O presidente da Apple faz um apelo público pela aprovação de uma lei que proíbe a discriminação de funcionários homossexuais e transexuais
INFLUENTE
Tim Cook, presidente da Apple. Reservado, ele nunca se disse gay apesar de ser frequentemente citado como homossexual (Foto: Kim White/Getty Images)
Tim Cook, presidente da Apple, é um admirador de Robert Kennedy (1925-1968). Tem duas fotos do senador e secretário de Justiça dos Estados Unidos na sala em que trabalha e diz inspirar-se em seu exemplo. Em 1966, Kennedy discursou diante de uma África do Sul dividida pelo apartheid: “Poucos têm a grandeza para mudar a história, mas cada um de nós pode mudar pequenos acontecimentos e enviar uma onda de esperança. Juntas, essas pequenas ondas formam uma corrente capaz de derrubar a mais poderosa muralha de opressão”. Pouco afeito aos holofotes, Cook vem deixando de lado seu estilo pessoal para seguir esse ensinamento. No dia 10, ele recebeu um prêmio da Universidade Auburn, onde estudou, pelas conquistas obtidas em sua vida. Quando seu discurso veio à tona na internet na semana passada, Cook fez um apelo pela aprovação de um projeto de lei, o Ato de Não Discriminação no Emprego (Enda, na sigla em inglês), que proíbe empresas americanas de discriminar funcionários por sua orientação sexual ou identidade de gênero, na contratação e no trabalho. “Está na hora de escrever esses princípios básicos da dignidade humana na lei”, disse Cook.
O Enda é apresentado ao Congresso americano desde 1994. Sempre foi engavetado. Em abril, voltou à pauta. Há um mês foi aprovado no Senado. Agora será votado pela Câmara. Cook manifestou seu apoio pela primeira vez em novembro, num artigo no jornal The Wall Street Journal. Argumentou que a diversidade é boa para um negócio porque, se as pessoas se sentem valorizadas pelo que são, elas trabalham melhor. Agora, Cook voltou ao assunto num tom pessoal. “Cresci no Alabama nos anos 1960 e vi o impacto devastador da discriminação. Vi uma cruz ser queimada no jardim de uma família, por causa de sua cor de pele. A imagem ficou para sempre em minha mente”, afirmou. “Desde então, vi e experimentei muitos outros tipos de discriminação, todos baseados no medo de pessoas diferentes da maioria.” Embora Cook nunca tenha declarado ser gay, é frequentemente citado como homossexual. Uma das principais publicações sobre gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (LGBT), a revista Out o pôs no topo da lista anual das 50 pessoas LGBT mais poderosas do mundo.
Cook, de 53 anos, está na Apple há 15. Engenheiro industrial, entrou para cuidar das fábricas e da rede de fornecedores. Foi promovido a diretor de operações, cargo mais importante depois da presidência, em 2007. Coordenou a bem-sucedida terceirização da produção para fábricas na China, para atender à ávida demanda. Em 2011, enfrentou com serenidade o desafio de suceder a Steve Jobs, o mítico gênio que revolucionou a indústria eletrônica e deixou a liderança da Apple para morrer naquele ano. Desde então, Cook conquistou a confiança dos acionistas e vem impondo seu estilo à empresa.
“Encontrei uma empresa que protegeu funcionários da discriminação antes mesmo da lei”, disse Cook. A Apple foi uma das primeiras a estender benefícios de empregados gays a seus parceiros e a cobrir cuidados médicos necessários à mudança de sexo nos planos de saúde. Também se declarou contra a lei que baniu o casamento gay na Califórnia.
