Maria Silvia Bastos Marques é primeira mulher anunciada no primeiro escalão do Governo interino
HELOÍSA MENDONÇA
São Paulo / Brasília
Após ser duramente criticado pela ausência de mulheres em seu gabinete, o presidente interino Michel Temer escolheu Maria Silvia Bastos Marques para comandar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Marques, administradora e com mestrado e doutorado em economia, já foi diretora no próprio banco nos anos 90, atuou como secretaria de Finanças da Prefeitura do Rio de Janeiro e foi a única mulher a ocupar a presidência da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), maior empresa do setor na América Latina privatizada nos anos 90.
O convite para comandar o banco - uma dos maiores instituições de desenvolvimento no mundo e que financia a maioria dos investimentos das empresas no Brasil - foi aceito nesta segunda-feira, segundo assessores do presidente interino. Temer espera com a nomeação diminuir a repercussão negativa de sua escolha por escalar somente homens para os altos cargos. O anúncio oficial do nome de Marques deve ser feito nesta terça-feira, quando o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciará toda a equipe econômica, inclusive o novo presidente do Banco Central (BC). Até o início deste mês, Marques era assessora especial das Olimpíadas na Prefeitura do Rio de Janeiro. Antes, havia chefiado estatal ligada aos Jogos. Ela assumirá o comando do BNDES no lugar de Luciano Coutinho, que ocupava o cargo desde 2007.
O ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), negou que a escolha tenha sido uma resposta às críticas pela falta de diversidade, que também ecoaram na imprensa estrangeira. É a primeira vez que um ministério exclusivamente masculino no Brasil desde o Governo Ernesto Geisel (1974-1979), na ditadura. “É um convite para colocar alguém competente, experiente, que tem toda condição de fazer um grande trabalho no BNDES, então o presidente Michel entendeu de convidá-la. E eu considero uma ótima escolha”, disse, segundo a Agência Brasil. Na sexta, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, culpou os partidos por não terem indicado nenhuma mulher e, neste domingo, Temer disse em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, que procurava "uma representante do mundo feminino" para a Secretaria da Cultura.
Controvérsia com Moraes
A segunda-feira, segundo dia útil do Governo interino, também foi de desencontro público em Brasília. Temer teve de lançar nota de esclarecimento em uma área em que tenta evitar controvérsias a todo custo: a da Justiça. Em uma entrevista publicada pela Folha de S.Paulo, o ministro da pasta, Alexandre de Moraes, defendeu que o procurador-geral da República, que tem como uma de suas funções investigar crimes do Governo, seja escolhido pelo presidente, como está previsto na Constituição, e não o nome mais votado pela categoria, como se tornou tradição nos Governos do PT.
"O presidente da República tem essa liberdade constitucional [de indicar o procurador-geral que não foi eleito pela categoria]", disse Moraes. "O poder de um Ministério Público é muito grande, mas nenhum poder pode ser absoluto", disse ele. O atual procurador, Rodrigo Janot, assumiu papel fundamental na investigação da Operação Lava Jato, denunciando, inclusive, o do ex-presidente Lula e o do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. O mandato dele termina em setembro de 2017, quando um novo nome assumirá.
A possibilidade de que o Governo mude a regra recente de indicação causou polêmica especialmente porque opositores de Temer afirmam que uma das intenções será a de tentar barrar as investigações da Lava Jato que podem implicar seus aliados. Um ministro é alvo de inquérito da Operação e outros dois são citados na delação premiada da construtora OAS.
Depois da publicação da entrevista, Temer afirmou por meio de sua assessoria que o critério de escolha dos últimos anos será mantido, caso o impeachment de Dilma Rousseff se confirme e ele permaneça na Presidência da República. Mais tarde, o próprio Moraes afirmou, em nota, que não havia conversado com o presidente interino sobre o assunto e que apenas havia feito "uma análise da previsão constitucional", que destaca a autonomia de escolha do presidente. A controvérsia remete a Geraldo Brindeiro, que foi procurador-geral de 1995 a 2003, nos Governos FHC e Lula. Brindeiro foi apelidado de "engavetador-geral da República", por supostamente não levar adiante investigações contra o Governo, o que ele sempre negou.
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