Marina Oliveira e Rita Trevisan
Do UOL, em São Paulo
A tecnologia imprimiu um novo ritmo às nossas vidas. Com o excesso de informações que vem de todas as partes, muitas vezes tentamos resolver questões internas e pessoais com a mesma rapidez com que absorvemos – ou tentamos absorver - essa imensa quantidade de estímulos externos. O problema é que as decisões tomadas na base do impulso, na maioria das vezes, resultam em consequências inadequadas ou inesperadas. É nesse momento que pecamos ao tentar impor limites e valores com agressividade.
"Uma reação lógica ou uma ação delicada requer muito mais esforço mental do que um impulso. Por isso, uma pessoa sobrecarregada tenderá a explodir e a se comportar com agressividade. Essa reação é a mais fácil", explica a psicóloga Terezinha Tomé Baptista, professora do departamento de psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae.
As relações que mais sofrem com essa explosão de emoções são as íntimas, aquelas que geralmente envolvem parentes muito próximos, como irmãos e pais, além do parceiro de relacionamento. "Nesses casos, geralmente, a pessoa agredida compreende o outro e até releva, por já estar acostumado", diz a psicóloga.
Tentar se impor pela força não necessariamente significa usar a violência física. A forma de falar, usando um tom de voz mais alto e um olhar de desdém ou superioridade, também representa uma agressão. Quem age dessa maneira desrespeita o outro e só leva em conta o pensamento individual. E, sem trocas, todo relacionamento perde.
"Precisamos das outras pessoas e um modelo autoritário demais mina qualquer relação" diz a psicóloga Ariane Teixeira Toubia, especializada em terapia cognitivo comportamental e saúde mental pelo Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo).
Endurecer sem perder a ternura
Palavras delicadas e firmes denotam mais força do que gritos e atitudes carregadas de agressividade, conforme afirma Terezinha. "Por vezes, a gritaria é sinal de fraqueza. É como se a pessoa fizesse muito barulho para não deixar as suas inseguranças tão visíveis", declara.
Por outro lado, ao argumentar e refletir sobre um conflito, adquire-se o controle interno, necessário para administrar as emoções e passar segurança. "Nessa situação, conseguimos dar o recado olhando nos olhos do outro, mantendo o tom de voz neutro, a postura aberta e a linguagem objetiva, ou seja, deixando claro o que queremos dizer, sem rodeios", explica Ariane.
"Às vezes, as pessoas querem que o outro adivinhe o que elas têm em mente. Se isso não acontece, estouram, porque acreditam que já era para o outro ter entendido o que elas nem sequer chegaram a sugerir por meio de suas ações", diz a psicóloga.
É preciso treino
Impor-se com delicadeza é uma habilidade que se adquire no decorrer da vida. "Trata-se de uma habilidade que tem tudo a ver com o controle emocional. Uma pessoa que perde a compostura numa discussão está sem o domínio das suas emoções. Quando você treina, é possível adquirir esse comando", diz a psicopedagoga Elisabete da Silva Duarte, coordenadora pedagógica do Colégio Nossa Senhora do Morumbi, em São Paulo.
Vale até mesmo treinar em frente ao espelho, imaginando situações difíceis. Outra ideia é escrever o que gostaria de dizer em um momento de conflito. "Muitas vezes, a pessoa tem a intenção de se impor de maneira suave, mas a ansiedade prejudica. O treino vai ajudar a criar confiança para se posicionar adequadamente em uma situação futura", afirma Ariane.
Também é interessante conversar com pessoas de confiança sobre o assunto. "Sozinho você faz autocríticas e proposições. Mas, com outra pessoa, pode compartilhar e ter referências de outros modelos de reação. Dividir torna tudo mais fácil", diz Terezinha.
Diante de uma circunstância de conflito, quando os nervos ficam à flor da pele, as especialistas são unânimes na orientação: parar, respirar e deixar para resolver o problema mais tarde, quando já tiver refletido sobre a melhor maneira de se expressar. Com o impulso controlado, você freia o ritmo interno, oferece espaço para a razão sobrepor as emoções e, então, percebe que reagir com assertividade é muito mais eficiente do que estabelecer limites a qualquer custo.
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