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terça-feira, 4 de dezembro de 2012


Extensões dos nossos corpos

Que os instrumentos usados por nós para criar, produzir e transformar são extensões de nosso corpo já é de conhecimento geral há mais de 50 anos --Marshall McLuhan o disse.

O martelo é o prolongamento do nosso punho, o binóculo é nosso olho grande etc. Se os instrumentos são extensões do corpo, a casa onde moramos também é.

Minha casa é minha pele, parede que me separa do exterior. Como a casa, o corpo tem dentro e fora: pele, carne e entranhas. Cabe a cada um cuidar do seu funcionamento e até auscultá-lo de vez em quando.

Assim como acessamos o organismo, temos acesso ao funcionamento da casa. Assim como cuidamos da higiene do corpo, cuidamos da limpeza da casa.

Se nos alienamos do nosso corpo, deixando-o à mercê só de especialistas, a chance de percebermos tardiamente uma disfunção aumenta. O contato com o corpo facilita a compreensão de avisos --e não só de pedidos de socorro.

Quem mora numa casa cujo interior lhe é desconhecido não passa de um estranho no ninho ou alguém que vive num ninho estranho. Só quem participa do dia a dia do lar se sente em casa.

"Prevenir é melhor que remediar". Vale para a minha vida orgânica e para o ninho que a contém.

Quem não arruma a cama não percebe se o colchão e o lençol estão em bom estado. Antes que o dano seja irreversível, é bom ter contato com o que nos rodeia.

Quem nunca lava e guarda a louça não sabe o que tem, o que falta e o que é demais. Estar presente na manutenção da casa e do corpo é uma forma de garantir "longa vida". É importante que a casa seja fruto da manutenção dos que a usam. Cuidar, manter, limpar é que é ter. Quem cuida tem.

Não adianta título de propriedade se não sei onde é a caixa de luz.

Aquelas famílias que fazem coisas --mãe que borda, pai que conserta-- transmitem aos filhos a sensação de que "podemos".

É raro ouvir alguém que rememore a infância sem fazer referências aos afazeres --a lembrança do dia em que o pai, o tio fez uma pipa, um bolo, uma caixinha.

A visão do adulto fazendo é uma das melhores memórias da criança. Falo em fazer em casa, onde a criança pode participar e se sentir incluída.

É bom quando a gente sabe onde está o lenço, o analgésico e a toalha. É na familiaridade com os objetos que reside minha segurança.

Esta casa é minha. Estou em casa. Não estou sozinha. Fazemos juntos. Aqui se faz.
Anna Veronica Mautner
Anna Veronica Mautner psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (Ed. Ágora) e "Educação ou o quê?" (Ed. Summus). 

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