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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


As várias faces da mulher brasileira

Pesquisa revela quem são e como pensam as brasileiras hoje e qual será o futuro delas em um país cada vez mais feminino

Paula Rocha



As profundas transformações socioeconômicas pelas quais o Brasil passou nas últimas décadas tiveram como protagonistas as mulheres. De 1992 até 2012, mais mulheres passaram a frequentar escolas e a trabalhar com carteira assinada, ajudando, assim, a fortalecer a economia do País. Hoje, elas já representam 40% da massa de renda total dos brasileiros ? há 20 anos, essa participação não chegava a 30%. Desde 2002, a renda feminina no Brasil cresceu 62%, ao passo que a dos homens cresceu 39% (leia quadro na página 79). Além dos avanços sociais, a maioria das brasileiras sonha abrir seu próprio negócio. Elas também valorizam a independência financeira, ao mesmo tempo que associam felicidade à formação de uma família. Grande parte ainda se apega à religião como norte do desenvolvimento moral, porém sem se esquecer que a vida real exige uma tolerância maior do que a pregada pela maioria das crenças. Apesar de todos esses pontos em comum, no entanto, as brasileiras podem ser muito diferentes entre si, segundo revela uma recente pesquisa realizada pelo instituto Data Popular, em parceria com o projeto Tempo de Mulher.

Após ouvir 1,3 mil mulheres em 44 cidades do País, o estudo identificou os cinco perfis mais comuns entre as brasileiras. Em primeiro lugar, representando 25% das mulheres do Brasil, estão as conservadoras. São pessoas acima dos 50 anos, em sua maioria aposentadas (44% delas), ou donas de casa (28%), casadas (54%) ou viúvas (32%), católicas (59%), com baixa escolaridade e mais conservadoras em suas opiniões. Elas valorizam a religião, não estão propensas a aceitar relações homoafetivas, acreditam menos no poder de seu voto e são mais pessimistas que a média. Tão representativas quanto as conservadoras estão as tradicionais, que também correspondem a 25% das mulheres do País. Para essas brasileiras, a religião é, sim, muito importante, porém elas são mais tolerantes em relação às uniões homoafetivas, valorizam mais a independência financeira feminina e são mais otimistas. O perfil das tradicionais é o de a uma mulher de meia-idade (entre 40 e 50 anos), casada (69% delas), que estudou até o ensino médio (69%) e tem o trabalho como sua prioridade.


Em terceiro lugar chegam as promissoras, mulheres jovens de até 34 anos, com alta escolaridade (uma em cada três tem ensino superior), que trabalham, são conectadas à internet e se preocupam com o corpo (38% frequentam academias). São brasileiras independentes financeiramente e que valorizam a carreira ? para elas, felicidade não é apenas constituir família. As promissoras em geral também são menos conservadoras, aceitam as relações homoafetivas e possuem menos apreço pela religiosidade. Valores parecidos com aqueles defendidos pelas desprovidas, o quarto maior grupo entre as brasileiras (16%). Como o próprio nome diz, as desprovidas são mulheres bem jovens (metade delas tem até 24 anos), concentradas nas classes com menor renda, que não trabalham (73%), mas que, apesar da pouca idade, já têm ao menos um filho. Embora estejam em uma condição financeira ruim, elas têm mais vontade de empreender do que a maioria, valorizam muito a independência feminina e aceitam a diversidade sexual. O quinto perfil mais comum é o das lutadoras, que correspondem a 15% das brasileiras. Com 25 a 49 anos, separadas ou viúvas (51%), economicamente ativas (77%) e em esmagadora maioria chefes de família (95%), essas mulheres representam o futuro das desprovidas. Geralmente se tornaram mães cedo, tiveram de parar os estudos, mas depois retomaram a educação e hoje batalham para sustentar a família. Elas são religiosas, valorizam o empreendedorismo e priorizam a família.

Mas como serão as mulheres no Brasil do futuro? Segundo a pesquisa, a próxima geração de brasileiras promete ser menos conservadora ? apenas 1% delas terão esse perfil. As promissoras representarão 35% do total de mulheres, enquanto as lutadoras chegarão a 30%. Em terceiro lugar estarão as tradicionais (28%) e em quarto as desprovidas (6%). A maioria das futuras brasileiras também valorizará mais a independência financeira feminina, considerando a educação e o trabalho como os passaportes para essa independência. ?O interessante do Brasil é ver o quão rápido essas transformações sociais acontecem. Em apenas dez anos o perfil das brasileiras mudou muito e mudará mais ainda na próxima década?, diz Renato Meirelles, sócio-diretor da Data Popular.


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