Artes visuais auxiliam no combate ao trabalho escravo
A ONG Free The Slaves (FTS), parceira da Repórter Brasil nos EUA, mostra, em reportagem, que o uso de artes visuais vem auxiliando uma série de organizações de combate ao trabalho escravo no mundo inteiro.
“Descobrimos que figuras são bastante eficazes. Imagens permitem que pessoas sujeitas à escravidão contemporânea —ou vulnaráveis a se tornarem escravas— percebam rapidamente que a vida delas poderia ser diferente”, aponta, em nota, a ONG.
Entre alguns exemplos, a FTS cita o caso da Comissão Pastoral da Terra (CPT), no Brasil, que faz o uso de gravuras ou histórias em quadrinhos para ilustrar a trabalhadores rurais o processo de alicianmento ao trabalho análogo ao de escravo.
“Eles identificam a si mesmos quando veem os cartuns”, declara Xavier Plassat, membro da CPT, à reportagem. “Me dizem, nas próprias palavras: ‘eu me achei’”, completa.
Um dos quadrinhos utilizados pela CPT chama-se “sanfoninha”, por conta do tamanho portátil, que cabe no bolso das roupas, e da forma como é dobrado na horizontal, quadro por quadro.
"Sanfoninha", da CPT, descreve processo que alicia trabalhadores à condição de escravo |
Um dos quadrinhos utilizados pela CPT chama-se “sanfoninha”, por conta do tamanho portátil, que cabe no bolso das roupas, e da forma como é dobrado na horizontal, quadro por quadro.
Para a coordenadora do programa “Escravo, nem pensar!” da Repórter Brasil, Nathália Suzuki, a “sanfoninha” é muito eficiente do ponto de vista educativo. “O material é muito didático e explica de forma muito simples e direta aos trabalhadores como acontece o aliciamento ao trabalho escravo”, aponta.
Outros países
Fora do Brasil, outros materiais com imagens também desempenham um papel importante na luta por condições decentes de trabalho.
No Haiti, famílias de pequenos vilarejos costumam enviar os filhos para conseguir dinheiro em trabalhos domésticos nas cidades grandes — o que caracteriza trabalho infantil e, por vezes, termina em trabalho escravo. Nesse contexto, livros de figuras são usados em pequenos grupos de discussão nesses lugares para evitar a prática.
As discussões são puxadas por lideranças comunitárias treinadas pela organização haitiana Fondasyon Limyè Lavi, que tiram dúvidas e explicam como acontecem os abusos no trabalho.
“No primeiro contato com os livros, os pais logo sentem a necessidade de ter seus filhos de volta”, diz Smith Maxime, cordenador da FTS no país caribenho.
Outro material, da organização AATWIN no Nepal, conta a história de uma mulher que recebe uma oferta de emprego aparantemente interessante, mas acaba sendo levada pelo tráfico internacional de pessoas — a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima, em 2012, que 20,9 milhões de pessoas no mundo inteiro sejam vítimas do comércio de seres humanos.
Ao sair do país, a mulher é presa por não ter documentos. Quando volta para casa, no entanto, vê o traficante de seres humanos que a vendera sendo preso e processado pela Justiça e divide sua história com outras pessoas para evitar com que também se tornem vítimas.
“Imagens ajudam a criar pontes entre comunidades e ativistas de direitos humanos, tornando a aprendizagem mais acessível e interessante. A arte é particularmente eficaz em áreas onde as pessoas não sabem ler”, conclui a FTS.
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