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sexta-feira, 19 de abril de 2019

É preciso estar atenta, mesmo que nem sempre forte: violência contra a mulher, depressão e ansiedade

Hypeness
por: Gabrielle Estevans
Você acordou, foi ao banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes. Se isso tomou, em média, dez minutos do seu dia, nesse tempo alguma mulher foi estuprada. No sábado você saiu para jantar com amigos, tomou bons drinks e voltou segurx para casa. Se o passeio levou duas horas, nesse intervalo uma mulher foi assassinada.

Os dados compilados no dossiê Violência Contra a Mulher assustam — e, de fato, deveriam. Quando o assunto é violência de gênero, o Brasil tem um destaque perverso no quadro mundial: estamos na quinta colocação entre os países com maior taxa de homicídios de mulheres. A nossa frente, apenas El Salvador, Colômbia, Guatemala e a Federação Russa evidenciam taxas superiores às apresentadas por este patropi. Pior: para mulheres transexuais, o perigo é ainda mais iminente. Temos a maior taxa de homicídios de transexuais do mundo, segundo dados da ONG Transgender Europe (TGEU.)
Agressões, ameaças, opressão, explorações, estupro, tortura, violência psicológica, perseguição. Feminicídio. São algumas das palavras recorrentes no dia a dia de quem é mulher. Independente da forma e da intensidade, a violência de gênero se faz presente nas nossas existências e se esparrama tanto em espaços públicos quanto nos privados. Neste cenário caótico e aterrorizante, a conta da carga mental já está chegando — e sendo paga. Somos os líderes no ranking com mais casos de transtorno de ansiedade e depressão na América Latina. A maioria diagnosticada é mulher.
Estamos adoecendo.
Metade do contingente feminino — 50,2 milhões em 2011, segundo o IBGE — está em situação ainda maior de vulnerabilidade. Mulheres negras sofrem diariamente com a falta de segurança e remuneração digna. Vivem com a falta. Nessa ausência latente, a saúde mental das mulheres da base da pirâmide está destroçada. Não é o suficiente que falemos sobre autocuidado sem racializar a discussão. Que diferença há de fazer, afinal, se não mexermos profundamente nas estruturas?
A discriminação e preconceito percebido isoladamente geram disparidades na saúde mental, ou seja, mesmo a pessoa negra com boas condições financeiras e alta escolaridade apresenta sofrimento psíquico por sofrer racismo. Existe uma associação positiva entre racismo percebido/discriminação e depressão, ansiedade, Transtorno de Estresse Pós Traumático. Apresentamos maiores níveis de estresse crônico que a população branca em todos os contextos pesquisados, sendo que mulheres negras referem mais estresse que homens negros.” 
Jeane Tavares, psicóloga e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Jeane Tavares, em artigo sobre saúde mental da população negra, oportunidades, causas e consequências deste problema estrutural
Entrevistei, em 2018, Aline Ramos, editora do BuzzFeed, para uma jornada de desenvolvimento humano da Comum. Aline, à época, tinha sido diagnosticada com depressão e resolveu falar abertamente sobre a doença tão estigmatizada em suas redes sociais. Hoje, traz o assunto para pautas jornalísticas de forma preciosa. Livroslistas e caminhos possíveis para que a gente não se abandone à própria sorte.
Também participei do mesmo especial da Comum como personagem. No vídeo, relatei a experiência de então dois anos com o ir e vir da depressão. Porque é isso: doenças mentais não são passageiras como um resfriado. Elas seguem nos rondando, à espreita, durante, às vezes, toda uma vida.
Precisamos estar atentas. Nem sempre é possível que estejamos fortes, mas é necessário que estejamos constantemente atentas. Seja com redes de apoio consistentes, com tratamentos psicológicos ou até intervenções médicas, quando necessário. Estamos nas trincheiras de uma guerra árdua e diária, mesmo as mais privilegiadas, mesmo aquelas que negam a existência das amarras do machismo estrutural. Estamos em guerra, mas estamos juntas. Nesse cenário, cuidar de nós mesmas é mais que indulgência, é uma estratégica política de sobrevivência, como já apontava, lá em 1988, Audre Lorde. O aviso, aliás, 31 anos depois, ainda é válido.

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