Quando um colega de trabalho insiste em tocá-la de alguma forma durante a conversa, quando um colega de sala ou de curso diz coisas como “você conseguiu passar só porque é mulher” ou quando um professor afirma “a lógica das mulheres é diferente”, quando isso acontece, não se engane, você está diante de uma postura machista. Com o objetivo de evitar esse tipo de constrangimento foi criado no Instituto de Matemática Estatística e Computação Científica da Unicamp (Imecc) o Grupo Elza, com o planejamento de várias ações. Uma delas foi a palestra “Mulher e trabalho na contemporaneidade" proferida pela advogada e pesquisadora do NETSS - Núcleo de Estudos Trabalho, Saúde e Subjetividade da Faculdade de Educação da Unicamp, Thaissa Rocha Proni.
A advogada trouxe dados de uma pesquisa recente, divulgada pelo Instituto Avon, sobre a resistência das pessoas ao diálogo sobre o feminismo. O levantamento, feito com 9.000 pessoas de diferentes cidades, apontou que 80% dos entrevistados que se consideram contra o feminismo não querem conversar com quem pensa diferente. A conclusão do estudo é a de que a simples omissão de termos como feminismo, machismo, masculinidade tóxica, patriarcado, equidade, cultura de estupro ou gênero, pode facilitar a construção de pontes.
Thaissa também lembrou que as mulheres não são minoria no país e sim correspondem a 51,6% da população brasileira. Ela destacou que os dois grandes campos de luta para as mulheres são o combate à violência doméstica e a promoção da igualdade no trabalho, tema da palestra.
Segundo a pesquisadora, embora amparadas pela lei, as mulheres não vivem as mesmas realidades que os homens no ambiente de trabalho. Ocupam menos de 40 por cento de cargos gerenciais, embora sejam a porcentagem mais bem qualificada.
A representação política também deixa muito a desejar, não chega a 11 por cento das cadeiras na Câmara dos Deputados, segundo dados de 2017. Em compensação no trabalho doméstico e/ou cuidado de pessoas, as mulheres dedicam, semanalmente, em média 8,6 horas a mais.
A palestrante concluiu que a mudança nesse cenário pode se dar com o desenvolvimento de mecanismos eficientes que conduzam a uma mudança cultural no mercado de trabalho, “obrigando as empresas e as instituições públicas a não apenas cumprirem a legislação, mas promoverem medidas efetivas de promoção da igualdade de remuneração e oportunidades”.
Elza
O nome do grupo foi inspirado em três Elzas: Elza Gomide foi a primeira doutora em Matemática no Brasil; Elza Berquó, demógrafa, e a cantora Elza Soares por sua história. Instituído há um ano depois de um episódio de assédio envolvendo um ex-aluno do Imecc, o grupo faz um trabalho constante de combate ao preconceito e aos abusos contra a mulher e também de valorização e incentivo para a carreira acadêmica, sobretudo na área de exatas que historicamente tem baixa adesão de mulheres.
No Imecc por exemplo as mulheres correspondem a apenas vinte por cento do quadro de docentes, 36% dos alunos de graduação e 28% dos alunos de pós-graduação, de acordo com dados da professora Anne Bronzi, uma das coordenadoras do grupo Elza. Uma das ações de incentivo e permanência das mulheres na matemática é um ciclo de palestras que está sendo preparado com pesquisadoras do Imecc, convidadas a contar sobre seu trabalho e trajetória de vida. (veja a programação).
O Grupo Elza também está elaborando um manual de boa conduta e situações a serem evitadas que já, mesmo em formato preliminar, apresentado aos calouros. “Ainda pretendemos trabalhar em campanhas via e-mail e cartazes, num trabalho constante de conscientização já que recebemos novos alunos, funcionários e docentes praticamente durante todo o ano. Como formamos profissionais que vão atuar na sociedade em breve nossa ideia é que eles levem adiante as informações e possam contribuir com uma sociedade melhor”, afirmou.
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