No estudo, realizado pela Oxfam em parceria com o Instituto Datafolha, 70% perceberam que a cor da pele influencia não apenas nas contratações das empresas, bem como na abordagens policiais e nas decisões da Justiça
Embora os brasileiros estejam mais conscientes sobre a influência de fatores como gênero e raça em sua condição econômica, ainda há um longo caminho a ser percorrido, sobretudo na conscientização sobre a relação entre a cor da pele e as desigualdades socioeconômicas do país. Os dados do relatório “Nós e as Desigualdades”, lançado pela ONG Oxfam esta semana, mostram evidências da dificuldade de percepção: enquanto 72% dos entrevistados acham que a cor da pele influencia na contratação de funcionários por empresas, apenas 52% acreditam que negros ganhem menos por serem negros.
Isto é, praticamente metade da população ainda não acredita que a raça seja determinante para a diferença salarial. “Essas pessoas acham que se negros e brancos estiverem ocupando o mesmo cargo, ganharão salários iguais. Ocorre que os negros quase nunca chegam a cargos altos, como os brancos. Em grandes empresas, eles ficam relegados a setores de serviços, como postos de limpeza”, analisa Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam no Brasil.
Isto é, praticamente metade da população ainda não acredita que a raça seja determinante para a diferença salarial. “Essas pessoas acham que se negros e brancos estiverem ocupando o mesmo cargo, ganharão salários iguais. Ocorre que os negros quase nunca chegam a cargos altos, como os brancos. Em grandes empresas, eles ficam relegados a setores de serviços, como postos de limpeza”, analisa Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam no Brasil.
O racismo institucional foi claramente observado entre a maioria dos entrevistados pela pesquisa, realizada em conjunto com o Instituto Datafolha em fevereiro deste ano, com 2.086 pessoas. Mais de 70% percebem que a cor da pele influencia não apenas nas contratações das empresas, bem como na abordagens policiais e nas decisões da Justiça. Para 81% dos entrevistados, pobres negros também sofrem mais com a desigualdade socioeconômica que seus pares brancos.
“O primeiro passo está dado: as pessoas percebem. E acho que essa alta percepção do racismo institucional é resultado de muitas campanhas, como as que mostram que os negros são maioria entre as vítimas de violência policial”, diz Rafael Georges, organizador do relatório. Mas Maia observa que há um descolamento entre o racismo institucional e suas consequências econômicas. “O entendimento sobre a renda ainda é ligado ao próprio esforço do trabalhador, por isso metade das pessoas ainda acha que a raça não está relacionada à remuneração”, diz ela.
“As empresas ainda estão muito distantes de oferecer um tratamento igualitário para negros e brancos. As políticas neste sentido são pontuais, não incluem uma maioria. É visível onde estão ambos os grupos”, completa a diretora-executiva da Oxfam. Em 2017, quando a ONG realizou pesquisa semelhante pela primeira vez, 46% do total acreditavam que raça era um critério determinante para os rendimentos. Essa proporção aumentou para 52% dois anos depois. Entre negros e brancos, a diferença de percepção chega a sete pontos percentuais.
Também houve aumento em relação à percepção de como o gênero impacta na remuneração. Há dois anos, 57% dos entrevistados concordavam com a afirmação: “Mulheres ganham menos do que homens no mercado de trabalho por serem mulheres”. Este ano, o índice chega a 64%. “Mulheres não estão apartadas como os negros, como ocorre, por exemplo, em São Paulo, onde se vê apenas brancos nos bairros de classe alta e média. As mulheres têm mais capilaridade em todos os espaços e classes. As pessoas negam o racismo até o último minuto”, diz Rafael Georges, organizador do relatório.
Divisão sexual do trabalho em xeque
O estudo da Oxfam mostrou ainda que 77% da população brasileira é contrária ao papel historicamente atribuído às mulheres, de ocupação somente de tarefas domésticas e dos filhos. Entre as entrevistadas, o percentual que apoia que mulheres trabalhem fora do ambiente de casa sobe para 81%. Mas segundo o IBGE, além das tarefas desempenhadas em seus empregos e demais ocupações remuneradas, no Brasil mulheres passam em média 18 horas semanais cuidando do trabalho doméstico. Já entre os homens esta carga horária cai para 10 horas.
*Maria Martha Bruno é editora, Flávia Bozza Martins é analista de dados e Marília Ferrari é designer da Gênero e Número
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