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terça-feira, 18 de dezembro de 2012


Estudo visa buscar modelo esportivo para criança vulnerável
Marco Aurélio Martins, do USP Online
Não basta entregar uma bola de futebol, dividir as crianças em dois times de 11 e esperar que todos os benefícios físicos e sociais do esporte aconteçam automaticamente. É preciso ter um projeto pedagógico que permita aos jovens colherem tudo de positivo que o esporte pode gerar.
esporte e crianças
Essa é a constatação de Carla Luguetti, doutoranda da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, em busca de um modelo que possa ser aplicado a jovens em situação de vulnerabilidade social. Mais do que torná-los atletas de [alto]desempenho, o principal objetivo é fazer com que o esporte os torne bons cidadãos e contribua para sua formação pessoal.
O foco são crianças entre 7 e 14 anos (ensino fundamental), considerando esporte praticado em outro período que não seja o das aulas. Ou seja, aquele que vai além da Educação Física. Carla buscará um modelo construído em parceria com a criança e com o professor, algo colaborativo.
Para ela, um dos principais problemas dos jovens em questão é a falta de oportunidade e participação que têm na sociedade. “O grande problema da criança em vulnerabilidade social é que ela não tem voz, ela é oprimida”, relata. Mais do que isso, “a maioria dos programas de esporte é construída de cima para baixo. O técnico treinador impõe o que vai ser treinado, o que vai ser feito”. Esta prática, segundo Carla, acaba não ajudando na formação social da criança e do adolescente.
O conhecimento prévio sobre o assunto foi adquirido em seu trabalho de mestrado, concluído em 2003. Ela avaliou diversos programas esportivos já existentes, em escolas privadas e públicas na cidade de Santos, e enxergou vários problemas, como a falta de um projeto universal. A principal conclusão do trabalho foi que professores, pais e pesquisadores sabem da importância do esporte para a criança, mas não como aplicá-lo de modo a se realizar uma transformação social.
“Ela [a transformação] pode ou não acontecer com a criança, mas não é uma coisa automática”, explica Carla. E o que ela revela também é a falta de diversidade esportiva, já que o futebol e o futsal ainda são esportes majoritários.
Esporte na Escola
Na dissertação de mestrado, Carla estudou como eram geridos os esportes em escolas municipais, estaduais e privadas da cidade de Santos, onde reside. “Na escola privada, eu vi um esporte voltado para a divulgação da escola, como um tipo de ‘marketing’. Não um esporte preocupado com a criança. Eu ouvi, nas vozes dos coordenadores, que ‘o pai deixa a criança aqui na escola e ela faz vôlei, basquete, handebol e não precisa levar para o clube, para facilitar’ “.

De acordo com Carla, o estado de São Paulo tem jogos escolares, com turmas de treinamento, voltados apenas para competição. Já o município chamou sua atenção com o Projeto Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, que oferece esporte em outro horário que não os das aulas. A ideia, segundo ela, é sensacional: oferecer esporte justamente para criança em vulnerabilidade social, que não tem chances. “Aquela que, quando muito, joga o futebol, que é praticado na rua. Que não tem acesso ao esporte formal, em termos de treinamento técnico”, descreve.
Pegando carona nesse projeto, Carla procura um modelo de como ensinar um esporte para o mesmo público. “Tem uma escolinha de futebol na periferia. O que se ensina lá? Será que basta ensinar passe, cabeceio ou será que deve haver uma estrutura diferente?”, questiona a pesquisadora.
Ela critica os modelos gerados apenas para competição e alega que isso pode até ser prejudicial para a criança. “Uma competição igual a de adulto, com uma pressão para qual a criança não está preparada, é um exemplo de situação em que o esporte pode não trazer os benefícios esperados”.
Pais e professores
Além de um bom programa para essas crianças, Carla destaca o papel dos pais e, principalmente, dos professores. ”O que vemos é que a criança entra em determinado esporte por pressão do pai. Não é uma coisa saudável. O ideal é deixar ela escolher o esporte que quiser, de maneira independente”, recomenda, e completa a instrução afirmando que não há idade para que a criança comece no esporte, muito menos uma modalidade específica. Porém, “a criança tem que querer fazer”, ressalta.

Sobre os professores, a pesquisadora percebeu durante as entrevistas que eles entendem o lado afetivo do esporte – questões emocionais e pedagógicas envolvidas – mas não sabem as ferramentas para mobilizá-lo de maneira adequada.
“Os professores oferecem o esporte principalmente para alcançar objetivos afetivos e sociais, mais do que físicos. ‘Eu quero que essa criança seja mais responsável, mais autônoma, que saiba trabalhar em equipe’, dizem. Mas quando eu pergunto como é oferecido esse esporte, eles não sabem explicar. E não também sabem como ensinar isso, na maioria das vezes. Pensam que é algo automático, o que não é verdade – pode ou não acontecer”, explica.
Carla pretende passar os próximos meses avaliando um projeto já existente em Santos e, a partir disso pensar em um modelo mais integrado de gestão esportiva para crianças em vulnerabilidade social. A tese de doutorado Moving from what is to what might be: developing and empowering young people in Social Vulnerability in after School sport in Brazil, orientada pelo professor Luiz Dantas, da EEFE e David Kirk, da Universidade de Bedfordshure (Inglaterra), deve ser concluída no final de 2013.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email luguetti@usp.br, com Carla Luguetti

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