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sexta-feira, 1 de março de 2019

Argentina proíbe outra criança que foi estuprada de fazer aborto



niña argentina cesarea
Vista do hospital Eva Perón. MINISTÉRIO DA SAÚDE DE TUCUMÁN
Aconteceu outra vez. No final de janeiro, o Governo de Salta (extremo norte da Argentina) praticou uma cesariana em uma menina de 12 anos estuprada que pediu o aborto a que tinha direito por lei. Agora a mesma coisa ocorreu ao sul, em Tucumán, Argentina. Uma criança menor de 11 anos estuprada pelo companheiro de sua avó deu à luz um bebê de 600 gramas depois de insistir por um mês para que os médicos interrompessem a gestação. O governo provincial ignorou o pedido da menina e na noite de terça-feira, quando estava com 23 semanas de gravidez, ela foi submetida a uma cesariana em um hospital público. O bebê pesa 600 gramas e suas chances de sobrevivência são mínimas.

A menina chegou com a mãe ao hospital Eva Perón, em Tucumán, no dia 29 de janeiro. Ela disse que seu estômago doía, mas na realidade estava em uma gravidez de 19 semanas. Contou que o namorado de sua avó a tinha estuprado. Mãe e filha solicitaram a aplicação do artigo da lei que, desde 1921, permite a interrupção legal da gravidez (ILE) em casos de crianças violentadas ou quando há risco para a mãe. A ILE poderia ter sido aplicada em menos de 48 horas, mas diferentes grupos feministas denunciaram que a província atrasou o quanto pôde a decisão até que a saúde do menor tornou inevitável a cesariana.
O secretário da Saúde de Tucumán, Gustavo Vigliocco, disse à imprensa argentina que durante o processo manteve "proximidade com a menina e sua mãe". "A menina quer continuar com a gravidez", disse ele. "Avaliamos os riscos, mas ela tem estrutura grande, mais de 50 quilos." No entanto, a declaração judicial da menor, divulgada pelo jornal Página 12, contradiz o funcionário. Atendida por uma psicóloga do hospital, a vítima foi clara em seu desejo de fazer um aborto. "Quero que tirem isto que o velho colocou em mim", disse ela, sem consciência real do que estava acontecendo com seu corpo. A menina foi estuprada pelo companheiro de sua avó, que cuidava dela por ordem de um juiz. A mãe havia perdido a tutela da menor depois que seu próprio parceiro abusou de suas duas filhas mais velhas. Na terça-feira à noite, o Sistema Provincial de Saúde de Tucumán (Siprosa) emitiu um comunicado informando a decisão de interromper a gravidez da menina depois que uma juíza agiu a pedido das organizações Advogadas e Advogados do Noroeste Argentino em Direitos Humanos e Estudos Sociais (Andhes) e Cladem. Mas o texto do Ministério era confuso: terminava com um pedido para que prosseguissem com "os procedimentos necessários a fim de salvar as duas vidas". "A justiça ordenou que o protocolo seja cumprido, mas o Siprosa acrescentou essa nota com uma clara intenção de fazer pressão", diz Florencia Vallino, da Andhes.
cesárea era inevitável. "Entrei no quarto e encontrei uma menina brincando com bonecas em cima da cama", diz Cecilia Ousset, o ginecologista do sistema privado que operou a menina junto com o marido, o médico José Gigena. "Fui chamada nessa mesma manhã, mas disse que não porque sou objetora. Decidi acompanhar meu marido que não é objetor, porque sabíamos que íamos encontrar uma imagem que nos ia chocar muito”, explicou a médica ao portal de notícias minutouno.com.
Na sala de cirurgia, o casal constatou que toda a equipe médica se recusava a participar da intervenção. Viram também que o estado de saúde da menina, afetada pela hipertensão, e as semanas de gestação tornavam o aborto muito perigoso. Decidiram então realizar uma cesariana. "Era mais arriscado continuar com a gravidez do que fazer a cirurgia. Se não interrompêssemos a gravidez, essa menina morreria", disse a médica.
“Apontamos a responsabilidade do sistema, porque violou todos os direitos da menina. Ela entrou no dia 29 de janeiro e não deveria haver nenhuma dúvida na aplicação do ILE. Não queremos que isso aconteça novamente, que outra menina em Tucumán seja torturada dessa maneira", diz Vallino.

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