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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Como aproximar meninos e meninas

Pesquisas mostram que é possível ajudar crianças a superar as diferenças entre os sexos desde cedo

AMANDA POLATO

Como aproximar meninos e meninas (Foto: Iris Images/Corbis)
Se você entrar em qualquer sala de pré-escola e perguntar que atividade as crianças preferem fazer, notará uma clara divisão. A maioria das meninas escolhe brincar com bonecas ou fazer projetos de arte. Boa parte dos meninos quer carrinhos ou bolas. Não há nada de errado nisso, afinal as crianças se divertirão com o que gostam. Cada brincadeira ajuda a desenvolver certas habilidades. Com bonecas, estão em jogo as habilidades verbais e de relacionamento. Com caminhões e esportes, as habilidades motoras amplas, espaciais e visuais. No livro Cérebro azul ou rosa, a neurocientista americana Lise Eliot, doutora pela Universidade Columbia e professora da Universidade Rosalind Franklin, em Chicago, propõe que os pais e professores deixem os estereótipos de gênero de lado para que as crianças possam explorar todo o seu potencial. “Para ser feliz em nossa sociedade, você precisa de uma boa mistura de traços tipicamente masculinos e femininos. É importante ser forte e assertivo, mas também atencioso e sensível”, Lise disse a ÉPOCA.

No livro, Lise reúne pesquisas sobre o cérebro de crianças e diz que, ao contrário do que se imagina, não existem tantas diferenças inatas. Em bebês recém-nascidos, elas são muito sutis. Modificam-se com o tempo, já que nossa massa cinzenta é capaz de se remodelar de acordo com as experiências vividas. Essa é a base de toda aprendizagem. “As pequenas diferenças se tornam maiores, por causa da forma como tratamos meninos e meninas e do jeito de eles brincarem com seus amigos. Vivemos numa sociedade muito segregada por gêneros”, diz Lise.

Estereotipar atrapalha a educação. Mas ignorar as diferenças sexuais também não é o caminho, diz Lise. Conhecer as diferenças é importante para que famílias e escolas apoiem as meninas e os meninos em suas necessidades específicas e os ajudem a diminuir as distâncias entre os gêneros. A ideia é que, quanto mais cedo for possível intervir e estimular os neurônios e suas conexões na fase de desenvolvimento, maiores são as chances de as crianças terem um conjunto equilibrado de habilidades.

Lise tem dois filhos e uma filha. Ao olhar para a própria família e ao analisar pesquisas do mundo todo, ela faz ressalvas importantes. As crianças são complexas e únicas. É impossível generalizar. Estatísticas sobre o que ocorre com a média dos meninos e das meninas são importantes para ajudar pais e educadores a entender o desenvolvimento da criança. As meninas, em geral, se saem melhor em leitura e escrita. Os meninos, em atividades competitivas. A habilidade motora fina (controle dos dedos para manusear canetas, pincéis e pequenos objetos) é mais desenvolvida nas meninas. Sabendo disso, os pais de garotos têm a chance de oferecer, desde cedo, atividades de estímulo nessa área. Estimulados, os meninos podem ser tão bons nisso (ou até melhores) quanto suas irmãs e colegas. A seguir, algumas das principais diferenças entre os sexos e como lidar com elas.

Linguagem

Bebês de até 1 ano
DIFERENÇAS – Há diferenças sutis entre meninos e meninas nessa fase. A linguagem, a memória e as habilidades motoras finas são levemente mais atrasadas no caso deles. Em média, os meninos aprendem a falar um mês depois das meninas.
DICAS – A quantidade de linguagem dirigida a uma criança no início da vida aumenta seu vocabulário e sua capacidade de leitura e escrita nos anos seguintes. Os pais de meninos devem pecar por excesso e usar qualquer interação como chance de se comunicar: narrar ações do dia a dia (“agora eu vou trocar sua fralda”), cantar, ler e fazer jogos de palavras. Os vídeos e DVDs para bebês não funcionam. Eles precisam da interação.

Controle motor

Bebês de até 1 ano
DIFERENÇAS – Praticamente não há diferenças aparentes no desenvolvimento motor entre os sexos. Elas surgem nos anos seguintes. Muitos meninos ficam mais fortes e velozes que as meninas.
DICAS – Desde cedo, os bebês devem ter oportunidades para se exercitar e desenvolver o equilíbrio e capacidades posturais. O ideal é não deixar as crianças “estacionadas” em cadeirinhas. Isso é especialmente válido para as meninas.

Tolerância à frustração

Bebês de até 1 ano
DIFERENÇAS – Meninos geralmente são menos maduros fisicamente e mais carentes. Eles demoram a aprender estratégias para se acalmar, como chupar o dedo. As meninas podem ser calmas demais.
DICAS – Deixar os meninos chorando por mais tempo pode ajudá-los a descobrir formas de se acalmar sozinhos. Convém segurar o impulso de intervenções simples, como mudá-los de posição ou dar um brinquedo. Meninas tranquilas demais podem sofrer de falta de estímulo e interação. Uma forma de ajudá-las é reforçar o contato físico estreito, com brincadeiras físicas.

