Parto humanizado domiciliar divide profissionais da área de saúde
Vídeo está
fazendo o maior sucesso na internet.
É a filmagem de um parto em casa, sem
anestesia e com a ajuda
de uma equipe de profissionais de saúde.
Um vídeo está fazendo o maior
sucesso na internet. É a filmagem de um parto
em casa, sem anestesia e com a
ajuda de uma equipe de profissionais de
saúde. As imagens dividem os
especialistas: é seguro ter um bebê fora do hospital?
O vídeo mostra 14 minutos de um parto que durou nove horas. Em dois meses, já
foi visto por 2,5 milhões de pessoas. Embaladas pela música de Maria Bethânia.
A mãe, Sabrina, é sanitarista e terapeuta ocupacional. Ela escolheu fazer em casa
A mãe, Sabrina, é sanitarista e terapeuta ocupacional. Ela escolheu fazer em casa
o parto do primeiro filho, Lucas. Foi em novembro do ano passado, em
Campinas,
São Paulo. O pai, Fernando, participou de tudo.
“Eu me lembro que quando o Fernando me beijava e me abraçava, parece que as
“Eu me lembro que quando o Fernando me beijava e me abraçava, parece que as
contrações tomavam outro caminho”, diz Sabrina Ferigato.
A equipe de apoio tinha uma parteira, uma pediatra e duas doulas. A função de uma
A equipe de apoio tinha uma parteira, uma pediatra e duas doulas. A função de uma
doula é dar apoio emocional à gestante.
“O parto humanizado é uma forma de assistência ao casal, em que a mulher é a
“O parto humanizado é uma forma de assistência ao casal, em que a mulher é a
protagonista do próprio processo. Ela decide o lugar de parir, ela decide a
posição
que quer parir”, diz Lara Gordon, doula e responsável pelo grupo de
parto
humanizado Samaúma.
A equipe pertence a um grupo que fez mais de 200 partos assim. A parteira foi uma
A equipe pertence a um grupo que fez mais de 200 partos assim. A parteira foi uma
obstetriz, com formação apenas em obstetrícia, sem a graduação anterior em
enfermagem ou medicina.
“Aonde o bebê vai nascer vai depender porque o trabalho de parto é longo, então a
“Aonde o bebê vai nascer vai depender porque o trabalho de parto é longo, então a
gente vai no chuveiro, vai na banheira, vai na cama, vai deitar, vai
descansar, vai pra
sala, vai comer e quando o bebê está mais perto de nascer a
gente vai ficando em
um canto e armando um canto”, diz a obstetriz Ana
Cristina.
O nome é parto humanizado domiciliar. E é claro que ninguém discute a ideia trazida
O nome é parto humanizado domiciliar. E é claro que ninguém discute a ideia trazida
pela palavra "humanizado". A polêmica está na palavra
“domiciliar”.
O Conselho Federal de Enfermagem diz que o enfermeiro obstetra pode fazer o parto
O Conselho Federal de Enfermagem diz que o enfermeiro obstetra pode fazer o parto
em uma casa, desde que o ambiente apresente condições míninas de higiene.
Já o
Conselho Federal de Medicina recomenda aos médicos que realizem os partos
em
ambiente hospitalar. Lembra que em caso de complicações, há mais estrutura
para o
atendimento. E alerta que, nas emergências, o tempo perdido da casa até
o hospital
pode ser decisivo para a vida de mãe e filho.
As Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia também são contra o parto
As Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia também são contra o parto
em casa.
“O médico não está proibido de realizar o parto domiciliar, mas ele tem que estar
“O médico não está proibido de realizar o parto domiciliar, mas ele tem que estar
ciente dos riscos que esse procedimento envolve e também estar ciente de
que
ele pode ser punido pelo Conselho Federal de Medicina, caso ocorra algum
tipo de
insucesso”, diz Vera Fonseca, diretora da Federação Brasileira de
Ginecologia e
Obstetrícia.
“Não é um procedimento cirúrgico. Parto não é um ato cirúrgico. O parto é um
ato natural”, opina Jorge Kuhn. O coordenador do Departamento de Obstetrícia da
Universidade Federal de São Paulo defende o parto em casa. Mas avisa: ele só
pode
ser feito quando a gravidez é de baixíssimo risco.
“Aquelas que não apresentam nenhuma intercorrência, quer clinica, quer obstétrica,
portanto: pressão alta, diabetes, pré-eclampsia, qualquer
circunstância que possa
aumentar o risco para essa mãe ou para esse bebê”,
informa Jorge Khun.
Essa, então, é a condição fundamental para a mãe que quer fazer o parto em casa:
a gestação tem que ser perfeita. Qualquer probleminha no pré-natal é motivo
para
que a escolha seja a de fazer o parto em um hospital.
Três milhões de bebês nascem por ano no Brasil. 2,2 milhões, em hospitais públicos.
Segundo o Ministério da Saúde, a rede do SUS pode receber as mães que
querem
um parto humanitário, sim, mas não domiciliar.
“É possível, e é o que acontece no Brasil. Queremos cada vez mais, o parto
“É possível, e é o que acontece no Brasil. Queremos cada vez mais, o parto
hospitalar humanizado. Parto natural, com analgesia, com acompanhante. Mas
pode
ser, como é no Brasil, 98% dos partos são em hospitais. E é isso que o
Ministério da Saúde recomenda”, diz Helvécio Magalhães, secretário do
Ministério
da Saúde.
Em uma maternidade pública de Belo Horizonte, Ariádila seguiu todos os
procedimentos do parto humanizado, sem pressa, sem indução das contrações.
Sempre ao lado do marido. Uma hora depois, mãe, pai e filho estavam juntos.
O
bebê, no colo dela. Pelo tempo que os dois quiseram.
Em Campinas, Sabrina e Fernando levantaram a discussão, se recolheram pra
curtir o mais novo integrante da família, e já decidiram. Se vier um segundo
filho,
o irmãozinho do Lucas vai nascer em casa.
“Foi o dia em que eu me senti
mais mulher, mais linda. Por esse dia valeu a pena
ter vivido”, relata Sabrina.
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