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quinta-feira, 19 de maio de 2016

"No Brasil, existe uma resistência à presença da mulher na política"

Luiza Carvalho ONU Mulheres  (Foto: divulgação)












Relatório inédito da ONU Mulheres revela que, no Brasil, as mulheres respondem por apenas 9% dos cargos legislativos

THAIS LAZZERI
18/05/2016
Há dois dias da votação do Impeachment pelo Senado, numa terça outonal de céu azul sem nuvens, a brasileira Luiza Carvalho, recém- chegada a Brasília, esperava para mostrar os resultados de um relatório mundial inédito. Desde outubro de 2014, Luiza está à frente do diretório regional da ONU Mulheres para a América Latina e Caribe. Um dos capítulos do relatório não poderia ser mais atual e pertinente, a paridade democrática na América Latina – ou a participação de mulheres na política. “Nenhum país fez o que devia pela mulher. A desigualdade não foi eliminada nem superada”, ela diz. E Luiza nem sabia o que estava por vir. 

ÉPOCA: Qual a situação do Brasil no ranking?
Luiza Carvalho: O Brasil está no pior lugar do ranking de mulheres na política, ao lado de Belize e Haiti, com vexatórios 9% de mulheres em cargos legislativos. Apesar dos países ratificarem normas garantindo 30% dos cargos para mulheres, a máquina política interrompe a ascensão feminina. O Brasil adotou as cotas, mas os partidos nunca tiveram determinação para adotá-las. No Brasil, como em outros países, existe uma resistência à presença da mulher na política, com base em achismos que não fazem sentido.

ÉPOCA: O que impede a mulher de crescer dentro dos partidos?
Luiza Carvalho:
 Já ouvimos que a maternidade atrapalha, que mulher não traz voto nem dinheiro ao partido. Mas mulher não faz filho sozinha. Sobre os votos, basta olharmos para outros casos no mundo, como o Canadá (o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, escolheu igualmente o número de homens e de mulheres ministros).  

ÉPOCA: Uma das ambições descritas no relatório é a paridade democrática, ou seja, o mesmo número de representantes mulheres e homens. Por que o equilíbrio é importante? É uma missão possível em países em desenvolvimento?
Luiza Carvalho: As pessoas precisam estar representadas no governo. Para tanto, as mulheres têm de estar lá. Se é possível? É sim, e não apenas de nações desenvolvidas, como já falei. Na Bolívia essa é uma realidade. No México e na Nicarágua, a participação feminina está aumentando. O Brasil é um sinalizador para a América Latina. 

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