- 15 maio 2016
Um grupo de ex-ministras e ex-secretárias francesas publicou uma declaração na qual elas afirmam que não ficarão mais caladas sobre o assédio sexual no ambiente político.
O documento, publicado no diário Journal de Dimanche, é assinado por 17 mulheres que ocupam ou ocuparam altos cargos no governo. Entre elas, está Christine Lagarde, chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) e ex-ministra das Finanças do país europeu.
O manifesto vem à tona poucos dias depois de o vice-presidente da Assembleia Nacional, Denis Baupin, renunciar ao cargo na esteira de uma série de acusações de que teria assediado colegas.
Casado com a ministra da Habitação, Emmanuelle Cosse, Baupin nega ter cometido atos impróprios. Ela não é uma das signatárias do texto.
Na declaração, as ex-ministras pedem que a legislação sobre assédio sexual fique mais severa, além da instalação de áreas especializadas em postos policiais para lidar com esse tipo de denúncia.
Elas dão alguns exemplos de constrangimentos sofridos. Citam que Fleur Pellerin, ministra da Cultura da gestão François Hollande entre 2014 e fevereiro desde ano, raramente era alvo de assédio até ser indicada para o cargo.
Porém, após seu primeiro compromisso no governo, diz o relato, ela foi questionada por um jornalista sobre ter sido nomeada para o cargo porque “é uma mulher bonita”.
Confira alguns trechos do manifesto:
- “Como todas as mulheres que entraram em esferas antes exclusivamente masculinas, nós temos de lutar contra o sexismo.”
- “Você não pode dizer a uma mulher, independente de seu status, ou de ela ser uma funcionária, uma estudante, uma moradora de rua, uma dona de casa ou uma política: ‘Além de ter seios grandes, como ela é?’. Você não pode dizer a ela: ‘Sua saia é muito longa, precisa ser encurtada’, ou ‘Você está usando uma calcinha fio-dental?’”
- "Mulheres precisam poder trabalhar, andar nas ruas e usar o transporte público sem ser alvo de comentários ou mãos. Nós não deveríamos ter de dizer isso de novo e de novo. Nós não deveríamos ter de escrever esta declaração.”
Carícias e mensagens
“Eles se sentem no direito de rir e fazer gestos indesejados, como acariciar uma mulher nas nádegas”, afirmou Yvette Roudy, ex-ministra dos Direitos das Mulheres e outra signatária, ao canal de TV francês La Chaine.
“Algumas mulheres não ficam tão ofendidas, mas outras se sentem tão insultadas que agora estão se pronunciando. É hora de as mulheres pensarem sobre isso e deixarem claro que elas não estão sendo elogiadas, mas sendo efetivamente tratadas como prostitutas.”
Denis Baupin acariciou uma integrante do Partido Verde e enviou mensagens sexuais a outras, de acordo com relatos concedidos na última semana à imprensa francesa por ex-colegas de legenda.
A rádio France Inter afirmou que as mulheres decidiram denunciá-lo após ele anunciar apoio, em março, a uma famosa campanha de combate à violência contra a mulher.
Sandrine Rousseau, porta-voz do Partido Verde, o acusou de apalpar seus seios em um corredor e tentar beijá-la.
Escândalos envolvendo assédio sexual ganharam grande notoriedade na França em 2011, após Dominique Strauss-Kahn, ex-chefe do FMI, ser preso em Nova York sob a suspeita de estuprar a funcionária de um hotel. As acusações foram retiradas depois.
Em março de 2012, se tornou alvo de outra polêmica depois de a polícia francesa dar início a uma investigação sobre suspeitas de que ele estava envolvido com uma gangue que gerenciava prostitutas. Strauss-Kahn acabou inocentado.
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