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sábado, 9 de novembro de 2013

Padres pedófilos ou crianças padrófilas?

Por Mônica El Bayeh

  (Foto: Pepe Zapata)
"A igreja é puta e santa". Essa frase não é minha. Sempre a ouvi citada por Leonard Michael Martin, um padre irlandês brilhante e íntegro que, lamentavelmente, não está mais por aqui. 
Estudei em escola de freiras, depois de padres, fui de grupo jovem. Vivi muito tempo imersa na igreja católica. Posso dizer que conheci pessoas maravilhosas durante todo esse tempo, verdadeiramente vocacionadas. Outras bem execráveis. Não é assim em tudo? 
A igreja é santa no que tem de divino. A igreja é puta na parte que compete ao homem. Homens pecam e maculam a divindade da igreja. Não há religião que não passe por isso: confusões, brigas de poder e vaidade, orgulhos feridos, egos inflados, sigilos e podres varridos para baixo do tapete.  
Dentre os podres, o pior de todos: crianças que vêm sendo vítimas de abusos sexuais dentro da igreja. São pegas no que têm de mais indefeso: a carência de apoio, a falta de um olhar especial, de uma palavra amiga ou orientação. E não é por isso que se procura um apoio religioso? Olha que pegadinha: você vai procurando um padre e encontra a própria serpente com a maçã na mão. Triste ironia...    
Joseph Michailik, líder da igreja católica na Polônia, declarou essa semana que as crianças são as responsáveis pela pedofilia dos padres. Segundo ele, uma criança vinda de uma família disfuncional procura proximidade com outros e pode perder-se, fazendo com que a outra pessoa também se envolva. A criança, essa safada, seduz os padres virtuosos. Nesse raciocínio chegamos à conclusão de que não há padres pedófilos. O que há são crianças problemáticas e padrófilas. Fala sério, Michalik! Se não for por medo do inferno, pelo menos por vergonha. 
Uma criança que vêm de uma família disfuncional procura ajuda, sim. Procura ajuda fora, porque dentro da família não encontra quem dê. Seduzir uma criança assim é muito mais fácil. De cara porque, provavelmente, a família não é presente e nem vai notar. Essas crianças costumam ser mais largadas, menos controladas que as outras. Um lobo que espreita ovelhas, não vai nas que têm bom pastor. Aliás, bom pastor que cuidasse de suas ovelhas era o que as crianças procuravam como apoio na igreja. Não foi o que Jesus prometeu? 
Em famílias disfuncionais, encontramos todos muito perdidos, envolvidos com seus problemas. Cada um tentando dar conta da sua vida. A criança nem tem vez. É nesse diagnóstico que, quem não presta, investe. Vai pelo cheiro da caça fácil, abandonada à própria sorte na floresta dos problemas familiares. Como um leão à espreita, o padre – que era para ser bonzinho- ataca sem dó. 
Na cabeça da criança passa de tudo. Inclusive que ela é má e que foi tudo por culpa dela. Ela sente assim. Mas não é. O medo de contar e ser castigada acaba gerando um silêncio que a amassa em seu desenvolvimento. 
Crianças não seduzem adultos. Crianças querem atenção. Não deveriam pagar por isso de nenhuma forma. Nem levar a culpa do que não lhes cabe. Adultos deveriam saber que crianças são crianças. Só isso já explica tudo. Crianças não são responsáveis por adultos. O contrário é que deveria valer. 
Já não é a primeira vez que Josef Michalik aparece envolvido nesse tipo de questão. Ele defendeu, em 2004, um pároco condenado por pedofilia. Como se defende o indefensável, Michalik? Como, dentro de uma religião que prega amar ao próximo como a si mesmo, se defende um abuso a um menor indefeso? Talvez um erro de interpretação da bíblia naquela parte do: venham a mim as criancinhas?  
Ando com quem me parece. Com quem me representa. Com quem pode falar de mim quase como se fosse eu, uma questão de empatia. Defendo o que acredito. Porque se defendo e nem acredito, que canalha sou eu? Será que Michalik acredita mesmo nessa história podre? 
Acho, e isso é uma opinião muito pessoal, que a Igreja Católica cai num buraco sem fundo ao exigir o celibato. Porque exclui a sexualidade da vida de pessoas que são sexuais. Somos todos sexuais, isso nos afeta de alguma forma. 
O uso da batina e do hábito serve para fazer de conta que não há nada ali embaixo? Se for, não deu certo. Não há como fazer de conta que não temos genitais. Eles pulsam vivos e quentes. Vibram e demandam ser atendidos dentro de nós. 
Se temos, não faz parte do desenho da criação? Se nascemos nesse formato, com esse design mais rebuscado, não é para aproveitar? Negar o direito ao uso do que está vivo e à mão é cruel e inoperante. Claro que essa idéia não ia dar certo. 
Podem sublimar, transformar o tesão em produção, construção. Sim, claro, sempre. Mas sublimação não é para todos. Ela fura, deixa a gente na mão. Com alguns dá certo. Garantias de funcionamento? Bula? Guia do fabricante? Não vem junto, a pessoa se ferra. Forma um círculo vicioso de burlas e culpas que é sem fim.   

Entra quem quer, fica quem quer. A igreja não é exército. Não busca em casa, nem convoca a força. Mas algumas pessoas emocionalmente doentes acabam encontrando guarida. O pedófilo é uma pessoa doente. Mas um doente sem cura. Não existe ex-pedófilo. Permitir essa exposição é desproteger os desvalidos. Inverter a culpa e transformar vítima em réu é liberar um podre tráfico de influências escusas. É institucionalizar os vendilhões no templo. Que Deus tenha pena de nós. 
 
perfil Mônica El Bayeh - blog da Ruth (Foto: ÉPOCA)

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