Mistura de gêneros

Crianças entre 1 e 4 anos
DIFERENÇAS – Nos dois primeiros anos, as crianças começam a identificar e distinguir os sexos, principalmente por questões culturais. Como os meninos são mais ativos, preferem brinquedos que se movem, como caminhões e bolas. As meninas, devido à orientação social mais forte, gostam mais de bonecas. Aos 3 anos, as crianças querem brincar com alguém do mesmo sexo.
DICAS – Meninos precisam de momentos de liberação física intensa. As meninas, de mais estímulos para fazer atividades físicas. Para elas, jogos com bolas são importantes, para treinar o cérebro a perceber objetos tridimensionais em movimento. Os esportes ajudam a desenvolver habilidades motoras amplas, espaciais e de coordenação para ambos os sexos. A brincadeira com bonecas também é interessante para os meninos. Reforça habilidades sociais e emocionais e estimula o desenvolvimento da empatia.

Habilidades visuais e motoras

Crianças entre 1 e 4 anos
DIFERENÇAS – Por volta dos 4 anos, meninos se saem melhor em tarefas visuais e espaciais, como montar quebra-cabeças. As meninas estão à frente nas habilidades motoras finas e desenham melhor.
DICAS – Pais de meninos podem estimulá-los a escrever e a desenhar em cavalete ou pranchetas (sem que precisem se sentar). Isso exige mais controle fino do traço. Digitar em computadores desde cedo também ajuda. É importante oferecer para as meninas quebra-cabeças, labirintos e brinquedos de montar. Muitos têm temas e cores voltados para meninos, por isso blocos de madeira mais neutros são boas opções.

Concentração

Crianças de 5 anos
DIFERENÇAS – Muitas meninas ficam quietas e atentas quando a professora pede. Meninos demoram a desenvolver o autocontrole. Isso pode ser explicado pela maturação mais lenta da área responsável por isso no cérebro, o lobo frontal. As meninas também têm maior capacidade de concentração, porque conseguem filtrar melhor os diversos estímulos que recebem.
DICAS – O autocontrole pode ser treinado. Ensinar as crianças a falar em voz alta o que estão fazendo ajuda na concentração. A escola pode ser mais atraente para os meninos, se eles tiverem oportunidades suficientes para se movimentar, além de fazer atividades que exijam manipulação de objetos. A tecnologia também é importante para atrair a atenção das crianças.

Leitura e escrita

Crianças entre 6 e 7 anos
DIFERENÇAS – Meninas costumam ter melhor desempenho em leitura e escrita. Um estudo da Universidade McMaster, do Canadá, revela que cérebros de mulheres adultas têm mais neurônios em áreas cruciais para a linguagem. Pesquisas nos cérebros de crianças não apresentaram diferença nítida entre os sexos. Cientistas também têm estudado o impacto de hormônios femininos nas habilidades verbais, mas ainda não há conclusões.
DICAS – Os meninos precisam de atenção especial para não ficar para trás. Mesmo quando a criança já sabe ler, os pais e professores podem ler livros do interesse dela em voz alta. Jogos eletrônicos ou letras móveis de madeira são úteis para reconher letras e sílabas. Os pais podem ainda estimular os filhos a escrever no papel ou no computador.

Matemática

Crianças entre 8 e 12 anos
DIFERENÇAS – Há poucas diferenças no desempenho de matemática entre os sexos quando as crianças são pequenas. Ao longo do ensino fundamental, as meninas ficam para trás, já que as habilidades espaciais dos meninos se destacam. A visão tradicional de que garotas não servem para a matemática também pesa no interesse delas pela disciplina e na confiança em seus conhecimentos.
DICAS – Escolas devem reforçar o ensino de habilidades de visualização, estimativa, mensuração, orientação e manipulação de formas. Isso é especialmente útil às meninas. Jogos de montar, mapas e quebra-cabeças ajudam nessa tarefa. Poucas meninas são incentivadas a aprender jogos como xadrez, que desafia habilidades lógicas, espaciais e de raciocínio futuro. Pais e professores precisam lutar contra os estereótipos, reforçando mensagens positivas sobre a capacidade de todos superarem dificuldades e aprenderem coisas novas.

Autoestima

Adolescentes entre 13 e 15 anos
DIFERENÇAS – Com a puberdade (e a ebulição de hormônios), as diferenças emocionais entre garotos e garotas se acentuam e têm impacto sobre o aprendizado. As meninas podem ter menor autoestima, à medida que se preocupam mais com sua aparência. Muitos meninos podem ficar mais competitivos e agressivos.
DICAS – Desde cedo, os pais devem aproveitar qualquer oportunidade, como uma briga entre irmãos, para conversar sobre sentimentos. Isso ajuda a criar crianças, especialmente meninos, mais sensíveis. Eles também podem ser incentivados a cuidar de crianças menores. Na escola, a prática de esportes com times mistos ajuda a afastar a competitividade exagerada entre meninos. Também incentiva as garotas a aprender a alegria de competir em equipe. Essas atividades devem ser equilibradas com outras de cooperação. De acordo com Lise, a adoção de uniformes escolares é indicada para conter a obsessão das meninas por roupas. 

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2013/07/como-aproximar-bmeninos-e-meninasb.html


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