- 27 maio 2016
Vladimir Putin está visitando o Monte Athos, na Grécia, para comemorar o milésimo aniversário da presença da Igreja Ortodoxa Russa na península de 335 quilômetros quadrados.
Trata-se de um lugar bastante incomum: é possivelmente a maior área no mundo onde mulheres - e até mesmo animais do sexo feminino - estão proibidas de entrar.
Para tentar visitar o local, é preciso ser homem e entregar uma cópia do passaporte ao Bureau de Peregrinos do Monte Athos. Todos os dias, apenas 100 fiéis ortodoxos e 10 não ortodoxos são admitidos para uma estadia de três noites em um dos 20 mosteiros da península.
O veto é levado bem a sério. Mulheres têm de ficar para trás enquanto seus companheiros de viagem embarcam nas balsas disponíveis em um dos dois portos próximos - elas precisam manter uma distância mínima de 500 metros da costa, banhada pelo mar Egeu.
Graham Speake, autor do livro Mount Athos: Renewal in Paradise (Monte Athos: Renovação no Paraíso, em tradução literal), explica que a regra estabelecida no século 10 determina que animais fêmeas estão proibidas, mas nada diz sobre mulheres.
"Isso porque todos sabiam que elas não podem entrar em mosteiros masculinos."
O motivo é simples, conta ele: assegurar o celibato. O que torna Athos diferente dos outros lares de monges, acrescenta, é o tamanho: toda a península funciona como se fosse "um grande mosteiro".
Mas há uma outra razão, desta vez ligada às crenças ortodoxas, para manter as mulheres distantes.
"Uma das tradições é que a Virgem Maria desembarcou em Monte Athos após sair da rota rumo ao Chipre. E gostou tanto do lugar que suplicou a seu filho que o desse a ela, e ele concordou", afirma Speake.
"A área ainda é chamada de 'o jardim da mãe de Deus', dedicada à sua glória. E ela sozinha representa seu sexo em Monte Athos."
Isso vale para humanos e animais domésticos - exceto gatos.
"Há muitos gatos, o que é provavelmente uma coisa muito boa, já que são bons caçadores de ratos. Os monges fecham os olhos, por assim dizer, para o fato de que há gatas também."
A regra traz complicações. Uma delas é que produtos derivados de leite e ovos precisam ser trazidos de fora.
"Eles comem muitos laticínios. Há um pouco de queijo... eles gostam bastante de queijo em saladas", diz Speake. "Os monges têm ovos na Páscoa - ovos de galinha que pintam de vermelho. Precisam importá-los, já que não há galinhas."
Como são quase impossíveis de controlar, os animais selvagens ficaram de fora do veto.
Mais flexíveis - mas só com os homens
Por outro lado, as normas para o time masculino foram ficando mais flexíveis no decorrer dos anos.
"A regra de hoje e sempre é que os homens precisam ser capazes de deixar crescer uma barba se estão indo a Athos. E havia uma proibição de eunucos e garotos durante o período Bizantino", conta Speake.
O temor era de que uma mulher pudesse fingir ser um menino ou um eunuco e, assim, entrar clandestinamente.
"Hoje os meninos podem, mas só se acompanhados por um adulto - em geral o pai. Eu já vi uns de até 10 anos de idade. E os monges são muito simpáticos com eles. Gostam da presença de crianças."
Regra burlada
A despeito da proibição, algumas (poucas) mulheres já visitaram a península.
Durante a Guerra Civil Grega (1946-1949), Monte Athos garantiu refúgio a rebanhos de camponeses, e mulheres e garotas fizeram parte de um grupo que invadiu o local em busca desses animais.
Anos depois, em 1953, a visita de três dias da grega Maria Poimenidou - que se vestiu como um homem - levou o país a aprovar uma lei que proíbe a entrada de mulheres em Athos, sob uma pena de até um ano de prisão para quem desrespeitá-la.
Mais recentemente, em maio de 2008, quatro mulheres moldávias foram deixadas ali por traficantes ucranianos de pessoas. Elas rapidamente foram detidas - um policial disse que os monges as perdoaram.
Esta é a segunda visita de Putin ao Mosteiro de São Pantaleão. Na primeira, em 2005, a maioria dos peregrinos era grega. Mas agora, conta Speake, pelo menos metade dos 40 mil visitantes são russos.
Segundo ele, o megamosteiro tem espaço para 500 hóspedes.
Outros lugares onde mulheres não podem entrar
Templo de Sabarimala, no sudoeste da Índia. Não recebe mulheres entre 10 e 50 anos - ou seja, aquelas com idade em que teoricamente poderiam estar menstruando. Campanhas estão tentando derrubar essa proibição na Suprema Corte do país.
Monte Omine, no Japão. A área é considerada sagrada pelo Shuguendô, uma religião popular. Lá, os seguidores testam sua fé por meio de desafios físicos extenuantes.
Herbertstrasse, rua de prostituição em Hamburgo, na Alemanha. Em sua entrada, lê-se: "Proibida a entrada de jovens de menos de 18 anos e mulheres". Lá, prostitutas se exibem em vitrines, como ocorre no bairro da Luz Vermelha, em Amsterdã.
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