O mundo (é) dos pré-adolescentes
Tenho uma filha e uma enteada, ambas com 12 anos. Acompanho o comportamento delas e dos amigos da mesma idade e percebo como é peculiar essa fase. São os chamados pré-adolescentes ou tweens, compreendendo a idade de 8 a 12 anos – um momento em que não são mais crianças (e detestam que digam que são), mas ainda não chegaram à adolescência. O termo “tween” vem justamente de between (no meio, entre) – eles não são uma coisa, nem outra. O que eles são?
Li que a categorização dos tweens é coisa recente. Antes estudava-se a criança e o adolescente. De 15 anos pra cá, essa fase pré-adolescente começou a ser vista com mais critério – pelos estudiosos e, principalmente, pelo mercado.
Conversei com a economista e pedagoga da Universidade de Campinas (Unicamp) Maria Aparecida Belintane Fermiano, que estuda os pré-adolescentes. E listei algumas características dessa galerinha que divido abaixo com vocês – contando com os comentários e os acréscimos de quem tem um desses em casa.
- Eles têm mais autonomia do que a geração passada. Talvez até saiam de casa sozinhos mais tarde. Mas sua opinião tem mais peso dentro da família, assim como as decisões de consumo. Eles gostam disso. Lá em casa, reparo como querem influenciar em tudo. Outro dia fomos comprar um quadro novo pra sala. Eu e meu marido acabamos escolhendo um que não era o preferido deles. Pois ficaram indignados. Acreditam de verdade que têm direito a voto até em quetões que não dizem respeito diretamente a eles, coisas que não são “assunto de criança”. Culpa nossa?
- É o começo das festas deixar-e-buscar (o que é ótimo para pais que não aguentavam mais animadores histéricos de festas infantis), muitos têm mesadas e começam a andar pequenos trechos sozinhos. Mas ainda estão extremamente ligados à família e, de vez em quando (que delícia) parece que ficam com saudade do passado e bancam as criancinhas dengosas – especialmente na hora de dormir. (Eu, por exemplo, só chamo minha filha de “Bebê”, pra ver se ela convence o tempo a passar mais devagar).
- Esse poder nas decisões de consumo já foi detectado pelas empresas. Produtos focados especificamente pra esses tweens invadiram o mercado, a TV, o cinema e o mundo da música. Só quem ouve Justin Bieber e Demi Lovato em todas as saídas de carro sabe. Aliás, eles também acham que o rádio do carro é deles. Ou talvez que o próprio carro seja deles! Cabe a nós colocar “música de adulto” de vez em quando – até para eles educarem melhor os ouvidos.
- Como essas criaturas adoram sagas! Tudo que eles querem é se identificar com personagens e acompanhá-los até perder de vista. Tudo é 1, 2 e 3 (quando não é mais). Harry Potter, High School Musical… Os livros da Thalita Rebouças, ídola de 9 entre 10 meninas dessa idade, são prova disso. É Fala Sério que não acaba mais, e, principalmente as meninas, superidentificadas com a personagem Malu.
- Os pré-adolescentes têm, cada vez mais e mais cedo, seus apetrechos tecnológicos individuais: o computador no quarto, um laptop, smartphones. Isso os ajuda a criar mais cedo um mundinho próprio. E dá-lhe Iphone na mesa na hora das refeições.
- Eles sentem ainda mais necessidade de pertencer a grupos, tribos, do que os adolescentes. Não à toa esses comportamentos se propagam rapidamente. Um bom exemplo são as gírias dessa faixa de idade. Que mãe não ouviu a expressão BFF? Best Friend Forever. Ou BV, Boca Virgem.
- A amizade para os tweens é a forma de relacionamento mais forte, importante, passional, do mundo. Como a maioria ainda não namora e já começa a fase de se descolar dos pais, os amigos são deuses na terra. Não se desgrudam, real ou virtualmente. E (entre as meninas) é um tal de “te amo pra cá”, “linda” pra lá, “diva” pra acolá.
- Separam bem a linguagem da internet da formal. Nas redes sociais e nos SMS, não se importam com a grafia correta das palavras (mesmo quando tiram excelentes notas em Português na escola) e fazem uma incrível sopa de letrinhas, abreviando tudo. “vdd” = verdade. “pse” = pois é. Também tem um monte de “aham” e “ata”. “Eu pergunto, por torpedo: “filha, você já chegou no inglês?”. Ela responde: “n”. Sinceramente, “não” é uma palavra tão pequenina… Custa escrever toda?
E você? O que mais repara no seu pré-adolescente?
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