegas de classe. Ali, criaram um vínculo forte que nunca perderam. Acostumaram-se a viajar juntos e trocar confidências. Anos depois, quando ela resolveu fazer um intercâmbio na Alemanha e se sentiu sozinha, o amigo foi até lá acolhê-la. Eles se veem pelo menos duas vezes por mês e nunca tiveram qualquer envolvimento amoroso.
O que vocês mais admiram um no outro?

Thomas – A Paula é sincera e extrovertida. Ela preza pelas amizades e tem facilidade de conversar sobre qualquer assunto.
Paula – Ele é muito cavalheiro. Extremamente atencioso e cheio de amigos. O Thomas está sempre presente!

Vocês acreditam na amizade entre homem e mulher?

Paula – Com certeza! Quem diz que não existe é porque nunca teve alguma amiga de verdade.
Thomas – Sim. Boa parte dos meus amigos não tem amigas e, por isso, não entendem o conceito. Eles me sacaneiam por eu ser muito educado. Mas a verdade é que sei diferenciar as coisas.

Você acha que pelo outro haveria namoro entre vocês?

Paula – Acho que ele não namoraria comigo, não. Senão, já teria falado alguma coisa.
Thomas – A gente não troca confidências amorosas, porque eu sou muito fechado, mas acho que ela nunca se sentiu atraída por mim. Não sei.

ÉPOCA – Vocês sentem alguma atração física pelo outro?
Paula – Ele é um partidão, mas não se encaixa no meu padrão de beleza... Talvez porque desde o início a gente tenha cultivado apenas amizade.
Thomas – Eu acho ela bonita, mas não faz meu tipo. É alta demais.
ÉPOCA – Você tem amigas que te atraem?

Thomas – Sim.
ÉPOCA – E namoraria com elas?

Thomas – Nunca tentaria nada, mas se elas dessem brecha... Aí rolaria.

A amizade entre Higor e Flávia Bitencourt
virou casamento (Foto: Arquivo Pessoal)
Higor e Flávia Bitencourt
A administradora Flávia e o gestor de projetos Higor, ambos paulistas de 32 anos, se conheceram em 1999. No início, o que os uniu foi a casualidade: eles trabalhavam juntos e frequentavam as mesmas aulas de espanhol. Aos poucos, construíram uma relação de afeto. Conversavam sobre suas intimidades, pediam conselho um ao outro e se consideravam melhores amigos. Flávia apresentava amigas a Higor; e ele, amigos a ela — os dois torciam para que o amigo encontrasse um parceiro bacana. Eles afirmam que, até então, não existia atração mútua. Em outubro de 2003, durante um encontro casual, pintou o clima que deu origem à paixão dos dois. Cinco anos depois, casaram-se.
Como a relação mudou de tom?

Higor – Eu ia convidá-la para mais uma ida ao boliche, um programa entre amigos. Mas, como estava com o braço quebrado, acabei chamando a Flávia pra assistir a um filme no cinema. Aquilo soou estranho até para mim mesmo. Ato falho (risos).
Flávia – Quando ele falou “cinema”, não soube como reagir. Me pegou desprevenida. Não sabia nem que roupa deveria vestir — afinal, éramos só amigos ou eu tinha um encontro?

Qual a vantagem de se relacionar de forma romântica com um amigo?

Flávia – É muito bom! Não existe ilusão nem jogo de conquista. Eu já sabia quem era ele; e ele, eu. Já conhecíamos os defeitos, limitações... Além disso, conheço-o tanto que não tenho ciúme.
Higor – Há muito mais liberdade e parceria.

Vocês acreditam em amizade entre homem e mulher?

Flávia – Eu acho que sim, tenho vários amigos homens.
Higor – Não existe! É difícil não rolar um interesse, mais cedo ou mais tarde. Tenho só colegas de trabalho. Fora do escritório, nenhuma amiga. 

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