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segunda-feira, 8 de abril de 2019

Como não cair na cilada de princesas e herois dos brinquedos infantis

Objetos do dia a dia podem bastar, mas indústria insiste em separar meninos e meninas























“Oi, você poderia me dar indicações de brinquedos para meninas?”, diz uma mãe. Do outro lado do balcão, a atendente de uma grande loja de brinquedos não hesitou em apontar: “a Baby Alive tem saído bastante”. “E para meninos?”. Outra resposta rápida: Lego, dinossauros e heróis.
Enquanto as garotas cuidam de mais um bebê que pede carinho, os garotos têm como referência as montagens criativas e os universos fantásticos dos personagens de desenhos. A separação de gênero dos brinquedos parece não acompanhar discussões de força na sociedade, que buscam a equidade como parâmetro para o futuro.

“A segmentação de produto é uma estratégia comercial”, diz Lívia Cattaruzzi, advogada do programa Criança e Consumo do Instituto Alana, organização que luta pelo desenvolvimento infantil e direitos das crianças. “Nas lojas, até as cores do Lego são diferentes. Se uma família tem um casal de filhos, compra dois produtos”, complementa.
O brinquedo, no entanto, não é uma criação exclusiva da lógica de compra e venda do mercado, mas diz também sobre uma característica primordial da infância: a criatividade. “Eles são objetos culturais muito antigos, e se tornaram uma representação social do campo do imaginário”, diz Raquel Franzim, coordenadora pedagógica do Instituto Alana.
Se os lares reproduzirem padrões de gênero, os brinquedos também irão. Para a criança, não importa o que diz a embalagem e suas especificações. O problema só existe quando esse objeto impõe papéis sociais que limitam o aprendizado.
“É por meio da brincadeira que a criança interage com outros e vivencia situações de casa”, diz Andrea Luiza, que coordena o projeto Toda Criança Pode Aprender. Ela lembra de uma cena curiosa: “Vi um grupo de crianças brincando com bonecas e roupinhas. Um menino chegou para brincar com um super-herói e começou a dar banho e mamadeira para ele”. Para a criança, o que dita as regras é o descobrir.
É o que Davi, de 4 anos, demonstrou em um restaurante. “Tinha uma cozinha infantil montada no local, e ele passou a se interessar por panelinhas, legumes e tudo mais. Como ele vai à feira com a avó desde pequeno, gosta desse tipo de coisa e até hoje briga querendo lavar louça em casa”, disse Anne Campos, jornalista e mãe de Davi e Ester, de 3 anos.

O que tem mais valor: um brinquedo ou um objeto do dia a dia?

Num mundo cheio de produtos, o industrializado pode atrair menos do que um objeto do dia a dia. Em um experimento com a filha, uma mãe americana ofereceu bonecas juntos com itens fortuitos (como uma chave de carro) para a bebê, que teve uma preferência bem particular: em 7 situações possíveis, escolheu o objeto aleatório 6 vezes e o brinquedo industrializado apenas uma.
Segundo Raquel Franzim, o alto poder imaginativo e criativo da criança recria os elementos culturais impostos a ela, simplesmente porque a brincadeira vale mais a pena. Trocar brinquedos ou remontá-los são ações que só dependem da imaginação. “Elas têm a capacidade de ressignificar os papéis que a indústria e a sociedade coloca”, diz.
Os pais podem apostar mais em resgatar atividades construtivas para combater a imposição de gênero e demais costumes predatórios, como o consumismo, sobre as crianças. “Temos que devolver a chance de elas construírem seus próprios brinquedos, de brincarem ao ar livre e interagirem”, cita Franzim.
Mãe de dois meninos de 3 e 8 anos, a professora Michele Prazeres preza o equilíbrio entre entender os pedidos de presente, influenciados pelo que os grupos de amiguinhos possuem , e diálogos para a conscientização: “Equilibramos, mas não promovemos o consumismo. Conversamos com eles sobre as escolhas, e sobre como eles podem trocar, herdar e dar brinquedo para outros”, diz.
Livia Cataruzzi destaca que já existe uma legislação protetiva quando se trata da exposição infantil à publicidade, com atributos adicionais como o Marco Legal da Primeira Infância, que determina a não exposição delas à comunicação mercadológica.
Para os pais e a sociedade, o momento é de pressionar para alinhar o que está nas prateleiras às expectativas dos novos tempos. Já surtiu efeito: “Vemos mais bonecas negras, mais bonecos bebês meninos”, diz Cataruzzi. No fim desse processo, as crianças só querem mais um motivo para brincar.

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