Participação da mulher na política enfrenta velhos e novos preconceitos da sociedade
Michele Bachelet, da ONU, acredita que as cotas aceleram a participaçãoi feminina na política (Foto: Maria Elisa Franco/ONU) |
São Paulo – Com 80 anos completados em 2012, a conquista do voto feminino foi um importante passo rumo a uma sociedade mais igualitária, mas a histórica cultura machista e patriarcal ainda deixa marcas tanto na sociedade como dentro dos próprio partidos políticos. O mundo moderno, entretanto, impõe outras – e novas – condições que aparecem como empecilhos para que um maior número de mulheres tome conta de cargos no Executivo e no Legislativo pelo país afora.
"A questão do preconceito na sociedade ainda é forte, e não é só nos partidos. Seria algo relacionado a essa questão mais machista de que a política estaria mais relacionada ao público masculino por conta de algumas características próprias do meio", diz a cientista política Maria do Socoro Braga de Souza, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
Para Vera Soares, Secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria de Política para as Mulheres do governo federal, o motivo para o déficit de participação feminina na política é a falta de incentivo e de investimentos das próprias legendas para que as mulheres sejam efetivamente eleitas, não figurando apenas por cumprimento da cota exigida por lei."Não é que as mulheres não queiram ou não gostem de política. Elas participam ativamente dos movimentos sociais que impulsionam as transformações do país. Mas elas acabam não participando da política formal. Eu acho que o grande impedimento aí são os partidos e a falta de investimento por parte deles", ressalta Vera.
"O machismo está presente como um todo, ainda na sociedade, nos partidos, dentro de casa, nos sindicatos. Ele está presente em todas as relações sociais. As mulheres que chegam para participar das eleições já entram numa concorrência desigual. As que têm as mesmas condições financeiras e de apoio à candidatura, como os homens, são poucas. E aí reflete no resultado das eleições", afirma Sônia Auxiliadora Vasconcelos, secretária da Mulher Trabalhadora da Central Única do Trabalho de São Paulo (CUT-SP).
A cientista política Maria do Socorro comenta que ainda há evidências da existência de uma cultura de preconceito de gênero, mas que isso vem se diluindo com o passar dos anos. Hoje, a pesquisadora afirma que as mulheres convivem com outros problemas antes de cogitar a possibilidade de fazer e paticipar da política brasileira. "O homem está mais propício a votar numa mulher do que na década de 40, 50, o que já é um avanço. Mas há outros problemas. Os maiores deles estão relacionados às dificuldades da mulher numa sociedade de massa e moderna como é a brasileira. Desempenhando as diferentes funções que ela desenvolve mais a política: mãe, dona de casa, profissional, e outras tarefas", defende.
Crescimento x cotas
O crescimento das candidaturas femininas de eleição em eleição é evidente, mas ainda representa um número aquém que alcance a paridade do número de homens na política. Segundo o TSE, a proporção de mulheres entre os candidatos a vereador e prefeito subiu de 22% nas eleições de 2008 para 31% neste ano. Em 2008, 81.251 candidataram-se. Atualmente as postulantes a cargos públicos somam 151.426.
A diretora-executiva das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero (ONU Mulheres), Michele Bachelet, já defendeu que a participação política deve ser acelerada por meio de sistemas de cotas. "A ONU Mulheres vai ajudar os movimentos das mulheres, trabalhar com os parlamentos para alterar a legislação para incluir perspectivas de igualdade de gênero, e apoiar leis de reformas eleitorais que facilitem a incorporação de mulheres como votantes e candadatas”, disse Bachelet, acrescentando que a agência aconselhará sobre a adoção de leis que incluam o sistema de cotas.
A cientista política da Ufscar, porém, não vê as cotas como saída para o aumento da participação feminina nos processos políticos. Segundo ela, a cota, hoje exigida por lei no Brasil, já tem certa dificuldade de ser preenchida. "A gente tem de primeiro se perguntar porque tem um pequeno público feminino que se interessa por política. Eu realmente não sei se a criação de uma nova regra necessariamente vai levar tantas mulheres à política".
Segundo relatório da ONU de janeiro deste ano, o Brasil ocupa a 26ª posição no ranking do países com maior número de mulheres como ministras de Estado. Dos 37 ministérios, apenas 10 estão nas mãos de mulheres. Enquanto na Noruega, país que ocupa o primeiro lugar no ranking, dos 19 ministérios, 10 têm à frente figuras femininas.
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