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domingo, 1 de setembro de 2013

O rastreador de namorado!

Um aplicativo que faz você ter praticamente um 'namorado por controle remoto'

Por Mônica El Bayeh

  (Foto: Diogo Duarte)
(Foto: Diogo Duarte

Um desejo antigo. Rastreador de namorado. Sonho agora realizado em forma de aplicativo. O que faz o outro quando está fora do nosso alcance e além do nosso olhar? Quem nunca quis ser uma mosca para saber?

Tive uma amiga que se prestava ao papel de detetive. Ela adorava, diga-se de passagem. Seus serviços eram grátis. Pagos pelo puro prazer de bisbilhotar a vida alheia. Tinha clientela grande. Eu nunca a contratei. Não por falta de curiosidade. Mas o medo do mico era maior. Dispensei seus serviços todas as vezes, para grande decepção sua.

Ela se empenhava, vasculhava: falava com vizinhos, porteiros. Imagine? Deus me livre!

Agora, época de internet. Amigos detetives são artigo do passado? Nem tanto. Amigos detetives sempre existirão. Agora com mais instrumentos e redes sociais à sua disposição. Perigosíssimas.

Além dos amigos de plantão, um aplicativo bem fofoqueiro. Você baixa o aplicativo e passa a ter um namorado por controle remoto. Com a desvantagem de que você descobre os canais. Mas não pode mudar de programa. Fica sabendo o que ele faz. E faz o que com isso?

Para o aplicativo ser legal, você precisa do consentimento da vítima. É justo. Defesa é direito básico de todo cidadão. Quer que ele forneça provas contra si mesmo? Até leigos sabem que não rola.

O réu não é burro. Uma vez notificado de que está sendo perseguido, vai disfarçar, despistar. É um direito dele. E um engodo seu. Acho que meu aplicativo de delivery de pizzas é mais útil que isso. Eu não me imagino sendo rastreada. Ia me sentir com aquelas coleiras que se usam para cães. Aquelas de alça longa que dão a impressão de grande liberdade de movimentos. Mas só servem para que o infeliz não fuja.

Quer me colocar amarras? Estou fora. Piscou. Quando olhar, a coleira está lá vazia.

Rastrear o outro é de uma ingenuidade virginal. Como se rastreia o irrastreável? Você pode controlar o celular? Sim. Parabéns. Mas o olhar, o pensamento que seguem junto? Esses não te pertencem.

Atração é bicho solto. Não há coleira para sonhos. Desejo é terra que ninguém pisa. Nem manda. Essas fantasias você jamais saberá. Quer saber? Deixa quieto. Melhor assim.

Rastrear é para fracos. Depõe contra a inteligência da pessoa. A intenção de achar que pode prender o outro. E prende? Não se controla o incontrolável.

Não é pelo ciúme. Nem pela tentativa de tomar posse do outro. Isso em menor ou maior escala faz parte. Todo mundo já fez ou faz. Quem nunca? Somos movidos pela vontade de controlar para não sofrer mais. Do medo de, mais uma vez, dar com os burros n´água e ter que recomeçar.

Tentar, errar, recomeçar faz parte do jogo. Não tem outro jeito. Amor é jogo de azar. Em algum momento se ganha. Em algum momento se perde. Só não perde se não jogar. O que pode ser triste e solitário. Novelas que casam e juntam todos os bons no último capítulo enquanto os maus sofrem, enlouquecem ou morrem. Contos de fadas onde todos os bons são felizes para sempre. Causam esse olhar viciado de que no último capítulo seremos felizes. Esperamos por isso.

Somos bons! Cobremos nossa parte! O roteirista está sonegando felicidade? Está de bullying com a gente? Quem escreve nossos roteiros de amor? Último capítulo quando passa? Se for só no fim, eu não quero não.

Amor é moeda flutuante. Sobe quando a gente nem esperava mais. Desce quando a gente estava doida para que subisse. Buscamos garantias do amor. A eterna busca do amor eterno. Exigimos os lucros e garantias de um bom investimento. Espécie de poupança para dias difíceis. Pode ser?

Será, se eu e o outro permitirmos que seja. Se a gente puder rastrear nosso caminho afetivo um para o outro. E se reencontrar apesar da corrida do dia a dia. Nos apertos, nas contas a pagar, nas brigas onde cada um pensa de um jeito. Perceber que é preciso ir além da poeira do cotidiano.

Não me importa por onde andam os olhares que passeiam distraídos. Claro que gostar, eu não gosto. Quero todos os olhares do ser amado só para mim. Olhares, pensamentos, sonhos e desejos. Mas são? Não importa muito.

Me importa que eu saiba atrair o olhar amoroso para mim outra vez. Para isso não há aplicativo possível. Mas sentimento há. E se chama empatia. É ótimo. Funciona sem 3G e sem Wi –Fi. Não descarrega, nem precisa de bateria. Baixe o seu. E aproveite.

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