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domingo, 9 de dezembro de 2012


Tráfico humano: brasileira foi vendida a casal francês recém-nascida
por Mariana Sanches
Kharla Livingston, de 31 anos, foi uma das vítimas da rede de tráfico de crianças que atua no país
O TRÁFICO DE CRIANÇAS É UMA DAS RAMIFICAÇÕES DO CRIME (FOTO: SHUTTERSTOCK)
"NÃO POSSO VIVER SEM SABER DE ONDE VIM"

Um dos crimes contra a dignidade humana abordados em "Salve Jorge" é a adoção ilegal internacional de crianças. Embora não seja considerado tráfico, o comércio de bebês não é um crime menos cruel. Tecnicamente, o tráfico pressupõe a exploração financeira da vítima por um tempo, o que não acontece na adoção. “Não temos registros recentes de crianças nessas condições. É difícil passar por um aeroporto levando um menor de idade”, afirma a ministra Luiza Lopes, do Itamaraty. Nem sempre foi assim. Leia o depoimento de Kharla Livingston, uma brasileira de 31 anos, vendida para um casal francês quando era recém-nascida
"Aos 3 ou 4 anos de idade, descobri que era adotada. Meus pais me contaram que eu tinha nascido em São Paulo, no dia 8 de julho, e não me deram mais detalhes por muito tempo. Fui criada de uma maneira estranha. Eles eram controladores, não gostavam que eu saísse muito de casa, praticamente só tive convívio familiar até a adolescência. Perto da idade adulta, disse aos meus pais que queria ir ao Brasil para me entender melhor. Sempre me senti fora de lugar. Então, eles me contaram a história toda. Minha mãe tinha perdido alguns bebês antes de eu chegar e os dois achavam o processo de adoção legal lento demais. Por isso, pagaram uma pequena fortuna, que não sei calcular, a uma senhora brasileira que me entregou a eles. 
O que eu sei é que minha mãe biológica era muito jovem, tinha por volta de 17 anos, quando engravidou. Acredito que ela morasse em uma fazenda no Paraná. Meu pai biológico era um homem notável, casado e com três filhos. Tiveram um relacionamento na década de 80, e ela acabou ficando grávida. Teve de esconder sua gravidez e procurar por uma solução. Aparentemente, ela teve a ajuda de um padre, que lhe sugeriu deixar o bebê para adoção. Creio que foi acolhida em uma casa para mães jovens solteiras. Me deu à luz entre o final de junho e o começo de julho por cesariana, em Curitiba. Fui trazida em um fusca azul para São Paulo, e de lá fui levada para a França.
Não sei se fui roubada de minha mãe biológica. Tenho a sensação de que esse é um episódio difícil não só para mim, mas para ela. Gostaria de encontrá-la para lhe dizer ‘não se sinta culpada. Por favor, vamos nos encontrar, eu adoraria lhe contar minha história’. Também gostaria de conhecer meu pai biológico, para ver as semelhanças que temos, já que nunca consegui ver meus traços em outras pessoas. Kharla não é meu nome de registro, mas uso este porque não quero ser facilmente identificada. Manter meu nome em sigilo é importante, pois a senhora que me traficou ainda está viva e mora em Fortaleza. Sei que ela levou cerca de 200 crianças para a Europa e para os Estados Unidos. Depois que eu descobri a verdade, tive uma depressão profunda por cinco anos. As pessoas mentiram para mim. É muito difícil seguir em frente sem saber de onde eu vim. Espero que quem leia isso não cogite fazer uma adoção ilegal. É impossível construir sua felicidade fazendo tanto mal a um bebê. Hoje, moro em Paris, mas pretendo aprender português e mudar para Curitiba.”  


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