por Ana Cássia Maturano*
Algumas situações colocam a toda prova o papel dos pais. Uma delas é quando um ou outro colega hostiliza ou agride seu filho. A vontade da maioria é ir tirar satisfação, dar alguns sopapos no possível agressor ou ensinar ao pequeno alguns golpes para que o próprio se defenda. Não é nada fácil vê-lo sofrendo nas mãos de outro.
Acontecimentos como esses se dão pela vida toda. No entanto, a atitude a tomar nessas ocasiões se transforma em um dilema para muitos: instruem o filho a se defender, ensinando-o a “brigar”, ou deixam que se vire sozinho? Afinal, ele tem que aprender a lidar com pessoas assim e em assunto de criança adulto não mete a colher.
Nem uma coisa e nem outra. Deve-se considerar, a princípio, como o guri reage à situação. Enquanto alguns se viram sem intervenção alguma, outros parecem sofrer calados à hostilidade alheia.
Preparar os filhos para a vida inclui ensiná-los a se defender. Não com tapas, é certo. As crianças já os praticam o bastante sem que sejam estimuladas a tanto. Talvez, ajudando-os a refletirem sobre as situações que surgem possibilitará que se fortaleçam para enfrentá-las, principalmente considerando aqueles que pouco ou nada reagem.
Quando a situação ocorre continuamente, vale o questionamento do porquê de o filho se submeter ao outro de tal maneira. Muitas pessoas confundem amizade com necessidade de agradar ao outro, mesmo que isso as desagrade.
Recordo-me de uma garota de oito anos que na escola comprava balas ou dava moedas para uma colega em troca de ser sua BFF (best friend forever – melhor amiga para sempre). Porém, no outro dia, apesar do “pagamento”, o compromisso se desfazia. Contou à mãe e a indignação tomou conta. Mantendo a calma, pode lhe dizer que amigos não se compram e que só de a colega lhe fazer tal proposta já indicava que ela não era boa amiga. Caso a colega tivesse fome e ela, dinheiro, que lhe comprasse um lanche. Mas jamais em troca de amizade.
A lição foi aprendida e a garotinha não mais cedeu aos pedidos da colega. No caso, aquela que subornava era alguém que causava uma forte impressão no grupo em geral, e todas queriam ser suas amigas. Ciente disso, e muito habilidosa, ela valorizava sua amizade.
Assim, a mãe, mais que proteger a filha, ensinou-a a perceber a situação e a instruiu como agir – algo a ser aprendido para a vida. O que, de certo modo, ajudou a outra menina a ser diferente. Se tivesse batido boca, o resultado não seria o mesmo e a aprendizagem, outra: diante de dificuldade num relacionamento, o melhor é gritar.
Neste caso, não daria para ficar de braços cruzados e esperar que por si só a criança percebesse o engano daquela relação, ao menos naqueles termos. Se podemos perceber antes, temos o dever de orientá-la, até porque ela pode pensar que tem que ser daquele jeito.
Outras situações têm um tom mais grave por envolver agressão física. Ninguém quer ver o filho apanhar calado. O melhor é que ele se afaste do agressor e, se não tiver jeito, que não permita que ele o agrida. Mesmo que para isso tenha que usar de força física – apenas para se defender (não ir atrás para agredir). Se chegar neste ponto, também cabe uma boa reflexão sobre o ocorrido.
O mais certo para os pais e os filhos é que juntos eles encontrem o melhor jeito de lidar com a situação. Os adultos, por serem mais experientes, têm a obrigação de orientar as crianças, que precisam muito de proteção. Num contexto de aprendizagem que servirá para toda a vida.
*Psicóloga e psicopedagoga formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especialista em problemas de aprendizagem e escreve sobre educação e a relação entre pais e filhos.
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