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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Por que a Rússia despreza os Alcoólicos Anônimos

Movimento global de recuperação de alcoólatras esbarra na desconfiança e nos excessos tolerados pela cultura russa
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A definição popular de um 'problema com a bebida' na Rússia é o que acontece no final de um episódio de abuso crônico de álcool, quando a pessoa está sem teto, deitada em uma vala (Reprodução/Getty)
A tradução da palavra russa “vodka” é, literalmente, “água”.  Até recentemente, o Kremlin não reconhecia formalmente a cerveja como álcool. Não é à toa que há um estereótipo de longa data sobre o povo russo: eles bebem em quantidades que assustam a maioria das pessoas de outras nações. As raízes da relação especial da Rússia com o álcool têm sido objeto de especulação generalizada, com alguns apontando para uma predisposição genética e outros para uma melancolia supostamente inerente à alma russa.

Um relatório de 2011 da Organização Mundial de Saúde estimou que os russos bebem uma média de cerca de quatro litros de álcool por ano, cerca de 70% a mais do que os americanos. Em 2009, a revista médica britânica Lancet apontou a bebida em excesso como causa da morte de mais da metade dos óbitos de pessoas entre as idades de 15 e 54 anos no país. Mais da metade das crianças em um típico orfanato russo sofrem de síndrome do alcoolismo fetal, revela outro estudo.

Os líderes do país têm tentado estancar o problema ao longo dos anos, dificultando a venda do álcool e, mais recentemente, em 2009, com uma série de novas regulamentações para lidar com o que o então presidente Dmitry Medvedev chamou de um “desastre nacional”. Mas nada realmente funcionou até agora. O tratamento para o abuso de álcool resume-se a uma única visita ao médico, durante a qual o paciente passa por uma desintoxicação antes de ser hipnotizado e de receber uma receita para comprimidos de combate ao vício, que induzem dores de cabeça e náuseas quando misturados com álcool.

Uma instituição de apoio para a recuperação de dependentes, que ensina as pessoas a mudar seus hábitos e comportamentos e a manter uma vida saudável, é praticamente inexistente na Rússia. Os Alcoólicos Anônimos, uma instituição fundada há 80 anos, que tem 2 milhões de membros espalhados pelo mundo e já traduziu sua literatura para 71 idiomas, não pegou no país.  Desde 1987, quando um bispo episcopal organizou a primeira reunião do grupo na Rússia, apenas 400 grupos se formaram em todo o país, um número insignificante comparado aos 1.600 grupos que existem somente na área metropolitana de Boston, por exemplo.

Por que o AA não pegou na Rússia? Talvez porque a definição russa de um “problema com a bebida”  é o que acontece no final de um episódio de abuso crônico de álcool, não o próprio consumo exagerado em si, que é considerado perfeitamente normal. Os russos acham que o alcoolismo é quando uma pessoa está sem-teto, deitada em uma vala. Isso é um alcoólatra. Que uma pessoa possa ser mais ou menos bem-sucedida e ainda ser um alcoólatra realmente não faz sentido para eles. Para Yanni Kotsonis, um historiador russo na Universidade de Nova York, a possibilidade de o AA florescer na Rússia só acontecerá se esta atitude mudar.

Outro obstáculo é algo mais filosófico: em um nível básico, a premissa de que a sobriedade pode vir através do apoio mútuo simplesmente não faz sentido para os russos. “A ideia de que um outro bêbado pode ajudá-lo a se curar do vício é estúpida para a maioria dos russos”, disse Alexandre Laudet, um psicólogo social que pesquisou o alcoolismo russo. Como resultado, ao contrário de muitos países, onde programas de recuperação semelhantes ao AA agora fazem parte da paisagem cultural, na Rússia, eles ainda são vistos com estranheza e desconfiança.

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