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domingo, 3 de novembro de 2013

Nas olimpíadas da vida.

 (Foto: Mônica El Bayeh)
(Foto: Mônica El Bayeh)

Por Mônica El Bayeh

Festas de escola tem um quê de inferno e paraíso, já notou? Começa pela circular. Aquela que fica quinze dias rolando no fundo da mochila. Só chega na sua mão na noite da véspera do evento. Isso porque você escuta um movimento diferente e pergunta sobre o assunto.


A circular, agora transformada em um papel sebento e todo amassado, está completamente ilegível e dá nojo de pegar. Também, depois de quinze dias rolando no fundo da mochila, o papel é quase um lanche. Nela, grudados uns restos de biscoito, paçoca. Mais fácil comer do que ler.


Você tenta um diálogo civilizado com a criatura. Mas desiste : eles nunca sabem horário de nada. Onde vivem? A cabeça não foi junto para a escola? Junte três meninas. Pergunte o horário do início e observe. Serão três respostas diversas. Enlouquecedor. Experimente.


Ano passado ela ia ser o Bob Espoja, mascote da turma.


Refiz todo o meu horário de consultório. Qual não foi minha surpresa ao ver a calça quadrada do Bob Esponja acabando de sair da quadra enquanto eu entrava na arquibancada! Perdi a performance de minha mascote preferida. Começava meia hora antes do avisado por ela! Meia hora quando a turma é a primeira a se apresentar? Igual enterro. Atrasou, perdeu! Já era.


Em se tratando de Olimpíada escolar, o assunto é um pouco mais complicado do que uma simples festa. Porque é uma semana de função. Com direito a abertura e encerramento. Muitos dias de cornetas, tambores e pandeiros e a vaga impressão de que nunca mais você terá sua antiga audição restaurada.


Lanço aqui uma sugestão para as escolas que fazem essa espécie de atividade. Que as olimpíadas se estendam também aos pais, com tarefas que valham pontos e ajudem a somar na hora do computo geral. Na verdade as tarefas já existem. E nós já as executamos bravamente. Só falta valerem também.


Por exemplo, conseguir uma vaga para estacionar. É tarefa hercúlea! Você dá toda a volta , quando vê está na saída. Não pode voltar. Tem que sair da escola onde você quer ficar, pegar outras ruas, um retorno , entrar de novo na escola e recomeçar a busca. Devia valer como tarefa máster e contar muitos pontos para a turma. Algo tipo Premium Platinun.


Conseguir um lugar para sentar e assistir à abertura dos jogos também. Com classificação: Sentou no meio, bem posicionado, vale 10 pontos. Parabéns. Sentou na primeira fila onde todos passam o tempo todo na sua frente e pisam no seu pé, vale dois no máximo. A tarefa seguinte é arrumar desculpas para fugir do trabalho e torcer nos jogos dos filhos. Conta pontos? Deveria.


Está lá ansiosa. O time é um zero à esquerda. Sua filha é a goleira. Um frango atrás do outro. Entram três frangos, você se encolhe. Ela pega uma, você grita, levanta, se sacode. Só falta fazer dancinha. Ao final ainda diz que jogou muito bem. Quanto vale? Tem que valer alguma coisa, ou então me deem um floral, um rivotril na veia , qualquer coisa que ajude a suportar. Premium ouro série gold!


Você senta junto com seus amigos, sem lembrar que a filha deles é de outra turma, portanto: rival. Eles comemoram felizes os frangos sofridos de sua filha. Porque o frango de um é o gol do outro. Você engole o xingamento e sorri amarelo. Vale quanto?


Para piorar, a filha se desentende com outra do mesmo time e já está quase chorando. Não pular na quadra e enfiar porrada na outra criança devia valer todos os pontos. Só não pulei lá porque a grade era alta. Ver sofrendo e não poder fazer nada porque ele é que tem que aprender a se defender nos frangos da vida...não tem preço. Alma retorcida de dor, sorriso falso nos lábios? Tarefa super premium máster. É o mínimo.


Apesar de tudo e mesmo não valendo nada , eu adoro. É muito legal ficar ali observando como gostam da escola. Ver o brilho no olhar dos alunos, a felicidade que eles emanam. Compensa.


Consolar a filha que perdeu. Vibrar com as conquistas que teve. Perceber que ela está crescendo. Vale tudo, vale qualquer coisa. A grande lição dessas olimpíadas é que estamos todos juntos na grande olimpíada da vida.


Disputamos, sim. E em várias modalidade, mas não uns com os outros. Disputamos com nossos medos, inseguranças, falsas incapacidades. E como na olimpíada escolar: é comparecer, jogar, dar a cara a tapa, ganhar ou perder, rir ou chorar. Isso é vida! Melhor isso que perder por W.O.


perfil Mônica El Bayeh - blog da Ruth (Foto: ÉPOCA)

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