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domingo, 1 de novembro de 2015

'Se profeta Maomé estivesse vivo, ele seria feminista', diz líder muçulmano


Para Carlos Meneses, diretor do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro, não há fundamentos na religião muçulmana que justifiquem discriminação das mulheres e violência jihadista: 'isso é anti-islâmico'
Carlos Meneses, diretor do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro (Foto: Stefano Figalo / BdF)
Carlos Meneses, diretor do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro (Foto: Stefano Figalo / BdF)
Desde os atentados às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, a religião muçulmana, também chamada de islã, é alvo de preconceito e discriminação. É comum as pessoas associarem seus praticantes ao terrorismo.

No entanto, o líder muçulmano Carlos Meneses, diretor do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro, esclarece que essas pessoas que usam o Islã para justificar ações violentas não conhecem os verdadeiros ensinamentos do profeta Maomé.
“Pessoas matam e degolam em nome de Deus, mas não tem nada de religioso nisso. Isso é anti-islâmico”, destaca Carlos Meneses. Sobre os grupos terroristas que atuam na Síria e no Iraque, o religioso afirma que não há fundamentos religiosos que justifiquem a violência praticada por eles. 
“O nome é Estado Islâmico, mas de islâmico não tem nada. Lá no alcorão está escrito que a guerra não é coisa de Deus. Vejo o Estado Islâmico muito mais como um movimento político organizado. Existe um interesse econômico muito grande naquela região”, afirma Carlos Meneses.
Busca religiosa
Engenheiro de formação, Carlos é brasileiro, estudou a vida inteira em escolas católicas e converteu-se ao islamismo xiita ainda bem jovem. A religião sempre esteve presente em sua vida de alguma maneira. E a escolha pelo islã não foi por acaso.
“Sempre senti a necessidade de acreditar em algo. Toda essa criação à nossa volta tem um sentido. Não é possível que a gente esteja aqui só para viver e morrer. O islã me chamou a atenção porque ele não nos afasta da ciência”, explica o religioso. Em várias partes do alcorão há referências ao conhecimento científico.
Para esclarecer essas e outras questões sobre o islã, Carlos e outros praticantes fundaram o Centro Cultural. Lá são realizadas palestras e rodas de conversas sobre a religião e a sua história.
Al Jazeera English / Flickr CC

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As mulheres e o islã
Outro ponto que Carlos faz questão de esclarecer é sobre o papel da mulher no islã. Em muitos países, como Arábia Saudita, algumas regiões do Iraque e Afeganistão, elas são proibidas de estudar, trabalhar, dirigir e sair na rua sozinha, entre outras coisas.
Porém, o muçulmano garante que essa é uma prática equivocada da religião. “O próprio profeta, quando se casou pela primeira vez, casou com uma mulher que trabalhava. Sua esposa era comerciante, ele trabalhava pra ela e assim continuou. Se o profeta Maomé é o exemplo que o Alcorão nos mostra, essa atitude contradiz os fatos históricos”, ressalta.
Para ele, a Arábia Saudita é o exemplo máximo de intolerância contra a mulher. Lá mulher não pode estudar. “Outra contradição histórica. O profeta falava para a sua filha: aprenda para que você possa ensinar outras mulheres. No Irã, 70% das vagas universitárias são ocupadas por mulheres. E é um país muçulmano”, diz Carlos Meneses.
Para o religioso, a discriminação da mulher em países de maioria muçulmana é mais uma questão cultural que religiosa. “Se o profeta Maomé estivesse vivo ele seria feminista. Porque ele vem de uma época em que a mulher era contada junto com o gado. Se a primeira filha fosse mulher, ela era enterrada vida. O profeta Maomé proíbe essas práticas”, garante Carlos.
Nos países onde as mulheres são discriminadas e submissas aos homens, prevalece a questão cultural sobre a religiosa, como afirma o líder xiita. “Tentam usar a religião para justificar algumas coisas. Há um grande movimento de governos de cada vez mais tentar apagar o papel da mulher na História”, alerta.

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