Mulheres se masturbando são uma raridade nas telas: por que a sexualidade feminina continua escondida?
CARLOS MEGÍA
Madri
El País
Nem todos os atores ousam sugerir mudanças em um roteiro de ficção. Ainda mais se o roteirista que assina é também o produtor executivo da produção e uma das mentes criativas mais brilhantes do século XXI. A façanha vem acompanhada de coragem se essa mudança não é nada menos do que uma cena de masturbação, e você é quem deve interpretá-la, caso o pedido seja aceito. Mas estamos falando de Maggie Gyllenhaal. A atriz de filmes como Batman - O Cavaleiro das Trevas revelou em uma conversa com o The Hollywood Reporter como pediu a David Simon (The Wire) uma sequência de masturbação feminina para enriquecer seu personagem na aclamada série da HBO, The Deuce. "Quando mencionei isso a ele pela primeira vez, fingiu cuspir a água de volta no copo", disse Gyllenhaal.
A atriz interpreta uma prostituta na Nova York dos anos setenta que, insatisfeita depois de um encontro com um cliente, começa a se masturbar. Depois de terminar de beber a água, Simon aceitou a sugestão de bom grado e a cena foi gravada, mas ficou de fora do primeiro corte. Quando a intérprete soube que havia sido descartada, defendeu novamente por e-mail e pessoalmente a necessidade de incluí-la a fim de respeitar a personalidade de seu papel. Agora sabemos que esse momento, finalmente incluído na primeira temporada da série, nunca teria chegado aos televisores em todo o mundo, se não fosse o empenho de sua protagonista. "Boa. Fizemos algo feminista", pensou a atriz depois de ver o resultado.
A atriz interpreta uma prostituta na Nova York dos anos setenta que, insatisfeita depois de um encontro com um cliente, começa a se masturbar. Depois de terminar de beber a água, Simon aceitou a sugestão de bom grado e a cena foi gravada, mas ficou de fora do primeiro corte. Quando a intérprete soube que havia sido descartada, defendeu novamente por e-mail e pessoalmente a necessidade de incluí-la a fim de respeitar a personalidade de seu papel. Agora sabemos que esse momento, finalmente incluído na primeira temporada da série, nunca teria chegado aos televisores em todo o mundo, se não fosse o empenho de sua protagonista. "Boa. Fizemos algo feminista", pensou a atriz depois de ver o resultado.
Este episódio reforça o histórico de injustiças relativas à representação da sexualidade feminina em Hollywood. No caso de The Deuce, torna-se ainda mais marcante, ao se referir a uma série que tem como pano de fundo a origem da indústria pornográfica e na qual não faltam cenas de sexo, transmitida por um canal de TV a cabo com reputação de assumir riscos e endossada por um criador longe de ser um militar no conservadorismo artístico. Por que custa tanto mostrar a masturbação feminina em uma obra de ficção? Embora vários dos filmes e séries mais assistidos atualmente estejam repletos de cenas de sexo gratuito – algumas respondendo apenas ao imaginário viril –, a representação do prazer feminino por si só ainda é um tabu. Para visualizar essa lacuna, abaixo estão algumas das cenas mais inesquecíveis de mulheres que têm orgasmos sozinhas. Roteiristas, tomem nota.
Sally Hawkins - A Forma da Água
A produção mais premiada de 2018, vencedora do Oscar de melhor filme, pode ser descrita como um avanço em termos de como abordou o sexo. Não só por causa da explícita relação entre o monstro anfíbio e a protagonista, mas também porque mostra a masturbação como parte da rotina diária da faxineira muda interpretada por Hawkins. "Nós nos acostumamos a não representar a sexualidade feminina, ou a representá-la de maneira glamorosa e artificial", disse o diretor Guillermo del Toro ao site IndieWire.
Maggie Gyllenhaal - Secretária
Não é a primeira vez que a atriz de The Deuce representa uma mulher se masturbando na ficção. Já havia feito isso no subversivo filme Secretária, interpretando uma secretária que se envolve em um relacionamento sadomasoquista com seu chefe (James Spader). Mais uma vez, a atriz teve que corrigir seu diretor (Steven Shainberg), que queria que sua personagem se masturbasse sentada no vaso sanitário do banheiro do escritório. "Eu disse: 'O quê? Como me tocar dessa forma?', comentou Gyllenhaal em entrevista ao TheIndependent, revelando a falta de conhecimento do cineasta. Finalmente, a cena foi feita com a atriz de pé.
Natalie Portman - Cisne Negro
Segundo a atriz, a cena em questão causou uma sensação "muito desagradável" quando foi ver o filme na companhia de seus pais. Supomos que o Oscar posterior fez valer a pena a saia justa, mas, ao contrário do resto de sua interpretação neste drama de Darren Aronofsky, a "irrealidade" de seu orgasmo foi muito criticada por se parecer muito com a fantasia masculina típica que se tornou realidade.
Victoria Abril - Ata-me!
Uma banheira. O mergulhador de brinquedo que desafia a corrente até encontrar um obstáculo intransponível. O sorriso de Abril. Uma das cenas mais emblemáticas do cineasta Pedro Almodóvar – e, portanto, da história do cinema espanhol – não poderia ficar de fora dessa lista.
Beth Behrs - 2 Broke Girls
É especialmente complicado encontrar sequências de masturbação nas redes abertas norte-americanas. Ainda mais se falarmos de comédias dirigidas a grandes públicos. É por isso que a existência desta sequência, sugestiva mas eficaz, é relevante. Max (Kate Dennings) quer apresentar um rapaz à sua colega de quarto Caroline (Beth Behrs). Pensando que o apartamento está vazio, Max abre a porta do banheiro e encontra Caroline com as pernas abertas na banheira. "Não olhe para mim assim. Nem como se fosse a única pessoa no mundo que se masturba", responde a jovem, ignorando o fato de que seu pretendente é testemunha do ocorrido.
Naomi Watts - Cidade dos Sonhos
No filme considerado como o melhor até agora deste século, Naomi Watts se masturba pensando no personagem de Laura Harring (Rita), exibindo uma mistura de confusão, raiva e desespero. A experiência religiosa e simbólica termina com convulsões e lágrimas, muitas lágrimas, até que um telefone tocando a interrompe. David Lynch não podia criar uma cena de sexualidade convencional.
Joan Allen - Pleasantville - A Vida em Preto e Branco
Algo capaz de transformar o preto e branco em cores. Tal é a importância que a descoberta da masturbação pode ter para uma mulher adulta, de acordo com o filme de Gary Ross que retrata a metáfora de maneira explícita e literal. Depois de ser sua própria filha (Reese Witherspoon) quem descobre as maravilhas de 'trancar-se no banheiro' pela primeira vez na vida, a personagem de Allen (e o espectador) vê cada cena restante de sua existência monocromática com um processo technicolor libertador.
Maeve Jinkings - O Som Ao Redor
Uma das cenas mais marcantes da história recente do cinema brasileiro, a personagem de Maeve Jinkings, uma dona de casa, aproveita as vibrações de uma máquina de lavar roupa para se masturbar, enquanto os filhos estão na escola e ela trabalha em afazeres domésticos.
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