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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


EUA reescrevem os livros didáticos para o Afeganistão


Agências americanas fazem mudanças em livros sobre história afegã

Objetivo é eliminar material que possa incitar
intolerância ou violência religiosa
(Reprodução/The Economist)
A percepção das crianças afegãs a respeito da sua própria história ao longo das últimas quatro décadas está sendo submetida a um retoque surreal graças a algumas agências americanas que já estão se preparando para deixar o país. A nova edição de livros didáticos para escolas secundárias do Afeganistão foi financiada parcialmente pelo braço de auxílio humanitário das forças americanas, o Commander’s Emergency Response Programme. Assessores culturais do exército americano revisaram esses livros com a intenção de eliminar qualquer material não apropriado que possa vir a, por exemplo, incitar intolerância ou violência religiosa.

Por que tanto zelo? Há vários antecedentes embaraçosos: na década de 80, a USAID, num espasmo de fervor inspirado pela Guerra Fria, apoiou a publicação de milhões de livros didáticos exaltados para crianças afegãs. Esse currículo escolar patrocinado pelos americanos, publicado com a Universidade de Nebraska, tentou ensinar matemática básica às crianças nas escolas com ilustrações de tanques, mísseis e minas terrestres. Essas crianças há muito atingiram a idade de batalha, por assim dizer.

Desta vez o pêndulo ideológico se encontra no outro extremo. A fim de evitar controvérsias, a maior parte do passado recente do Afeganistão simplesmente foi apagado dos livros didáticos de história, cujos capítulos se tornam subitamente misteriosos a partir do ano de 1973. Em um desses livros, intitulado “Ciências Sociais”, os eventos são poucos e espaçados entre si: apenas duas páginas de listas de nomes e datas quase totalmente isentos de descrições. Em seguida uma única página é dedicada a enumerar diversas injúrias colossais contra o Afeganistão e seu povo. Uma frase central nesta página final afirma “É óbvio que isso tudo é culpa dos estrangeiros” (embora não sejam especificados quais estrangeiros exatamente).

O livro “Ciências Sociais” inclui uma breve menção à invasão soviética que faz uso de verbos evidentemente cautelosos, como, por exemplo, a União Soviética “acabou” com o regime anterior e “levou” Babrak Karmal, seu fantoche comunista, ao poder. Uma frase politicamente esterilizada resume outro período marcante da história afegã (conforme traduzido a partir do Dari):

Em 1996, o guerreiro da liberdade Mullah Mohammed Omar, líder do Talibã, chegou ao poder e declarou o Emirado Islâmico do Afeganistão; ele foi removido do poder em 2001.

Ao leitor cabe adivinhar quem operou a remoção. O livro didático não revela absolutamente nada a respeito das forças americanas. E nenhuma palavra é dedicada a Ahmad Shah Massoud – o líder assassinado da Aliança do Norte – cujo retrato pode ser visto em quase todos os cruzamentos importantes de Kabul ao lado da foto de Hamid Karzai e que talvez se aproveite de parte da glória deste. Seu rosto é para Kabul, pode ser dito, o que a efígie de Che Guevara é para Havana.

Uma vez que fotos são mais seguras que adjetivos, uma página dedicada à eleição de 2004 que trouxe Hamid Karzai de volta ao poder é repleta de fotos. O seu texto exíguo afirma simplesmente que no dia da votação a atmosfera era de calma e a votação foi secreta.

O que esses livros didáticos expressam não são exatamente lições de ciências sociais, mas sim uma forma tíbia de fraude. Na vida real, para crianças em idade escolar e adultos, fala-se e ouve-se a respeito do exército americano pode todo lado na capital, de helicópteros que cruzam os ares (conforme aeronaves-robôs o fazem sob territórios mais disputados) a barreiras de concreto e arame farpado que transformaram as ruas do centro de Kabul em túneis. O contraste entre essas cenas e as páginas impressas dos livros didáticos oficiais será chocante.

Fontes: The Economist-Not yet history

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