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domingo, 9 de dezembro de 2012


Marcela Sempertégui: a mãe que busca a filha vítima de tráfico humano

A advogada boliviana e líder do MNR, partido que faz oposição ao governo de Evo Morales, procura pistas de Zarlet, de 17 anos, desaparecida desde junho deste ano
MARCELA SEMPERTÉGUI ACREDITA QUE SUA FILHA FOI VÍTIMA DE UMA REDE DE TRÁFICO DE PESSOAS
(FOTO: LUCIANA BORGES/MARIE CLAIRE)

por Ludmila Vilar

Em junho deste ano, a advogada boliviana e líder do MNR, partido que faz oposição ao governo de Evo Morales, Marcela Martinez Sempertégui, 39 anos, teve o pior dia de sua vida. Ela esperava em casa Zarlet, sua filha de 17 anos, chegar da escola para almoçar. Vivendo em La Paz isso pode ser um hábito para alguns, pois a cidade é relativamente pequena. Uma, duas, três horas, muitas chamadas no celular depois – e nada. Seis meses desde então e nada. Marcela acredita que sua filha foi sequestrada no caminho da escola para casa. Não exclui a hipótese de o crime ter sido motivado por razões políticas. “Há oposicionistas sendo perseguidos na Bolívia. Um senador boliviano, inclusive, está refugiado na embaixada do Brasil”, diz. Acredita mais, no entanto, numa segunda alternativa: tráfico humano.


A advogada tem quase certeza de que sua filha foi levada por pessoas ligadas ao narcotráfico para trabalhar nas plantações de coca. No último mês de agosto a OMI (Organização Mundial da Imigração) divulgou um estudo apontando que o tráfico de mulheres aumentou substancialmente na América Latina. O estudo adverte que, apesar de o principal objetivo do tráfico de mulheres ainda ser a exploração sexual, também há diversos casos de exploração laboral, mendicância e extração de órgãos, assim como a exploração dos filhos das vítimas. Já o Departamento de Estado dos Estados Unidos estima que 27 milhões de pessoas sejam vítimas atualmente do que já é chama de “escravidão moderna”.

Desde o sequestro de Zarlet, Marcela transformou-se num das principais vozes mundiais a batalhar para que as vítimas desse crime não sejam jamais esquecidas. Ela abandonou todas as suas atividades profissionais e todos os dias busca pela filha. Além das inúmeras buscas que já fez junto com a polícia, Marcela juntou-se a outras famílias que passam pela mesma situação e organizou vigílias, passeatas, todo o possível para chamar atenção ao assunto. E, principalmente, para cobrar atitude do governo boliviano que, segundo ela, mostra-se omisso nas buscas por Zarlet e pelas outras vítimas desse crime. “Acontecem cerca de cinco, seis sequestros como esse todos os dias em La Paz. Por que não fazem nada?” Ela esteve no Brasil para participar do evento "Women in the World", que aconteceu em São Paulo no último dia 4, e conversou com Marie Claire. Leia a entrevista:

MC Acredita que sua filha foi levada por sequestradores que a viram e perceberam uma oportunidade fácil de capturar mais uma vítima ou acha que o sequestro foi planejado?
MS Ainda não foi possível definir em que circunstâncias ocorreu o sequestro. Pode ter sido um sequestro político ou um sequestro ao azar. Não importa. Hoje, porém, luto contra o ministério do governo que se opõe a que eu possa continuar as investigações para recuperar minha filha. Sou líder de oposição, mais ou menos conhecida por minhas atividades políticas e meu partido foi derrubado em 2003, após um golpe de Estado. Sem dúvida, quem permaneceu no partido, continuou pelos jovens e pelas mulheres, o resto é perseguido político que teve de sair da Bolívia. Mesmo que tenha sido um sequestro comum, estou lidando com muitos dados e detalhes que não convém ao governo. Isso porque na Bolívia a rota do tráfico de pessoas é a mesma do narcotráfico. E aí é que esbarro com interesses maiores.

MC Você disse que o governo de Evo Morales pode estar protegendo os traficantes que, supostamente, sequestraram sua filha. Por que diz isso?
MS Na Bolívia há muitas plantações de coca. Uma porcentagem desses cultivos são legais, destinados ao uso tradicional da folha, como a produção do chá. Esses cultivos legais se encontram na zona de Chungas. Na região de Chapare, os cultivos são ilegais e destinados à produção de cocaína para o narcotráfico. O que não se entende é porque ninguém, nem policiais, nem militares conseguem entrar nessa região. Assim, parece que o governo tem relação com esses traficantes. Além do mais, sabe-se que ali se concentram outros tipos de delitos. A região serve não só para o narcotráfico, como para depósito de automóveis roubados no Chile e no Brasil, além de receber as vítimas do tráfico humano (supostamente para trabalhar nas plantações ilegais).

MC O que diz sua intuição?
MS Sinto que minha filha está viva e que vou encontrá-la. Mas há dias que sinto tanta dor por imaginar o que ela está passando neste exato momento. Deixei tudo que fazia para buscá-la junto com os investigadores. Há noites, quando recebemos chamadas que nos dão pistas sobre Zarlet, que acompanho os policiais para participar da operação. Como não tenho certeza sobre o que aconteceu exatamente, checamos todos os tipos de denúncia que nos fazem. Só assim podemos comprovar e descartar todas as hipóteses. Visitei milhares de lugares, casas, discotecas, bordéis. É outro mundo que estou conhecendo nessa empreitada. As denúncias vêm de todas as partes do país e vou lá pessoalmente checar.

MC A polícia está fazendo o trabalho dela direito?
MS Há um setor que está fazendo toda a investigação comigo. Porém, já não confio no departamento de polícia que supostamente existe para investigar o tráfico humano. E não confio porque houve vazamento de informação. Creio que estão organizados, que recebem suborno.

MC Você sabia que o tráfico humano era um perigo do qual sua filha poderia ser vítima?
MS Muita gente se aproximou de mim para dizer que me entendia porque conhecia a minha situação. Hoje na Bolívia não apenas os jovens mais pobres são vítimas desse tipo de crime como também os de classe média. Só que as pessoas não denunciam, nem se manifestam publicamente, porque sentem medo de serem as próximas vítimas ou de que outra pessoa da família seja sequestrado. Outro dia eu estava com um jornalista francês e recebi ameaças de que sequestrariam meu filho mais novo. Há jovens que conseguiram escapar dos sequestradores e ele nos contam que os meninos são levados geralmente para pisar a coca. A maioria das mulheres de classe média é capturada para transportar a droga. Elas são obrigadas a ingerir a droga em cápsulas e levar a outros países. As moças mais pobres, geralmente, são levadas para exploração sexual.

MC Como está o pai de Zarlet? 
MS Ele está devastado. Os homens são emocionalmente mais fracos. Nos divorciamos quando Zarlet tinha um ano e ele vive em outra cidade. Mas eles têm uma boa relação, ela passa férias com a família paterna. No entanto, imagino que, como ele não conviveu muito com a filha, se sente muito culpado.

Acompanhe aqui a luta de Marcela Sempertégui na busca por sua filha: www.facebook.com/EncontremosAZarlet

http://revistamarieclaire.globo.com/MC-Contra-o-Trafico-Humano/noticia/2012/12/marcela-sempertegui-mae-que-busca-filha-vitima-de-trafico-humano.html

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