"Vi e experimentei muitos tipos
de preconceito, gerados pelo
medo de quem é diferente"
TIM COOK
Os críticos do Enda dizem que ele é desnecessário porque, assim como a Apple, a maioria das empresas americanas tem políticas contra discriminação e há leis federais para isso. Segundo a Human Rights Campaign, organização sem fins lucrativos de defesa dos direitos homossexuais, as legislações de 29 Estados americanos não abordam o tema e, em 33 Estados, não proíbem a discriminação de transexuais. Pesquisas recentes mostram que o preconceito influencia oportunidades profissionais. O sociólogo Andras Tilcsik, da Universidade Harvard, descobriu que candidatos a empregos têm 40% menos chances de ser chamados para entrevistas se deixam clara a homossexualidade no currículo. Um estudo do Instituto Williams, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla), revela que homens gays e bissexuais ganham em média entre 10% e 32% menos que heterossexuais com as mesmas qualificações. “Lutem contra a discriminação, não porque faz sentido econômico, e sim porque é justo”, disse Cook ao encerrar seu discurso. “Não permitam que a maioria limite os direitos da minoria.”
Como presidente da Apple, uma das empresas mais admiradas do mundo, Cook é uma celebridade. Ao longo da última década, dezenas de famosos saíram do armário nos EUA. É possível que Cook nunca se junte a eles, por prezar sua privacidade ou mesmo por não ser gay. Isso não é necessário para que ele influencie a opinião pública. Seja qual for seu motivo, ele contribui para a corrente de mudança. Bob Kennedy ficaria orgulhoso.
INFLUENTE
Tim Cook, presidente da Apple. Reservado, ele nunca se disse gay apesar de ser frequentemente citado como homossexual (Foto: Kim White/Getty Images)
Tim Cook, presidente da Apple, é um admirador de Robert Kennedy (1925-1968). Tem duas fotos do senador e secretário de Justiça dos Estados Unidos na sala em que trabalha e diz inspirar-se em seu exemplo. Em 1966, Kennedy discursou diante de uma África do Sul dividida pelo apartheid: “Poucos têm a grandeza para mudar a história, mas cada um de nós pode mudar pequenos acontecimentos e enviar uma onda de esperança. Juntas, essas pequenas ondas formam uma corrente capaz de derrubar a mais poderosa muralha de opressão”. Pouco afeito aos holofotes, Cook vem deixando de lado seu estilo pessoal para seguir esse ensinamento. No dia 10, ele recebeu um prêmio da Universidade Auburn, onde estudou, pelas conquistas obtidas em sua vida. Quando seu discurso veio à tona na internet na semana passada, Cook fez um apelo pela aprovação de um projeto de lei, o Ato de Não Discriminação no Emprego (Enda, na sigla em inglês), que proíbe empresas americanas de discriminar funcionários por sua orientação sexual ou identidade de gênero, na contratação e no trabalho. “Está na hora de escrever esses princípios básicos da dignidade humana na lei”, disse Cook.
O Enda é apresentado ao Congresso americano desde 1994. Sempre foi engavetado. Em abril, voltou à pauta. Há um mês foi aprovado no Senado. Agora será votado pela Câmara. Cook manifestou seu apoio pela primeira vez em novembro, num artigo no jornal The Wall Street Journal. Argumentou que a diversidade é boa para um negócio porque, se as pessoas se sentem valorizadas pelo que são, elas trabalham melhor. Agora, Cook voltou ao assunto num tom pessoal. “Cresci no Alabama nos anos 1960 e vi o impacto devastador da discriminação. Vi uma cruz ser queimada no jardim de uma família, por causa de sua cor de pele. A imagem ficou para sempre em minha mente”, afirmou. “Desde então, vi e experimentei muitos outros tipos de discriminação, todos baseados no medo de pessoas diferentes da maioria.” Embora Cook nunca tenha declarado ser gay, é frequentemente citado como homossexual. Uma das principais publicações sobre gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (LGBT), a revista Out o pôs no topo da lista anual das 50 pessoas LGBT mais poderosas do mundo.
