Para Carlos Meneses, diretor do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro, não há fundamentos na religião muçulmana que justifiquem discriminação das mulheres e violência jihadista: 'isso é anti-islâmico'
Carlos Meneses, diretor do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro (Foto: Stefano Figalo / BdF)
Desde os atentados às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, a religião muçulmana, também chamada de islã, é alvo de preconceito e discriminação. É comum as pessoas associarem seus praticantes ao terrorismo.
No entanto, o líder muçulmano Carlos Meneses, diretor do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro, esclarece que essas pessoas que usam o Islã para justificar ações violentas não conhecem os verdadeiros ensinamentos do profeta Maomé.
“Pessoas matam e degolam em nome de Deus, mas não tem nada de religioso nisso. Isso é anti-islâmico”, destaca Carlos Meneses. Sobre os grupos terroristas que atuam na Síria e no Iraque, o religioso afirma que não há fundamentos religiosos que justifiquem a violência praticada por eles.
“O nome é Estado Islâmico, mas de islâmico não tem nada. Lá no alcorão está escrito que a guerra não é coisa de Deus. Vejo o Estado Islâmico muito mais como um movimento político organizado. Existe um interesse econômico muito grande naquela região”, afirma Carlos Meneses.
Busca religiosa
Engenheiro de formação, Carlos é brasileiro, estudou a vida inteira em escolas católicas e converteu-se ao islamismo xiita ainda bem jovem. A religião sempre esteve presente em sua vida de alguma maneira. E a escolha pelo islã não foi por acaso.
“Sempre senti a necessidade de acreditar em algo. Toda essa criação à nossa volta tem um sentido. Não é possível que a gente esteja aqui só para viver e morrer. O islã me chamou a atenção porque ele não nos afasta da ciência”, explica o religioso. Em várias partes do alcorão há referências ao conhecimento científico.
Para esclarecer essas e outras questões sobre o islã, Carlos e outros praticantes fundaram o Centro Cultural. Lá são realizadas palestras e rodas de conversas sobre a religião e a sua história.
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As mulheres e o islã
Outro ponto que Carlos faz questão de esclarecer é sobre o papel da mulher no islã. Em muitos países, como Arábia Saudita, algumas regiões do Iraque e Afeganistão, elas são proibidas de estudar, trabalhar, dirigir e sair na rua sozinha, entre outras coisas.
Porém, o muçulmano garante que essa é uma prática equivocada da religião. “O próprio profeta, quando se casou pela primeira vez, casou com uma mulher que trabalhava. Sua esposa era comerciante, ele trabalhava pra ela e assim continuou. Se o profeta Maomé é o exemplo que o Alcorão nos mostra, essa atitude contradiz os fatos históricos”, ressalta.
Para ele, a Arábia Saudita é o exemplo máximo de intolerância contra a mulher. Lá mulher não pode estudar. “Outra contradição histórica. O profeta falava para a sua filha: aprenda para que você possa ensinar outras mulheres. No Irã, 70% das vagas universitárias são ocupadas por mulheres. E é um país muçulmano”, diz Carlos Meneses.
Para o religioso, a discriminação da mulher em países de maioria muçulmana é mais uma questão cultural que religiosa. “Se o profeta Maomé estivesse vivo ele seria feminista. Porque ele vem de uma época em que a mulher era contada junto com o gado. Se a primeira filha fosse mulher, ela era enterrada vida. O profeta Maomé proíbe essas práticas”, garante Carlos.
Nos países onde as mulheres são discriminadas e submissas aos homens, prevalece a questão cultural sobre a religiosa, como afirma o líder xiita. “Tentam usar a religião para justificar algumas coisas. Há um grande movimento de governos de cada vez mais tentar apagar o papel da mulher na História”, alerta.
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