Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

domingo, 30 de setembro de 2012


Distúrbios psíquicos surgidos na adolescência são os mais graves

Mudanças de humor e reações bruscas podem confundir os pais, escondendo sintomas de males como a depressão
De acordo com estudos acadêmicos, a prevalência de doenças psiquiátricas na faixa etária da infância e da adolescência gira em torno de 10% a 15%, e quanto mais cedo os distúrbios se manifestam, mais graves elas são, afirma o psiquiatra e professor adjunto da Unifesp Rodrigo Bressan. Por isso, os pais precisam ficar atentos ao comportamento dos filhos: a alteração do modo de agir tão comum em adolescentes pode nem sempre ser algo tão normal como se pensa.

Reabilitação
Diagnóstico precoce favorece tratamento
O tempo de recuperação para quem sofre de problemas psiquiátricos depende muito do diagnóstico precoce. Por isso, é importante que a família perceba a doença o mais cedo possível. “Quanto antes, mais rápida é a reabilitação do paciente”, declara o psiquiatra João Luiz Martins, da Unidade Intermediária de Crise e Apoio à Vida.
Conforme o psiquiatra e conselheiro fiscal da Sociedade Paranaense de Psiquiatria Marco Antônio Bessa, dependendo do tipo de transtorno e do tratamento, é possível que chegar à cura. “Depressão e ansiedade, por exemplo, se diagnosticadas precocemente e tratadas corretamente, costumam ter resultados bons. Mas, se não tratadas ou tratadas de forma incorreta, o risco de cronificar é muito grande.” Segundo Bessa, um dos grandes empecilhos que dificultam o tratamento adequado é a própria resistência da família em aceitar a situação e procurar um especialista.
Transtornos mentais causam envelhecimento
Distúrbios mentais como a esquizofrenia e o transtorno bipolar, se não tratados corretamente, podem aumentar a chance de a pessoa ter alguns tipos de câncer, problemas cardiovasculares, acidente vascular cerebral (AVC), envelhecimento precoce e diminuição da expectativa de vida. Com base nisso, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estão envolvidos em um projeto que, desde 2009, acompanha um grupo de adolescentes com alto risco de desenvolver tais problemas. O objetivo é descobrir a hora certa de agir antes que os transtornos se manifestem intensamente, evitando, assim, situações graves no futuro.
Para isso, a pesquisa está em busca de uma metodologia eficaz para essa prevenção. De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, professor adjunto da Unifesp e um dos pesquisadores do projeto, além da utilização de estratégias psicoterápicas, como a redução do consumo de drogas e álcool, a intenção é fazer uso de substâncias neuroprotetoras, que poderiam blindar as células do cérebro e diminuir o risco de manifestação dessas doenças.
Toxinas
Clarissa Gama, profes­so­­ra de psiquiatria na Uni­versidade Federal do Rio Gran­­de do Sul e integrante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM), ressalta que, além de afetarem a aprendizagem, quando não tratados, os distúrbios são responsáveis por alterar a fisiologia do organismo devido às substâncias tóxicas que liberam durante o surto. “É uma exposição muito grande a processos que aceleram a liberação de tóxicos e, por isso, quem sofre com esses transtornos tem uma expectativa de vida menor e pode desenvolver câncer, problemas do coração e hipertensão”, relata.
Conforme o psiquiatra e conselheiro fiscal da Sociedade Paranaense de Psiquiatria (SPP) Marco Antônio Bessa, situações exageradas de irritabilidade, isolamento social, afastamento da família e amigos são possíveis sintomas de que alguma coisa não vai bem e de que o adolescente está precisando de ajuda. “Se esses sintomas acabam impactando outras áreas, o isolamento ou a agressividade se tornam comuns, é momento de se preocupar”, diz.
Foi o que aconteceu com Vitor*. Quando tinha 17 anos, a mãe, a assistente social Maria*, notou que o isolamento do menino não era comum. Aos poucos, o que seria apenas uma característica da personalidade dele se tornou uma justificativa para que Maria procurasse um especialista, que logo diagnosticou a depressão.
Após oito meses de tratamento com antidepressivos, Vitor se sentiu melhor e resolveu deixar de lado os remédios. Algum tempo depois veio a reação que a família não esperava. Em uma manhã, o adolescente levantou confuso, nervoso e agitado e, com um soco, esmiuçou o vidro da janela do seu quarto. “O soco no vidro foi a primeira reação dele. Depois disso, fui procurar ajuda psiquiátrica, e o médico identificou na hora que meu filho estava com transtorno obsessivo compulsivo e também com sintomas de esquizofrenia. Procurei ajuda imediatamente, logo depois do soco, porque sabia que aquilo não era normal”, relatou a mãe.
Hereditariedade
O soco de Vitor tem ex­pli­cação. De acordo com o psiquiatra da Unidade In­termediária de Crise e Apoio à Vida João Luiz Martins, na maioria dos casos, pessoas com distúrbios mentais não têm consciência de suas reações nos momentos de crise, pois não conseguem perceber que não respeitam limites. Para ele, além de fatores ambientais, como morte dos pais, crises na família, bullying e estresse, o histórico familiar prevalece muito no desenvolvimento de um distúrbio. “Adolescentes com transtorno, muitas vezes, têm casos na família de alguma pessoa com patologia psiquiátrica, depressão, e isso com certeza contribui para que esse adolescente venha a ter um problema também.”
Segundo a psiquiatra e integrante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Trans­lacional em Medicina Clarissa Gama, filhos de pessoas com esquizofrenia têm 15 vezes mais chances de desenvolver a mesma doença do que os que não têm nenhum caso na família. Vitor pode servir de exemplo para explicar a influência genética na manifestação de problemas mentais, já que Maria sofreu de depressão quando era mais jovem. “Eu tive problemas, sofri de depressão. De uma certa forma, isso me ajudou com o Vitor porque conheço psiquiatras e não tenho preconceito contra os tratamentos. Muita gente acha que quem procura psiquiatra é louco, mas eu sei que não. Já passei por isso e não tive medo de buscar ajuda para o meu filho”, relatou a mãe.

* Nomes fictícios

Dê sua opinião
Que tipo de estrutura os pais dispõem para auxiliar no diagnóstico de distúrbios mentais dos filhos adolescentes?
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário