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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Recrudesce a perseguição a homossexuais em Uganda

uganda chica Recrudesce a perseguição a homossexuais em Uganda
Sandra Ntebi, que está à frente de uma linha
telefônica de ajuda à comunidade LGBTI
em Uganda, participa da Marcha do
Orgulho Gay 2013. Foto: Amy Fallon/IPS
por Amy Fallon, da IPS

Kampala, Uganda, 25/4/2013 – “Estou exausta. Não sei por onde começar. Temos muitos casos pendentes”, afirmou à IPS a ugandesa Sandra Ntebi, enquanto atendia um celular que não parava de tocar e através do qual coordena uma linha de ajuda a lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI) a encontrar um teto seguro após serem hostilizados. “Neste exato momento, algumas pessoas estão sendo colocadas para fora de suas casas, e outras estão na prisão. A cada dia há casos semelhantes”, afirmou, em um hotel de Kampala onde está instalada.

Essa é a situação em Uganda dois meses depois que, em 24 de fevereiro, o presidente Yoweri Museveni promulgou um draconiano projeto antigay, que criminaliza ainda mais a homossexualidade nesse país do leste da África. No dia da entrevista, Ntebi havia recebido telefonemas sobre quatro novos casos de pessoas LGBTI, ou vistas como tal, vítimas de despejo por parte dos senhores da terra, de prisões ou de ataques coletivos.

No total, ela e um colega receberam até agora informações sobre cerca de 130 casos em todo o país desde que Museveni assinou a Lei Anti-Homossexualidade. A lei castiga com prisão perpétua alguns atos homossexuais, e também penaliza a “promoção da homossexualidade”, entre outras medidas. “A situação é tensa. Neste momento a lei está promovendo a violência”, destacou Ntebi. “Recebo os informes pela linha telefônica para denúncias. Depois nos sentamos para analisar os detalhes e os classificamos em despejos, prisões e ataques”, explicou.

Durante a jornada seu colega recebeu um telefonema sobre novo incidente em Hoima, no leste do país. Entre os casos que Ntebi trata há um novo ataque contra Brenda, uma trabalhadora sexual transgênero de aproximadamente 40 anos e que tem aids. Ela vive nos subúrbios da capital. Em março a fizeram “desfilar” perante a imprensa local, a apontaram como transexual, bateram nela, a desnudaram e a prenderam.

“Nós a resgatamos e Brenda voltou para sua casa na aldeia e não podia nem mesmo sair, porque as pessoas estavam do lado de fora todos os dias, esperando para atirar pedra nela”, contou Ntebi. Brenda passou a ficar na casa de uma amiga, seguindo o conselho dado pela linha telefônica de ajuda. Depois, no dia 17, apanhou novamente, foi levada para o hospital e agora se refugia em um hotel. “Estamos procurando uma moradia de aluguel para ela”, disse Ntebi.

No dia 19 de março, quando Brenda foi atacada pela primeira vez, três homens ugandeses, que se presumia fossem gays, foram atacados e internados no Hospital Mulago, em Kampala. Poucas semanas depois, disse Ntebi, uma embaixada alertou a equipe sobre o possível suicídio de uma pessoa LGBTI. No dia 3 deste mês, funcionários de inteligência forense invadiram a clínica do Projeto Walter Reed, na Universidade Makerere de Kampala. A clínica é um projeto sem fins lucrativos no qual colaboram a universidade e o programa das Forças Armadas dos Estados Unidos, para a pesquisa sobre o vírus HIV, causador da aids.

A polícia afirmou que o projeto, um dos poucos que em Kampala oferecem serviços a pessoas LGBTI com aids, “realizava recrutamento e capacitação de homens jovens em atos sexuais antinaturais”. Muitos ativistas e outros membros da comunidade gay agora estão clandestinos, segundo Ntebi, que usa um jaleco negro de uma campanha de 2006 organizada pela não governamental Minorias Sexuais Uganda, que reúne todas as entidades de homossexuais do país. As palavras Deixe-me Em Paz estão bordadas nas costas. Ntebi diz que muitos ativistas fugiram de Uganda para buscar asilo em diferentes países, enquanto a maioria das organizações LGBTI fecharam “por medo”. Agora só vai trabalhar em seu escritório quando é absolutamente essencial.

Um dos que decidiram se esconder é Beyondy, um figurinista de 23 anos. Antes, passava os dias costurando para seus clientes ou planejando trabalhos para eventos, como a segunda Marcha do Orgulho Gay do ano passado. Desde que a lei foi promulgada, Beyondy se mudou para uma precária moradia de um dormitório, em um assentamento no movimentado subúrbio de Kampala, onde quase sempre está fechado, assistindo vídeos de músicas interpretados por Beyoncé, Pink e Rita Ora. Só sai quando é imprescindível.

“Eu queria ser artista, para que as pessoas pudessem ver meu talento e me descobrissem. Mas agora penso que é impossível. Agora o assunto é sobreviver, salvar sua vida e ficar tranquilo, o tempo todo na clandestinidade”, disse à IPS. No passado, Beyondy foi “muito” atacado, e teme que voltem a agredi-lo agora que está em vigor a lei antigay. “Há pouco alguém disse: se pudéssemos escolher entre perdoar um violador e um gay, escolheríamos o violador”, contou.

Os ativistas esperam que uma petição apresentada em março para desafiar a lei dê resultados no começo do próximo mês no tribunal constitucional do país. Segundo o jornal ugandense The Observer, o governo apresentou um recurso que sustenta que a lei não viola o direito à igualdade e à liberdade de castigos cruéis, desumanos e degradantes que garante a Constituição do país.

Mas, mesmo se a lei for revogada, Beyondy opinou que será preciso muito mais do que um sentença judicial para mudar a atitude da sociedade em relação à homossexualidade em Uganda. Os ativistas ressaltam que esse país “importou” o atual clima de homofobia por intermédio de representantes ocidentais das igrejas evangélicas. Nesse clima, praticamente todos são conscientes de que podem usar a sexualidade de uma pessoa para atacá-la. “Está na mentalidade das pessoas e, mesmo que a lei seja anulada, continuarão pensando nisso”, enfatizou. Envolverde/IPS

http://envolverde.com.br/ips/inter-press-service-reportagens/recrudesce-perseguicao-homossexuais-em-uganda/

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