Estudo comprova que excesso de cuidado é prejudicial. Descubra como você pode estimular a independência das crianças, de acordo com a idade delas
Nádia Mariano
Quem tem filhos sabe que uma linha tênue separa o instinto de garantir a segurança das crianças e a superproteção. Mas, por mais difícil que seja, é preciso identificar de que lado deste muro você está, porque cuidado e proteção em excesso podem prejudicar o desenvolvimento do seu filho. Essa é a conclusão de um estudo realizado pela Universidade Macquerie, na Austrália.
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores avaliaram o comportamento de 200 crianças, com idades entre 3 e 4 anos, e de suas respectivas mães. Eles perguntaram a elas se permitiam que o filho escolhesse a própria roupa quando já era capaz e se os deixavam escolher os amigos para brincar, entre outras questões.
Todos voltaram a ser analisados cinco anos mais tarde. Os cientistas concluíram que os filhos de mães superprotetoras eram mais ansiosos do que as outras crianças. “A insegurança da mãe em relação ao futuro do filho e aos perigos inerentes à vida gera, sim, ansiedade na criança”, diz Vivien Bonafer Ponzoni, terapeuta, coordenadora do Núcleo de Psicodrama de Família da Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama.
Ok, toda mãe sente insegurança em relação ao futuro dos filhos e aos perigos do dia a dia. Isso é normal, mas se torna um problema quando os seus medos passam a interferir diretamente na vida da criança. Se deixá-lo brincar no parquinho do prédio ou ir à festa de um amigo, por exemplo, é um problema para você, então, é hora de procurar ajuda. Essa superproteção pode, sim, prejudicar o crescimento (e amadurecimento) do seu filho.
Dar autonomia a uma criança requer coragem porque você vai ter que controlar o próprio medo e incentivar que o seu filho faça aquilo que ainda não sabe, mas precisa aprender. “Se por um lado a sociedade conseguiu instruir as famílias a conduzirem melhor as crianças, por outro fez com que os pais se tornassem medrosos”, diz Diana Corso, psicanalista e autora de Fadas do Divã (Ed. Artmed). E esse medo cria um círculo vicioso. “A criança perde a possibilidade de acreditar que acreditam nela”.
Para Vivien, o medo e a ansiedade fora do comum só trazem prejuízos para a saúde psicológica das crianças. “Pode resultar em pouco rendimento escolar, baixa autoestima, inquietude, dificuldade de atenção e concentração nas tarefas, agressividade e muitos outros sintomas que a impedem de se desenvolver psicologicamente com segurança”, diz a especialista.
No estudo, foi constatado, ainda, que o risco da criança ser ansiosa é muito maior quando a mãe também sofre com esse problema. “A intenção da mãe ao proteger seu filho das frustrações e perigos revela muito mais de si mesma do que da necessidade da criança em ser amparada”, diz Viven. “Essa mãe precisa de muita atenção, seja por meio da escola, do companheiro ou até mesmo de um profissional para que ela aprenda a transformar os sentimentos de angústia em força e coragem. Desta maneira ela também poderá seguir sua vida e ser mais feliz”, completa.
Veja como estimular a independência do seu filho por faixa etária:
- Até 3 anos: Se ele não quiser emprestar os brinquedos a um amigo, converse com seu filho, mas não entregue o brinquedo para a outra a criança. Ele precisa tomar a iniciativa de oferecê-lo e, assim, aprender desde cedo a negociar. A ideia pode ser aplicada em várias situações.
- 4 a 5 anos: Ele guarda os brinquedos, escolhe as roupas, escova os dentes, toma banho sozinho – mas você precisa checar se tudo ficou bem limpinho. Ele ainda pode ajudar você em pequenas tarefas domésticas, mas não vale fazer por ele.
- A partir de 6 anos: Ele já pode separar o material escolar e arrumar a mochila. Você só supervisiona, OK?
Fonte: Márcia Ferreira, psicóloga (SP)
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