Guilherme Valadares, nosso editor-chefe, dá entrevista sobre Masculinidades Contemporâneas e levanta a bola.
O debate sobre as masculinidades tem ganhado bastante espaço na mídia. Esta semana, o Guilherme Valadares, editor-chefe aqui da casa, participou do programa Masculinidades Contemporâneas: homens possíveis, exibido pela Tv Brasil.
O Guilherme, que também é Membro do Comitê #ElesporElas da ONU Mulheres, tem sido uma figura central na criação de projetos que debatem e discutem “o que é ser homem?”. O programa da TV Brasil também apresenta outros homens que romperam com o padrão de comportamento estabelecido como “típico dos homens” e que, então, passaram a se encontrar e a se aceitar melhor.
O tema tem ganhado destaque, mas quando se fala de masculinidade ou de “desconstrução da masculinidade” ainda se tem muitas interpretações distintas. A própria noção de masculinidade acaba se confundindo com as críticas que se tem em relação à masculinidade hegemônica e é importante frisar que masculinidade não é sinônimo de ‘masculinidade tóxica’.
A palavra ‘masculinidade’, assim como ‘feminilidade’, são usadas para indicar um conjunto de comportamentos que é atribuído ao gênero masculino e feminino, respectivamente. Em geral, as expectativas sobre o comportamento masculino, de acordo com um padrão social, é de que os homens sejam mais objetivos, briguentos, cheios de desejo sexuais e pouca sensibilidade emocional, por exemplo.
O Leo Hwan, fez um vídeo muito interessante e divertido para gente entender como se forma nosso imaginário sobre o que é ser “homem de verdade”:
Isso abre a porta pra gente entender que existem vários conceitos de masculinidades. A regra não é clara. O machão ideal pode ir tanto do super jogador de futebol, até o elegante e cheio de bons modos, James Bond. Raewyn Connell, responsável por estudar e forjar alguns dos conceitos de masculinidade na sociologia, já apontava que não existe um modelo de “masculino ideal” definido na sociedade. São várias possibilidades e, dentre elas, algumas são mais valorizadas que outras. Afinal, o Aragorn é mais valorizado enquanto “modelo de homem” que o Frodo ou, como o Rafa Rios mostra na reportagem da TV Brasil (aqui também temos um texto dele), quando ele decidiu ser florista, sentiu-se menos valorizado em comparação à época que era militar ou advogado.
Connell traz essa idéia de que masculinidades são modelos de referência que estão sempre mudando e são articulados com as demandas da sociedade contemporâneas. Portanto, nos dias de hoje podemos forjar modelos mais diversos e compreensivos.
A série Brooklin Nine Nine, por exemplo, como já foi abordado aqui no PdH, é um ótimo caso em que vemos despontar novos modelos de masculinidades mais diversos e positivos.
Esse é o movimento que tem acontecido hoje com diversos homens Brasil a fora. Como dizemos por aqui: é tempo de homens possíveis. No entanto, quando a capa da revista Galileu questiona se existe um novo homem, o Gui Valadares levanta um ponto essencial ao questionar o quanto esse termo “novo homem” acaba sendo uma forma de colocar o homem em outra caixa padronizada e apertada.
Basta se perguntar: o que faz o novo homem? “É sensível, forte na medida, seguro sexualmente, brocha de vez em quando, faz trabalho artesanal, romântico em algumas ocasiões, viaja o mundo, se veste bem… Nossa cansa até de falar”. De fato… Em paralelo, no feminismo, isso é o que a gente chama de padrão “mulher maravilha”, a suposta “nova mulher que é super independente, forte, esportista, divertida, cientista, baladeira e ainda cuida da família”.
Qualquer um desses padrões continuam sendo negativos. Não que a mulher maravilha ou o que o padrão “Rodrigo Hilbert” sejam modelos ruins, mas é que TER QUE corresponder a essas expectativas, ter que se encaixar nestas arestas é cansativo e acaba com a preciosidade que é a individualidade.
É ótimo que o tema das masculinidades seja mais debatido e que consiga chegar até mais homens. Porém, é importante também que a gente consiga parar pra refletir e se aprofundar nas discussões, afinal, como repensar a masculinidade sem estabelecer um novo padrão que também é limitante?
Algumas perguntas chaves ficam suspensas quando começamos a falar sobre padrões ou modelos de referência do masculino. E acreditamos que essas reflexões são essenciais para o desenvolvimento desses homens possíveis. De homens que se repensam, se entendem, se refletem e se reconfiguram enquanto indivíduos absolutamente únicos, mas conectados com o mundo e com as mudanças à sua volta.
Então, enquanto redação, gostaríamos de propor algumas perguntas que dão pano pra manga aqui nos comentários. Saindo do padrão convencional, o que te define como homem? Definir-se homem precisa ser uma busca por diferenciar-se do feminino? Qual seria o tal do “papel do homem”? E esse papel é seu enquanto indivíduo ou existe um papel geral dos homens? E mais uma vez, como repensar a masculinidade sem estabelecer um novo padrão?
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