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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Uma mulher que mudou a vida de várias: o que ela fez com meninas na África é lindo

por Redação
Theresa dando entrevista em seu campo de atuação
As mulheres são capazes de mudar o mundo e Theresa Kachindamoto é prova disso. De acordo com a rede de televisão do Catar Al Jazeera, nos últimos três anos, a supervisora de um distrito do país africano Malawi conseguiu anular cerca de 850casamentos infantis apenas em sua região e ainda levou todas as crianças de volta à escola.

Casamento infantil: dados mundiais 

De acordo com a UN Women, entidade das Nações Unidas para igualdade de gênero e de empoderamento das mulheres, uma pesquisa feita pelas Nações Unidas em 2012 revelou que mais da metade das meninas do Malawi se casavam antes dos 18 anos. Esta taxa deixou o país em oitavo lugar entre os 20 países com as maiores taxas de casamentos infantis do mundo.
O casamento precoce fazia com que apenas 45% das meninas continuassem na escola após a oitava série. Com pouco estudo, elas acabavam ficando mais vulneráveis à violência doméstica.
Stella Kalilombe casou aos 16 anos e engravidou aos 18
Comprovado este cenário, Bernadetta Matison, uma garota de 17 anos, disse em entrevista à UN Women que abandou a escola depois de engravidar logo após o casamento, quando tinha 15 anos. Segundo conta, hoje consegue ver que o casamento não melhorou sua vida, como imaginava que aconteceria, e que faltam até mesmo itens básicos de higiene em sua casa. Essa declaração evidencia a ilusão das meninas de que o casamento é uma forma de tirá-las da miséria.
Os casamentos infantis são mais comuns nas áreas rurais, porque em regiões assim é mais comum que os pais queiram que suas filhas saiam logo de casa, afim de diminuir os gastos da família. Vale ressaltar que o país africano é um dos mais pobres do mundo e o seu IDH está entre os menores - ele ocupa a posição de número 160 na lista de 182 países.
Quem é Theresa Kachindamoto?
Theresa Kachindamoto é uma líder feminista que se tornou autoridade no Malawi. Ela trabalhou por 27 anos como secretária em uma faculdade na cidade de Zomba e voltou ao Malawi para se tornar "chief", que é como eles chamam as autoridades locais. Ela foi escolhida por ser “boa com as pessoas”, como ela mesma lembra, e, desde então, visita casas de famílias para entender os problemas que as os locais enfrentam, afim de pensar em soluções para que eles melhorem de vida. Ela assumiu como supervisiona sênior no país há 13 anos e tem como seus subordinados 50 subchefes que a apoiam em suas ações para coordenar mais de 900 mil pessoas. 

Fim do casamento infantil 

Mulher jovem que casou ainda criança já com um filho no colo
Em 2015, o parlamento de Malawi aprovou uma lei que proíbe o casamento antes dos 18 anos. Porém, de acordo com a constituição, crianças e adolescentes ainda podem se casar quando há consentimento dos pais.  Por isso, a chefe distrital decidiu ir além.
Theresa chegou a fazer vários apelos para que os pais das meninas as mantivessem nas escolas, explicando que garotas instruídas podem até mesmo enriquecer a família. Mas as respostas que a líder mais ouviu eram que ela não tinha o direito de passar por cima das tradições e que sendo mãe de 5 rapazes, não podia se meter na educação de meninas.
Ao perceber que não conseguiria mudar o pensamento dos pais em relação ao casamento infantil, ela decidiu mudar a lei em seu distrito.
Para isso, reuniu os 50 subchefes do distrito para que eles assinassem um acordo que abolia o casamento precoce e também anulasse todos os casamentos infantis já realizados na área em que ela é responsável. 

Violência sexual

A líder feminista também conseguiu abolir rituais que iniciam meninas sexualmente, sendo, às vezes, menores de 7 anos, e que são intitulados "rituais de limpeza". Entre os procedimentos comuns nesses rituais estão: ensinamento sobre como agradar os homens, como realizar danças excitantes e até a realização de atos sexuais com o professor.
As meninas que passavam por esses rituais mas retornavam para casa intocadas eram entregues a “hienas” – são chamados assim os homens contratados pelos pais para tirar a virgindade da filha ou potenciais maridos.
De acordo com a Unicef, uma em cada cinco meninas e um a cada sete meninos de Malawi são vítimas de violência sexual. O estudo feito indicou que a maioria dos abusadores são pessoas em quem as crianças confiam e, geralmente, são da família, como tios, padrastos e pais.

Anulação de casamento

As anulações promovidas por Theresa já estão trazendo esperança para as mulheres daquele país. Stella Kalilombe, de 21 anos, disse à UN Women que se casou aos 16 anos e que durante estes anos sofreu com o seu relacionamento abusivo, mas que sobreviveu e agora quer voltar a ter uma vida normal. “É por isso que eu decidi voltar para a escola, para moldar o futuro, um futuro de esperança, paz e felicidade para a minha família”, comemorou.
Mesmo após o acordo firmado com os subchefes, Theresa ficou sabendo que quatro deles ainda permitiam os casamentos infantis. A líder os demitiu e realizou a readmissão somente após eles realizarem as anulações dos casamentos. Depois disso, ela conseguiu aprovar uma lei municipal que proíbe o casamento infantil.

Ameaças de morte

Theresa dando entrevista em campo















Theresa chegou a ser ameaça de morte, mas em nenhum momento voltou atrás. “Eu não me importo. Eu disse que não importa o que a gente discuta, mas essas meninas vão voltar para a escola”, disse Theresa em entrevista a Al Jazeera.
Muitas vezes a própria Theresa paga ou então encontra formas de conseguir dinheiro para pagar os custos escolares quando os pais não têm condições de arcar. Para checar se os pais não estão tirando as filhas das escolas, a líder feminista conta com um grupo de “mães e pais secretos” presentes em todos os vilarejos. “Eu tentei levar algumas moças da cidade para as escolas para conversar sobre o trabalho delas e servirem de exemplo para as meninas”, comenta.
Em 2015, por exemplo, ela levou deputadas de Malawi para conversar com as meninas, que logo ficaram interessadas em aprender inglês, a língua falada no parlamento. Além disso, ela também viajou com várias meninas para mostrar a elas como é a cidade, já que elas nunca tinham saído da aldeia em que vivem.
A atual luta de Theresa é para que o parlamento aumente a idade mínima para se casar de 18 para 21 anos.
“Se elas forem educadas, elas podem ser e ter o que elas quiserem”, finaliza.

Vídeo sobre casamento infantil

Em março de 2016, a Unicef divulgou um vídeo sobre casamento infantil que teve mais de 18 milhões de visualizações e chocou muitas pessoas.
No início, o vídeo parece mostrar preparativos normais para uma cerimônia de casamento, mas no final ele revela que se trata de um casamento infantil e evidencia a tristeza da noiva, que é uma criança.
Depois disso, é apresentado um dado chocante: 15 milhões de meninas menores de 18 anos vão se casar até o final do ano. A campanha divulgada no Dia da Mulher foi criada com o objetivo de promover conscientização e evidenciar a importância de conduzir ações que acelerem o fim do casamento infantil. 


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