O Enda é apresentado ao Congresso americano desde 1994. Sempre foi engavetado. Em abril, voltou à pauta. Há um mês foi aprovado no Senado. Agora será votado pela Câmara. Cook manifestou seu apoio pela primeira vez em novembro, num artigo no jornal The Wall Street Journal. Argumentou que a diversidade é boa para um negócio porque, se as pessoas se sentem valorizadas pelo que são, elas trabalham melhor. Agora, Cook voltou ao assunto num tom pessoal. “Cresci no Alabama nos anos 1960 e vi o impacto devastador da discriminação. Vi uma cruz ser queimada no jardim de uma família, por causa de sua cor de pele. A imagem ficou para sempre em minha mente”, afirmou. “Desde então, vi e experimentei muitos outros tipos de discriminação, todos baseados no medo de pessoas diferentes da maioria.” Embora Cook nunca tenha declarado ser gay, é frequentemente citado como homossexual. Uma das principais publicações sobre gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (LGBT), a revista Out o pôs no topo da lista anual das 50 pessoas LGBT mais poderosas do mundo.
Cook, de 53 anos, está na Apple há 15. Engenheiro industrial, entrou para cuidar das fábricas e da rede de fornecedores. Foi promovido a diretor de operações, cargo mais importante depois da presidência, em 2007. Coordenou a bem-sucedida terceirização da produção para fábricas na China, para atender à ávida demanda. Em 2011, enfrentou com serenidade o desafio de suceder a Steve Jobs, o mítico gênio que revolucionou a indústria eletrônica e deixou a liderança da Apple para morrer naquele ano. Desde então, Cook conquistou a confiança dos acionistas e vem impondo seu estilo à empresa.
“Encontrei uma empresa que protegeu funcionários da discriminação antes mesmo da lei”, disse Cook. A Apple foi uma das primeiras a estender benefícios de empregados gays a seus parceiros e a cobrir cuidados médicos necessários à mudança de sexo nos planos de saúde. Também se declarou contra a lei que baniu o casamento gay na Califórnia.
"Vi e experimentei muitos tipos
de preconceito, gerados pelo
medo de quem é diferente"
TIM COOK
Os críticos do Enda dizem que ele é desnecessário porque, assim como a Apple, a maioria das empresas americanas tem políticas contra discriminação e há leis federais para isso. Segundo a Human Rights Campaign, organização sem fins lucrativos de defesa dos direitos homossexuais, as legislações de 29 Estados americanos não abordam o tema e, em 33 Estados, não proíbem a discriminação de transexuais. Pesquisas recentes mostram que o preconceito influencia oportunidades profissionais. O sociólogo Andras Tilcsik, da Universidade Harvard, descobriu que candidatos a empregos têm 40% menos chances de ser chamados para entrevistas se deixam clara a homossexualidade no currículo. Um estudo do Instituto Williams, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla), revela que homens gays e bissexuais ganham em média entre 10% e 32% menos que heterossexuais com as mesmas qualificações. “Lutem contra a discriminação, não porque faz sentido econômico, e sim porque é justo”, disse Cook ao encerrar seu discurso. “Não permitam que a maioria limite os direitos da minoria.”
Como presidente da Apple, uma das empresas mais admiradas do mundo, Cook é uma celebridade. Ao longo da última década, dezenas de famosos saíram do armário nos EUA. É possível que Cook nunca se junte a eles, por prezar sua privacidade ou mesmo por não ser gay. Isso não é necessário para que ele influencie a opinião pública. Seja qual for seu motivo, ele contribui para a corrente de mudança. Bob Kennedy ficaria orgulhoso.
Como presidente da Apple, uma das empresas mais admiradas do mundo, Cook é uma celebridade. Ao longo da última década, dezenas de famosos saíram do armário nos EUA. É possível que Cook nunca se junte a eles, por prezar sua privacidade ou mesmo por não ser gay. Isso não é necessário para que ele influencie a opinião pública. Seja qual for seu motivo, ele contribui para a corrente de mudança. Bob Kennedy ficaria orgulhoso.
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