por Ana Cássia Maturano*
Muitos já devem ter ouvido a história de que a masturbação provoca borbulhas ou faz crescer pelos nas mãos. Diante dela, houve quem se amedrontasse e quem não desse a menor importância. Alguns ainda a propagam. Não que acreditem nisso. Apenas a usam como forma de controlarem o comportamento das crianças quando descobrem que manipular algumas partes do corpo pode ser gostoso. Com esse intuito, existem vários outros mitos acerca da sexualidade.
Com o passar do tempo, substituímos essas e outras ideias fantasiosas por um bocado de informações científicas. Os jovens sabem sobre a prevenção da gravidez, das doenças sexualmente transmissíveis, do uso da camisinha e muito mais. Apesar de importantes, apenas saber não tem sido suficiente para viver a sexualidade de maneira mais responsável. Eles continuam se metendo em enrascada.
O que será que acontece? Não ouvem direito ou não pensam muito? Ou será que há uma dificuldade de olhar para esse assunto?
Se for este o caso, e muito provavelmente é, temos passado bastante informação às nossas crianças e jovens, o que é positivo. Porém, elas estão permeadas da ideia de que a sexualidade tem algo de errado ou ruim. Vivê-la de fato é ter culpa no cartório. Este é o nosso grande problema.
E o que é errado, mas praticado, precisa ser escondido. Como comprar a pílula na farmácia? Ora, todo mundo descobrirá seu pecado. Ou ir a um médico ginecologista, algo que se depende dos pais ou de uma independência financeira. Para quem se sente culpado, qualquer motivo é suficiente para criar uma paranoia de que todos irão saber.
Muitos dirão: “Se a culpa é tanta, por que não deixam de praticar?”. Bem, como lidar com a natureza impulsiva da sexualidade, é outra história. E tem a ver com a forma como lidamos com ela. Parece que quanto mais reprimida, mais força ganha.
O fato é que demos passos largos quanto a este assunto. Hoje temos muita informação, algo que foi sendo introduzido pouco a pouco. Ninguém pode dizer que não sabia de nada.
A sexualidade, no entanto, não é só uma questão biológica, sua função não se limita a reprodução. Ela tem um lado prazeroso e é um aspecto de nossa personalidade. É importante vivê-la com responsabilidade, mas não aquela pautada no medo: caso pratique, virá o castigo de um bebê ou de uma doença.
Ao orientarmos nossos filhos sobre este assunto, é necessário atentarmos para este aspecto. O que não quer dizer fazer o que quer, na hora que bem entender. Por exemplo, ao observar que o pequeno (às vezes, ainda bem pequeno) está todo refestelado mexendo em seus órgãos genitais, ninguém precisa dizer que a mão vai cair. Ele pode ser orientado a fazer isso quando está sozinho, pois faz parte da sua intimidade. Algo que deve ser aprendido desde pequeno. Sem, no entanto, tirar-lhe o aspecto prazeroso.
Quantos adultos não conseguem viver a sexualidade plenamente, devido a uma vivência de medo e culpa? Muitos. E ninguém se iluda que a tal da liberdade sexual, na prática, é isenta de qualquer conflito, como pode parecer.
Com os adolescentes, por exemplo, quando se tem intimidade (olha a palavra aí de novo) entre pais e filhos, com um canal de comunicação aberto, pode-se orientá-los passando-lhes as informações sim. Mas de verdade. Sem a intenção de ser um pai moderno, mas que vê aquilo com maus olhos. Boicotando qualquer manifestação do filho, impedindo que o real diálogo ocorra. Com o risco de que seja feito tudo escondido e de qualquer jeito. Para os pais, no entanto, a função está cumprida. O que não quer dizer ser o falso liberal, que confunde sexualidade com promiscuidade.
Certa vez uma mãe me disse que não ensinava os nomes corretos dos órgãos genitais para seus filhos: “O que iam pensar dela?”
Assim vamos construindo a ideia de que essa parte de nós é errada, nem o nome correto pode ser dado. As coisas mudaram. Hoje, até dia o sexo tem. Talvez possamos criar uma geração que lide melhor com sua sexualidade, o que não quer dizer praticar muito e de qualquer jeito. E sim de um jeito mais proveitoso, com menos culpa e sem consequências desastrosas.
*Psicóloga e psicopedagoga formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especialista em problemas de aprendizagem e escreve sobre educação e a relação entre pais e filhos.
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